Pode um poema ser matéria liquida que se verte para o papel? Qual é a cor das palavras? Que margens podem comprimir a extensão do poema? E se daqui resultassem outros versos? Inaugura dia 22 de janeiro, às 18h00, na Casa Comum, uma exposição que se aventurou neste limbo. Constança Amador criou Infinitas Galáxias – Diálogos interartísticos com base na poesia de Ana Luísa Amaral.

Assim se Revisita o Coração, Retornos e Vozes foram os três poemas de Ana Luísa Amaral que funcionaram de motor impulsionador das três séries que iremos observar. As cerca de 75 obras obedeceram a um movimento, perpétuo, que estabelece relações entre o dizível, o visível e respetivas invisibilidades. “Traduzibilidade” ou “transcrição imagética” são conceitos inerentes a este domínio da ilustração de poesia. Através da cor, mas também da água que da sua fluidez constrói a matéria da tinta, as obras de Constança Amador fazem reverberar a poesia de Ana Luísa Amaral num gesto de movimentos infinitos entre “a mão que lê e o olhar que desenha o poema”.

A delimitação dos círculos foi rigorosa, convidando-nos, no entanto, a uma viagem por céus e galáxias que é sempre feito para dentro de cada um de nós. Materializada esta interpretação do estado interior da poesia, Constança Amador perpetua uma espécie de “eterno retorno” e faz gerar, de novo, a palavra. Desenvolveu um conjunto de versos que vão ser expostos, pela primeira vez, nesta exposição que apresenta na Casa Comum.

Infinitas Galáxias – Diálogos interartísticos estará em exposição na Casa Comum até ao dia 6 de abril. A exposição pode ser visitada durante a semana das 10h00 às 13h00 e das 14h30 às 17h30. Aos sábados das 15h00 às 18h00. A entrada é livre.

Constança Araújo Amador

A autora de Infinitas Galáxias – Diálogos interartísticos é licenciada em Artes Plásticas – Pintura pela Faculdade de Belas Artes da U.Porto, onde é formadora de ilustração e frequenta o doutoramento em Artes Plásticas com uma bolsa de doutoramento da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT); desenvolve o seu projeto de investigação no i2ADS / Instituto de Investigação em Arte, Design e Sociedade. É ainda mestre em ilustração e animação (IPCA), pós-graduada em gestão cultural (UPT).

Navega entre o desenho, a pintura e a ilustração de poesia contemporânea portuguesa. Tem obra publicada em livros, jornais e revistas, participando regularmente em exposições individuais e coletivas. Colaborou como arte-educadora, integrando as equipas de serviço educativo de museus e instituições como: o Museu de Arte Contemporânea da Fundação de Serralves, no Porto, o Centro de Arte da Oliva, em São João da Madeira, o Museu da Cidade, Porto e a Fundação Cupertino de Miranda, em Vila Nova de Famalicão.

Constança Araújo Amador apresenta “Infinitas Galáxias”, com base em poemas de Ana Luísa Amaral

Ana Luísa Amaral (1956-2022)

Foi professora de Literatura e Cultura Inglesa e Americana no Departamento de Estudos Anglo-Americanos da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Recitava poemas de cor durante as aulas. Foi investigadora e membro da Direção do Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa (ILCML/FLUP). As suas áreas de investigação eram Poéticas Comparadas, Estudos Feministas e Estudos Queer. Entre muitas outras iniciativas, coordenou o projeto internacional (financiado pela FCT) Novas Cartas Portuguesas: 40 Anos Depois, que envolveu 13 equipas internacionais.

A qualidade da investigação que desenvolveu valeu-lhe o Prémio Ensaio Jacinto Prado Coelho 2018 (por Arder a Palavra e Outros Incêndios), bem como a Medalha de Mérito Científico 2022 do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Desenvolveu ainda uma importante atividade enquanto tradutora, traduzindo para português a poesia de escritores como William Shakespeare, Emily Dickinson, John Updike, Louise Glück e Margaret Atwood.

Deixou uma vasta obra literária, que inclui dezoito livros de poemas (e dois livros de poesia reunida), doze títulos de literatura infantil, uma peça de teatro e uma novela. O reconhecimento internacional da sua obra resultou em múltiplas traduções de livros seus para línguas estrangeiras.

Neste ano letivo de 2023-24, a Universidade do Porto celebra a vida e obra de Ana Luísa Amaral através do Programa Comemorativo Figura Eminente U.Porto. Uma das iniciativas desse programa foi lançada pela revista PÁ – Poesia & Outras Artes, que desafiou criadores da arte da palavra, das artes plásticas, da fotografia e da imagem em movimento, do teatro, da dança e da música a responder a poemas da escritora com exercícios intermediáticos.