Uma equipa de investigadores do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto (CIIMAR-UP) revelou que as alterações climáticas estão a ter um impacto negativo na ictiofauna do estuário do Rio Minho. O trabalho, no qual estiveram envolvidos Martina Ilarri, Carlos Antunes – também diretor do Aquamuseu do Rio Minho – e Ester Dias, foi recentemente publicado na revista NeoBiota.

Os programas de monitorização ambiental longitudinais têm uma importância vital na compreensão dos sistemas ecológicos, desempenhando um papel significativo no progresso da compreensão científica e na formulação de políticas ambientais.

No caso deste projeto, a monitorização ambiental, que decorreu ao longo de dez anos, teve como grande objetivo compreender os efeitos das alterações climáticas na diversidade de peixes em Marina da Lenta, Rio Minho.

Um olhar detalhado sobre a ictiofauna do estuário do Rio Minho

O estudo, que tem como primeiro autor Allan T. Souza, investigador da Universidade de Helsínquia (Finlândia) que desenvolveu o seu doutoramento no CIIMAR entre 2008 e 2015, envolveu a recolha de 3029 amostras de peixes no período de janeiro de 2010 a novembro de 2019. O objetivo passou por contribuir para uma deteção mais precisa de alterações na dinâmica da comunidade, comparativamente a análises menos frequentes e de curto-prazo.

Avaliaram-se tanto a diversidade taxonómica como a diversidade funcional, permitindo uma compreensão holística e mais aprofundada da biodiversidade desta comunidade. Para além disso, a utilização de indicadores de diversidade funcional gera informações que permitem uma avaliação mais complexa das alterações ecológicas na comunidade de peixes do Rio Minho, identificando quais são as características dos organismos que são mais impactadas positiva e negativamente ao longo dos anos.

Este artigo é uma continuação de um estudo anterior da mesma autoria e que constatou que as espécies invasoras, como a perca-sol, a carpa-comum e a tenca, que surgiram no estuário entre 2015 e 2016, eram beneficiadas pelo aumento da temperatura e declínio da precipitação. Em contrapartida, as espécies nativas foram prejudicadas por essas mudanças das condições climatéricas.

Os resultados do novo estudo revelam ser preocupantes e vão de encontro ao já averiguado pelos investigadores. “Observámos um aumento na diversidade de espécies invasoras de peixes do estuário do Rio Minho, enquanto o número de espécies de peixes nativas diminuiu”, explicam os autores do artigo, o que, por sua vez, justifica o declínio da diversidade taxonómica e funcional registados.

Este fenómeno é influenciado pelas variações das condições ambientais e agravado pelos eventos climáticos extremos considerados. No estudo, o evento extremo mais impactante foram as ondas de calor, possivelmente, as grandes responsáveis por acelerar as mudanças observadas nesta comunidade de peixes.

Da urgência ecológica à tomada de decisões

O estudo agora publicado serve de base para compreender a resposta ecológica da comunidade de peixes estuarinos do Rio Minho. Os dados obtidos mostram claramente uma alteração na comunidade, beneficiando espécies invasoras que têm maior afinidade com condições de águas mais lentas e ricas em vegetação submersa, ao passo que espécies nativas, em especial as migradoras, são menos tolerantes às variações que ocorreram no ecossistema ao longo da última década. Idealmente, este estudo deveria servir como um incentivo a programas de monitorização ambiental.

Não há margem de dúvida: o estuário do Rio Minho está ameaçado e estas alterações não mostram sinais de diminuírem num futuro próximo. A redução da sua diversidade traduz-se numa ameaça para a saúde e equilíbrio deste ecossistema, causando graves implicações na cultura e economia locais que dependem do peixe como fonte de alimento e subsistência.

Assim, os investigadores enfatizam a urgência da implementação de ações e políticas eficientes para mitigar os efeitos das alterações climáticas e preservar o estuário, antes que mais danos irreversíveis sejam infligidos às comunidades de peixes e às populações humanas que delas necessitam.

Este trabalho foi parcialmente realizado no âmbito do projeto Migra Miño – Minho “Protecção e conservação dos peixes migratórios na conservação dos peixes migratórios no troço internacional do rio Minho e seus afluentes”, projeto co-financiado pela Agência Regional Europeia Fundo de Desenvolvimento (FEDER) através do Programa Interreg V-A, Espanha através do Programa Interreg V-A, Espanha-Portugal (POCTEP), 2014–2020.