É a sexta vez que o programa BIP PROOF, iniciativa da U.Porto Inovação, disponibiliza verba para financiar projetos inovadores na execução de provas de conceito. Serão, ao todo, seis os projetos financiados nesta edição de 2023/2024, e cada um vai receber até 10 mil euros.

O anúncio dos projetos vencedores (ver descrição abaixo) teve lugar no passado dia 27 de outubro, durante Encontro de Investigação e Inovação Abertas na U.Porto, realizado na Faculdade de Economia (FEP).

“O BIP PROOF é uma iniciativa que demonstra o que nós, na Universidade do Porto, queremos fazer: trazer a investigação para a sociedade em geral, seja em vacinas, dispositivos médicos ou tintas. Ao longo de todas as edições temos tido um pouco de tudo, e esse é, precisamente, o objetivo”, destaca Pedro Rodrigues Vice-Reitor para a Investigação e Inovação na U.Porto.

Olhando já para edições futuras, o responsável não tem dúvidas que “o BIP PROOF é uma iniciativa a manter, com hipótese de aumentar o número de projetos apoiados numa próxima edição”.

AquaBakillus: combater doenças em peixes de aquacultura

A procura por peixe para alimentação tem vindo a aumentar, o que faz da aquacultura uma atividade essencial. No entanto, a indústria está sujeita a surtos bacterianos nos peixes, o que provoca grandes perdas económicas anuais sendo, por isso, “um grande obstáculo à expansão e desenvolvimento de uma indústria sustentável”, contam os investigadores responsáveis pelo AquaBakillus. E é nesse problema que começa a nascer esta solução.

“O nosso projeto consiste no desenvolvimento de uma estratégia inovadora e sustentável para combater essas doenças nos peixes. Baseamo-nos, para isso, em microrganismos probióticos com elevada capacidade antimicrobiana: os Bacillus spp.”, explica a equipa composta por Aires Oliva Teles, Cláudia Serra, Gabriela Gonçalves, Mariana Reis, Paula Enes e Rafaela Santos, todos eles cientistas da Faculdade de Ciências (FCUP) e do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR) da U.Porto.

Esses microrganismos sintetizam múltiplas moléculas bioativas capazes de inibir os principais agentes patogénicos de peixes, atualmente responsáveis por 6 biliões de euros em perdas económicas e o AquaBakillus “vai isolar estas moléculas bioativas e testar a sua eficácia em proteger os peixes contra infeções bacterianas em peixes”, referem os cientistas. Esta é uma tecnologia de fácil produção e aplicação, e que pode ser utilizada em diferentes espécies e contra diferentes agentes patogénicos.

Os 10 mil euros conquistados no programa BIP PROOF vão permitir estabelecer a prova de conceito do “uso de moléculas bioativas como moléculas promotoras de saúde animal em aquacultura”. Vai permitir também a aquisição de consumíveis, reagentes e serviços essenciais para o aperfeiçoamento da tecnologia. É, como refere a equipa, um importante “reconhecimento e incentivo para continuar”.

O principal objetivo da equipa é contribuir para o “crescimento sustentável da aquacultura e consequente segurança alimentar”.

ECOlive: tratamento e valorização de águas ruças

As soluções propostas nas últimas décadas para tratar as águas ruças/águas residuais não são economicamente viáveis, o que, em muitos casos “conduz a descargas diretas no ambiente com consequências graves, como a contaminação do solo ou águas naturais”. São palavras dos investigadores Cristina Calheiros (CIIMAR), Verónica Nogueira (CIIMAR e FCUP) e Ruth Pereira (FCUP e Centro de Investigação GreenUPorto/INOV4Agro) ao falarem do seu projeto ECOlive, também ele financiado no âmbito do BIP PROOF.

O ECOlive é, então, uma tecnologia de tratamento e valorização de águas ruças com foco na redução do impacto ambiental numa perspetiva de economia circular, ou seja, para “promover a recuperação do substrato enriquecido para posterior utilização como possível fertilizante de solo em olivais ou outras culturas”, explicam os investigadores.

Apesar do grande investimento em investigação nesta questão nas últimas décadas, a verdade é que as principais abordagens propostas ainda estão longe de serem viáveis de forma realista, principalmente devido à eficácia e a restrições financeiras. Assim, o ECOlive chega carregado de vantagens: “as principais mais valias da utilização de soluções como esta, baseadas na natureza, são a facilidade em implementar, o baixo investimento inicial e também os reduzidos custos operacionais”, explica a equipa.

O ECOlive assume-se como um sistema ecológico com potencial para tratar vários tipos de efluentes, transformando a sua carga orgânica em subprodutos ou nutrientes menos prejudiciais.

A equipa de investigação já conseguiu desenvolver uma fito-ETAR de fluxo vertical em escala laboratorial, com plantas características de zonas húmidas para tratar as águas residuais resultantes da extração de azeite. Os resultados foram muito promissores, revelando um aumento da qualidade do efluente final e redução da toxicidade para organismos aquáticos.

Agora, com o financiamento obtido no BIP PROOF, a equipa pretende “fazer a validação da prova de conceito em ambiente relevante, em colaboração com uma empresa do setor do azeite, o que permitirá implementar um sistema Fito-ETAR junto a um lagar”, concluem.

HYDROAZEITE: valorizar águas residuais dos lagares de azeite

Alinhado com as diretrizes e necessidades emergentes da agenda 2030 da União Europeia, o projeto HydroAzeite nasceu na Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP) com o objetivo de valorizar águas residuais (águas ruças) provenientes de lagares de azeite.

“As águas ruças são efluentes poluentes derivados da produção de azeite, compostas maioritariamente por água, polifenóis, ácidos gordos e outros”, explicam os investigadores. E essas espécies, orgânicas e inorgânicas, podem ter impactos ambientais.

As soluções atuais para esta questão não são, na opinião da equipa da FEUP, ideais no que diz respeito a esse impacto. Assim, o que é proposto com o HydroAzeite é a valorização de resíduos através da reformação a vapor das águas ruças. Esta tecnologia permitirá não só remover os componentes altamente poluentes presentes nestas águas residuais, como também permitir a produção simultânea de H2, um biocombustível ambientalmente atrativo por ser renovável e por reduzir as emissões de CO2 para a atmosfera”, referem.

O maior objetivo deste projeto, que conta com a colaboração da empresa Adventech, é “otimizar e aplicar um reator híbrido multifuncional que combine a reação de reformação das AR e a remoção simultânea de CO2 (produto da reação) num único dispositivo através de um adsorvente seletivo a CO2”, algo nunca antes feito a nível industrial. Na opinião dos investigadores, utilizar este método trará inúmeras vantagens ás empresas, além de poder ainda gerar uma nova fonte de lucro devido à produção do biocombustível H2.

O valor angariado agora no BIP PROOF vai permitir a “aquisição de equipamentos para modificar uma instalação já existente, tornando-a maior, e também testar efluentes reais por longos períodos”, explicam os investigadores. O objetivo é aproximar cada vez mais a tecnologia ao mercado, uma vez que, como acrescenta a equipa, “as empresas de produção de azeite, já interessadas nesta solução, poderão verificar que este método é adequado”. Assim, com os 10 mil euros do BIP PROOF, os investigadores esperam aumentar a maturidade da tecnologia, aproximando-se da comercialização.

Da equipa, por parte da U.Porto, fazem parte os investigadores Cláudio Rocha, Luís Miguel Madeira, Miguel Angel Soria e Pedro Cerqueira, todos da FEUP. Já a Adventech está representada por Anabela Nogueira e Sérgio Castro-Silva.

NIRWall: uma solução sustentável para edifícios escuros

“A necessidade de soluções eficientes e sustentáveis é cada vez mais urgente” – é uma frase que, ultimamente, nos toca a todos, e não é exceção na equipa que desenvolveu a tecnologia NIRWall. Neste caso, falamos especificamente de revestimentos escuros para edifícios e do seu impacto no consumo energético.

Os revestimentos de cor escura em edifícios, embora sejam esteticamente atraentes, implicam uma elevada absorção da radiação solar, resultando num aumento da temperatura superficial. Isso não só degrada os materiais e reduz a sua vida útil como também se traduz num “aumento do consumo energético necessário para o arrefecimento do interior dos edifícios”, explicam os cientistas responsáveis.

Assim, o NIRWall consiste numa “estratégia de redução da absorção de radiação infravermelha, que assenta na inclusão de um nanocompósito polimérico vocacionado para colorantes escuros (usado na formulação de revestimento de acabamento), sem alterar de forma sensível o aspeto visual da superfície tratada”, referem.

O objetivo principal do NIRWall é redesenhar os sistemas construtivos de fachada, procurando contribuir para um maior conforto térmico e uma menor degradação, ambos derivados da exposição natural. A tecnologia está vocacionada para aplicação em revestimentos do setor da construção, mas também pode ser expandida para outras indústrias. Além disso, a evolução das partículas também permitirá uma expansão do tipo de cores onde é aplicável e do tipo de revestimentos compatíveis com a sua incorporação”, concluem.

Os 10 mil euros conquistados agora no BIP PROOF vão permitir a construção de um protótipo à escapa real para implementar a tecnologia, avaliar o desempenho do mesmo, definir correlações entre os possíveis efeitos da temperatura e o aumento da refletância e também apresentar a tecnologia a potenciais parceiros industriais.

A equipa por trás do NIRWall é composta por Andrea Souza (FEUP), Joana Maia (FEUP), João Ventura (IFIMUP e FCUP), Nuno Ramos (FEUP) e Rita Carvalho Veloso (IFIMUP e FEUP).

SKD: maximizar a indústria mineira (e não só)

Desenvolvido por uma equipa multidisciplinar do INESC TEC, da FCUP e da FEUP, o projeto SKD visa o desenvolvimento de soluções de espectroscopia para identificação de minerais em contexto de exploração. Isso será feito utilizando “uma arquitetura multimodal e o conceito de knowledge distillation para a obtenção de altos desempenhos”, explicam os investigadores.

O objetivo principal do SKD é a maximização da eficiência no desenvolvimento de soluções mais confiáveis para desempenho em ambiente industrial podendo, até, estender-se para aplicações de outras indústrias além da mineira.

O financiamento obtido no BIP PROOF será aplicado na “fase final de desenvolvimento do protótipo” e na “realização de testes de campo, permitindo a validação da tecnologia em ambiente relevante”, referem os cientistas. O objetivo principal é uma aproximação significativa do produto ao mercado.

A equipa por trás do SKD é composta por Alexandre Lima (FCUP), Diana Guimarães (INESC TEC), Nuno Azevedo Silva (INESC TEC), Pedro Jorge (FCUP e INESC TEC) e Tomás Lopes (INESC TEC e FEUP).

SmartInsulation: isolamento térmico dinâmico e inteligente

É fundamental apostar na redução do consumo energético dos edifícios, de forma a melhorar as condições de conforto térmico – um dos principais responsáveis pela fatura energética nos países desenvolvidos. É nesse pressuposto que nasce o projeto SmartInsulation, composto por três investigadores da FEUP: Eva Barreira, Joaquim Gabriel Mendes e Ricardo Almeida.

“Pretendemos desenvolver um sistema de parede dinâmico e inteligente, que será capaz de ajustar o seu desempenho em resposta a diferentes estímulos exteriores”, explicam os investigadores. O sistema vai garantir uma elevada resistência à transferência de calor no inverno e uma elevada capacidade de dissipação de calor no verão e está a ser projetado não só para construção nova, mas também para aplicação no “mercado de reabilitação de edifícios, alargando assim o seu potencial económico e, consequentemente, o impacto no mercado/sociedade”, explicam.

A verba angariada no BIP PROOF será aplicada para desenvolver o algoritmo de funcionamento do sistema, garantindo a sua gestão inteligente sem ser preciso que o utilizador intervenha.

A equipa vai também aplicar parte dos 10 mil euros na construção da prova de conceito, de modo a “comprovar a real eficácia do projeto em condições mais próximas das reais”.

Sobre o BIP PROOF

O programa foi criado pela U.Porto Inovação em 2018 e, nas seis edições já realizadas, distinguiu um total de 38 ideias inovadoras com 440 mil euros.

Na primeira edição, apoiada pelo projeto U. Norte Inova, o BIP PROOF financiou seis projetos com 20.000 euros. Foi nesse ano que a Fundação Amadeu Dias (FAD) se juntou ao programa, permitindo financiar mais cinco projetos com 10.000 euros para cada. A ligação da FAD ao BIP PROOF manteve-se em todas as edições.

Nos ano seguintes repetiu-se a receita de sucesso. Em 2019, foram distinguidos quatro projetos, cada um com 10 mil euros. Em 2020, o Santander Universidades juntou-se à iniciativa como patrocinador e foram eleitos seis vencedores, também com 10 mil euros. As edições seguintes (2021 2022) distinguiram 10 ideias inovadoras nascidas na U.Porto, contando com o apoio de projetos financiados (Spin-UP em 2021 e UI-TRANSFER em 2022) e também com o patrocínio da J.Pereira da Cruz em ambas as edições. O valor investido nessas duas edições ultrapassa os 100 mil euros.

O principal objetivo do BIP Proof é criar um sistema de provas de conceito. Essas podem traduzir-se em construção de protótipos de viabilidade técnica, realização de ensaios in vitro/in vivo, estudos de viabilidade ou de mercado, entre outras, para que possam contribuir para a maturação da tecnologia e aproximação ao mercado.