A investigadora portuguesa Diana Pinheiro, antiga estudante da Faculdade de Ciências (FCUP) e do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) da Universidade do Porto, conquistou uma das prestigiadas bolsas atribuídas este ano pelo European Research Council (ERC), no valor de 1,5 milhões de euros.

A atual investigadora do Instituto de Investigação de Patologia Molecular (IMP) em Viena (Áustria) está a estudar os mecanismos que regulam a formação e o desenvolvimento dos embriões. É esta investigação que será financiada ao longo dos próximos cinco anos, ao abrigo de uma das “Starting Grants 2023” do ERC.

O projeto liderado pela investigadora no IMP procura perceber como é que os tecidos ou órgãos adquirem a sua estrutura característica durante o desenvolvimento embrionário, e como a informação (ou instruções) necessária(s) para organizar este processo é transferida do nível molecular para a escala celular e eventualmente coordenada ao nível do organismo. Trata-se de um processo de organização tão complexo que “seria como tentar construir um arranha-céus com milhares de empregados sem ter um arquiteto”, explica Diana Pinheiro.

Segundo a investigadora, tal como “construir um edifício, para “construir” um embrião é preciso perceber onde e quando é preciso gerar forças físicas para movimentar as células, as unidades básicas que compõem todos os nossos tecidos/órgãos. Entender que mecanismos físicos agem para coordenar o movimento de centenas/milhares de células e, saber como estes são regulados ao nível molecular é o principal objetivo deste projeto.”

Diana Pinheiro acrescenta ainda que foi durante o pós-doutoramento que a sua equipa descobriu que “umas das vias de sinalização mais importantes para especificar a identidade celular, chamada Nodal, tem também como função organizar estas forças físicas no embrião”. Esta conclusão lança para o estudo uma nova questão:  como é que o Nodal, que atua tanto em embriões de peixe-zebra, como de ratinho ou dos seres humanos, controla as propriedades mecânicas das células e tecidos?

Por outro lado, juntamente com o seu grupo de investigação, integrado no campus do Viena Biocenter, a investigadora pretende investigar se há mecanismos de feedback – por exemplo, será que alterando as propriedades mecânicas das células ou a sua localização no tecido, isto tem impacto no acesso e interpretação destes sinais moleculares?

Apesar de parecer um pouco contraintuitivo, ao longo das últimas décadas foram identificados um pequeno número de reguladores moleculares centrais (master regulators) que atuam não só durante as fases iniciais do desenvolvimento embrionário em que a investigadora se foca, mas que são mais tarde reutilizadas para construir órgãos e no contexto de processos regenerativos ou mesmo de doenças como o cancro.

Um exemplo disto, refere Diana Pinheiro, “é a capacidade de induzir células estaminais a organizarem-se em mini-tecidos e órgãos “so-called organoids” completamente em cultura quando adicionamos estes fatores ao meio de cultura! Tudo isto indica que os princípios físicos que descobrimos para o Nodal serão provavelmente importantes para entender todos estes outros processos fundamentais e clarificar como é que o processo de desenvolvimento é coordenado.”

“Um sinal de reconhecimento”

Esta e muitas outras questões serão importantes para a investigação em curso e, para tal, conta com o apoio da ERC que a ajudará a expandir a sua equipa de investigação, bem como, contratar novos investigadores que poderão trabalhar em vários aspetos do projeto em simultâneo. Tal revela-se essencial porque permitirá criar sinergias e massa crítica de forma mais acelerada.

Para a premiada, “ver o projeto reconhecido é também um sinal de reconhecimento para a comunidade científica e potenciais candidatos, o que nos torna mais competitivos para contratar estudantes e pós-doutorados da maior qualidade. Finalmente, permite ao laboratório ter uma estabilidade financeira a médio prazo, o que é muito importante para manter a nossa competitividade”.

Para além bolsa destinada a Diana Pinheiro, o ERC atribuiu este ano mais quatro Starting Grants a projetos em curso em instituições científicas portuguesas e outas duas a cientistas nacionais a desenvolver o seu trabalho no estrangeiro.

Sobre Diana Pinheiro

Diana Pinheiro é licenciada em Bioquímica pela FCUP e pelo ICBAS, tendo ainda completado o prestigiado Programa Doutoral em Biologia Básica e Aplicada (ICBAS) pelo ICBAS e pela Universidade Pierre e Marie Curie (França).

Membro efetivo e Líder de Grupo no Instituto de Investigação em Patologia Molecular (IMP), em Viena da Áustria, foi bolseira de Pós-Doutoramento, de 2017 a 2022, no Instituto de Ciência e Tecnologia da Áustria (ISTA), Klosterneuburg.

Entre os inúmeros prémios científicos conquistados contam-se o «PhD Fellowship Award»atribuído pela FRM -Fundação para a Investigação Médica (2016), o «PhD Award: Os Grandes Avanços Franceses em Biologia, atribuído  pela Academia Francesa de Ciências (França), o «PhD Award: Nine Choucroun-Fondation Edmond de Rothschild», atribuído pela Fundação Edmond de Rothschild, França (2017), e duas Bolsa de Longa Duração atribuídas, em 2018, pelo Human Frontier Science Program (HFSP) e pela Organização Europeia de Biologia Molecular (EMBO).

Em paralelo com a atividade cienítífica, Diana Pinheiro tem particular interesse em atividades de sensibilização junto de jovens e minorias éticas. Prova disso é a sua participação em inciativas como o Native Scientists (http://www.nativescientist.com/), um programa que tem como objetivo de inspirar alunos de minorias étnicas a prosseguir estudos superiores, e que foi recentemente premiado com o “Prêmio Internacional de Alfabetização” pela UNESCO.