O arquiteto portuense Fernando Távora (1923-2005), figura indissociável da ‘Escola do Porto’ e da Arquitetura portuguesa na segunda metade do século XX, nasceu a 25 de agosto de 1923. O centenário do seu nascimento é o mote para um vasto programa de iniciativas – designado por Távora 100-, organizado pela Ordem dos Arquitectos (OA), a Fundação Marques da Silva (FIMS), a Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto (FAUP), o Departamento de Arquitectura da Universidade de Coimbra (DARQ) e a Escola de Arquitectura, Arte e Design da Universidade do Minho (EAAD).

Entre exposições, colóquios, aulas abertas, encontros, visitas guiadas, mapas, livros e workshops, o programa de comemorações evoca, enaltece e pretende eternizar a sua figura e legado, em Portugal e além-fronteiras, nomeadamente enquanto professor nestas três universidades, onde contribuiu para a criação de cursos superiores de Arquitetura.

Tendo como núcleo central a exposição itinerante “Fernando Távora. Pensamento Livre”, uma iniciativa da Fundação Marques da Silva, detentora do acervo profissional do arquiteto, Távora 100 vai agregar diversos colóquios, aulas abertas e visitas guiadas a obras de Távora. Previsto está também um vasto conjunto de outras iniciativas, organizadas pelas diferentes instituições parceiras, como lançamentos de livros, encontros, workshops e edição de mapas.

As comemorações, que se prolongam até setembro de 2024, arrancaram no passado dia 24 de agosto com o regresso à “Casa dos 24” para a inauguração da exposição “A Urgência da Cidade”. A antiga Casa da Câmara, situada no Morro da Sé, agora reaberta na véspera do centenário, tendo Fernando Távora como responsável pela recriação contemporânea que se traduz na imagem que ainda hoje este espaço simbólico apresenta.

Com coordenação geral de Jorge Sobrado, a exposição, que visa a história da cidade do Porto, o lugar e a iconografia do poder municipal, ficará patente ao público até 29 de outubro. Um projeto e obra profundamente simbólicos, inseparáveis da cultura universalista, do interesse pela História e da personalidade vanguardista característica do mestre e fundador da chamada “Escola do Porto”.

Sete obras. Uma exposição. Três cidades

A exposição principal “Fernando Távora. Pensamento Livre”, comissariada por Alexandre Alves Costa (coordenador), Ana Alves Costa, Jorge Figueira, José António Bandeirinha, Luís Martinho Urbano e Maria Manuel Oliveira, destacará, por sua vez, sete obras da autoria de Távora que marcaram não só o seu percurso profissional como a Arquitetura portuguesa.

A Casa de Ofir, o Mercado da Vila da Feira, o Pavilhão de Ténis na Quinta da Conceição, a Escola do Cedro, a Pousada de Santa Marinha da Costa, o Anfiteatro da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra e a Casa dos 24 são os projetos que estarão em destaque.

A inauguração desta iniciativa, agendada para outubro de 2023, terá lugar na Fundação Marques da Silva, no Porto, e viaja depois até Coimbra, em fevereiro de 2024, onde estará patente no Departamento de Arquitetura da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (DARQ). Segue-se Guimarães, em maio de 2024, onde poderá ser visitada na Escola de Arquitetura, Arte e Design (EAAD), estando ainda em aberto se depois segue para a Assembleia da República, em Lisboa.

“Organizar este conjunto de iniciativas para assinalar o centenário de nascimento desta figura maior da cultura e Arquitetura portuguesas foi um enorme desafio para a Secção Regional Norte da Ordem dos Arquitetos (OASRN) que não poderíamos deixar de abraçar. O arquiteto portuense Fernando Távora teve e tem, indiscutivelmente, uma ligação muito particular ao norte de Portugal, onde se localizam, aliás, a maioria das suas obras e onde lecionou em várias escolas, tendo contribuído para a valorização da Arquitetura enquanto um direito para todos os cidadãos”, refere Conceição Melo, Presidente da OASRN.

Fátima Vieira, presidente da Fundação Marques da Silva e Vice-Reitora da U.Porto responsável pelos pelouros da Cultura e Museus, salienta que “foi com enorme gosto e muita responsabilidade que nos envolvemos nesta organização, juntamente com a Ordem dos Arquitectos e as restantes entidades, para levar até aos portugueses e aos jovens arquitetos obras e alguns detalhes inéditos da vida e obra de Fernando Távora, figura detentora de uma personalidade ímpar que influenciou sucessivas gerações de arquitetos e é, ainda hoje, uma verdadeira inspiração.”

O BPI e a Fundação “la Caixa” são mecenas do programa Távora 100, que conta com os apoios do DST Group, CIN e Efapel.

Toda a programação pode ser consultada em tavora100.pt

Sobre Fernando Távora

Figura determinante na afirmação do Porto enquanto escola de referência no ensino da Arquitetura em Portugal, Fernando Távora (1923 – 2005) notabilizou-se como estudante da Escola de Belas-Artes do Porto – escola fundadora das atuais faculdades de Arquitetura e Belas Artes da U.Porto –, pela qual se diplomou em 1952, com 19 valores. Começava aí um percurso impar como docente universitário, intimamente ligado à Escola Superior de Belas Artes do Porto (ESBAP), onde começou a lecionar; e à FAUP, que ajudou a criar (foi Presidente da Comissão Instaladora).

Portuense de gema, arquiteto do mundo, Fernando Távora destacou-se pela visão inovadora que procurou afirmar da arquitetura, refletida num forte sentido de responsabilidade social e na importância atribuída ao programa e à funcionalidade da obra.

Foi, de resto, essa escola, que viria a “contagiar” Siza Vieira, Souto Moura, entre outros dos seus discípulos, que imprimiu numa obra arquitetónica da qual o Mercado Municipal de Santa Maria da Feira (1953-59), a Casa de Férias no Pinhal de Ofir, em Fão (1957-1958), a reabilitação do Centro Histórico de Guimarães (1985-1992), a ampliação das instalações da Assembleia da República, em Lisboa (1994-1999) ou o restauro do Palácio do Freixo, no Porto (1996-2003) são exemplos paradigmáticos.

Em 2013, Fernando Távora foi homenageado pela Universidade do Porto, que o escolheu como Figura Eminente da U.Porto 2013.