A investigadora Ana Rita Araújo, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), foi recentemente distinguida pela European Molecular Biology Organization (EMBO) com uma “Scientific Exchange Grant”, que lhe permitiu realizar trabalho experimental na área do envelhecimento no prestigiado European Research Institute for the Biology of Ageing (ERIBA), em Groningen, nos Países Baixos.

A investigadora encontra-se a desenvolver o seu projeto no grupo “Ageing and Aneuploidy” do i3S, liderado por Elsa Logarinho, que se foca em compreender como é que as células envelhecidas abrandam o seu ciclo celular, perdem a capacidade proliferativa (de se dividirem) e acabam por se tornar senescentes. O principal objetivo deste projeto, explica Ana Rita Araújo, “é perceber como é que o envelhecimento se estabelece a nível molecular, que é um enigma até ao momento”.

Recentemente, adianta a investigadora, “foram estabelecidas técnicas de microscopia no nosso laboratório que permitiram desvendar que o ciclo celular nas células envelhecidas é mais demorado devido ao aumento do tempo que as células permanecem em todas as fases do ciclo celular, e não apenas numa fase em particular”.

“O aumento do tempo do ciclo celular também acontece durante o desenvolvimento embrionário. Nas primeiras divisões dos embriões, quando as células se encontram num estadio pluripotente, são muito rápidas, porque o seu principal objetivo é crescer em termos de quantidade, mas depois, especifica Ana Rita Araújo, “quando se inicia o processo de diferenciação, as células que constituem o embrião aumentam o tempo que permanecem no ciclo celular, uma vez que nesse momento o mais importante é manter a integridade celular.

Para a investigadora, estas evidências “suportam a ideia de que o ciclo celular poderá reorganizar-se duas vezes durante a nossa vida, ou seja, há dois momentos da vida de um ser vivo em que as fases do ciclo celular se tornam mais longas: quando as células embrionárias começam a diferenciar-se e, mais tarde, quando as células iniciam o processo de envelhecimento”.

Na procura de respostas para um “envelhecimento saudável”

Com o objetivo de tentar compreender como é a que a maquinaria do ciclo celular se reorganiza e consegue orquestar ciclos celulares tão distintos, Ana Rita Araújo concorreu à EMBO com um projeto que visa identificar diferenças na expressão génica dos principais reguladores do ciclo celular das células jovens e das células envelhecidas.

“O desvendar deste mistério é essencial para descobrirmos a assinatura molecular do envelhecimento e abrir portas para a pesquisa de novas terapias e biomarcadores que podem ser inerentes às diferentes doenças associadas ao envelhecimento, como cancro e doenças neurodegenerativas por exemplo”, sustenta.

Com esta bolsa a investigadora teve a oportunidade de trabalhar no laboratório do investigador Floris Foijer que é especializado em ciclo celular e sequenciação de RNA em células individuais, possuindo um vasto conjunto de técnicas e métodos de análise automatizados e bem estabelecidos que, sublinha Ana Rita Araújo, “vão permitir responder a muitas das questões que existem neste momento, bem como lançar novas perguntas para projetos futuros”.

Para a investigadora, que pretende conciliar a carreira científica com a carreira médica, esta troca de conhecimentos fomentou uma parceria entre os dois grupos, que “será muito importante para a consolidação desta linha de investigação que tem como principal objetivo promover, melhorar e aumentar o tempo de envelhecimento saudável”.