Uma caldeira, um catálogo de aparelhos de Química e uma fotografia do Laboratório de Química de 1925. Os três objetos “contam” uma parte importante da história da Química e podem ser apreciados, durante o mês de agosto, no átrio de entrada do edifício da Reitoria da Universidade do Porto. A iniciativa integra-se na homenagem da U.Porto ao químico Ferreira da Silva, no ano em se assinala o centenário da morte do “pai” da Toxicologia Forense em Portugal.

Arrancou no passado dia 17 de julho este programa dinamizado em parceria com a Sociedade Portuguesa de Química e o Agrupamento de Escolas Dr. Ferreira da Silva, com o objetivo de celebrar uma vida dedicada à investigação, ao ensino e à análise química.

Enquanto Diretor do Laboratório Químico da Academia Politécnica, mais tarde Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, e do Laboratório Municipal, António Joaquim Ferreira da Silva (28 de julho de 1853 – 23 de agosto de 1923) desempenhou um papel crucial no ensino, na investigação mas também na vida da cidade. É a ele que se deve o início da fiscalização as condições da higiene pública. Ferreira da Silva preveniu fraudes alimentares e realizava análises toxicológicas do foro médico-legal.

No átrio da Reitoria vai estar exposta uma peça que, como explica Marisa Monteiro, curadora dos instrumentos científicos do Museu de História Natural e da Ciência da U.Porto (MHNC-UP), é “representativa da atividade de Ferreira da Silva como docente”. Trata-se de uma caldeira desenhada por um químico alemão que sentia “as mesmas preocupações didáticas”.

Tendo lecionado durante 20 anos em Londres, no Royal College of Chemistry, A. W. Hofmann (1818-1892) desenhou um conjunto de aparelhos para demonstrações experimentais em contexto de sala de aula e deu um forte contributo para o desenvolvimento da Química Orgânica. Os aparelhos que desenhou passaram a integrar a sua obra Einleitung in die Moderne Chemie a partir da 4ª edição (1869).

Marisa Monteiro é a curadora dos instrumentos científicos do MHNC-UP. (Foto: U.Porto)

Feita de ferro, com cerca de 30 centímetros de altura, esta caldeira seria posicionada dentro de uma espécie de anel, com três hastes, uma espécie de mesa que a segurava em altura. Por baixo, colocava-se um bico de gás que aquecia a água. A forma bojuda, que se vê, permitia acumular o vapor que era, depois, canalizado para um conjunto de tubos. Assim se conseguia medir a densidade do vapor.

Este aparelho fazia parte de um conjunto de quase vinte que Ferreira da Silva mandou vir de um fabricante alemão. Estava na Academia Politécnica há apenas dois anos quando solicitou os aparelhos. O pedido foi aceite no ano seguinte. O aparelho pode ver-se no Catálogo de aparelhos de Química (Preis-Verzeichniss über Chemische Apparate) que vai também estar exposto.

Já na fotografia do Laboratório de Química Geral, Inorgânica e Orgânica, de 1925, também em exposição, podem ver-se os aparelhos em primeiro plano, assim como a caldeira, ao fundo. A fotografia (Alvão, Lda., Porto), foi cedida pelo Centro Português de Fotografia.

As  comemorações do centenário da morte de Ferreira da Silva vão estender-se até junho de 2024, através de um programa de atividades abertas a toda a população.