Um consórcio europeu liderado por uma equipa portuguesa do Instituto de investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) recebeu recentemente um financiamento de quase três milhões de euros atribuído pelo Conselho Europeu de Inovação (EIC) Pathfinder Challenge, no âmbito do programa Horizonte Europa. Denominado «Blood2Power», o projeto tem como objetivo desenvolver dispositivos médicos vasculares inteligentes capazes de enviar alertas antes das falhas se verificarem, permitindo, assim, uma intervenção médica precoce e evitando um novo evento cardiovascular.
Liderado pela investigadora Inês Gonçalves, este consórcio integra mais três parceiros – o Instituto de Física dos Materiais da Universidade do Porto (IFIMUP), sediado na Faculdade de Ciências (FCUP), a Universidade de Navarra, em Espanha, e a Universidade Médica de Viena, na Áustria – e pretende diminuir a mortalidade causada por doenças cardiovasculares, que é de 16,8 milhões de óbitos/ano em todo o mundo.
Embora o uso de stents e próteses vasculares para reestabelecer o fluxo sanguíneo de artérias obstruídas tenha melhorado o prognóstico destas doenças, estes dispositivos falham frequentemente sem aviso prévio, muitas vezes com efeitos catastróficos para o paciente.
“No âmbito deste projeto de três anos, queremos desenvolver a próxima geração de dispositivos médicos vasculares, introduzindo o conceito de próteses vasculares inteligentes com capacidade de gerarem energia e auto-monitorizarem o seu desempenho”, explica Inês Gonçalves.
Em caso de diminuição de desempenho destas novas próteses vasculares, “são enviados alertas ao sistema de saúde, o que permitirá uma intervenção médica precoce, antecipando a falha da prótese, por formação de um coágulo, e evitando um novo evento cardiovascular, por exemplo um enfarte do miocárdio”, acrescenta a investigadora, líder do grupo «Advanced Graphene Biomaterials». Desta forma, os cuidados médicos passarão a ser contínuos e não episódicos.
Trabalho em equipa
Para alcançar esta tecnologia pioneira, adianta Andreia Pereira, que também integra a equipa do i3S, “serão desenvolvidos novos nanogeradores triboelétricos biocompatíveis (TENG), que convertem a energia mecânica do corpo em energia elétrica”. Estes nanogeradores serão feitos em colaboração com os investigadores João Ventura e André Pereira, do IFIMUP.
“Será também desenvolvida uma unidade de gestão de energia e sistema wireless miniaturizada e de ultrabaixo consumo, que será acoplada à prótese vascular, permitindo armazenar a energia gerada e recolher e transmitir os dados para um dispositivo eletrónico externo (ex. smartphone/relógio)”, esclarece Andreia Pereira. Esta componente contará com a colaboração de uma equipa da Universidade de Navarra, liderada pelo investigador Andoni Beriain.
O desempenho da nova prótese vascular inteligente será validado num modelo animal com a colaboração da investigadora Helga Bergmeister, da Universidade Medica de Viena. O projeto conta também com um conjunto de consultores clínicos, que ajudarão a desenvolver um produto que responda às necessidades dos pacientes e dos médicos.
Além das investigadoras Inês Gonçalves e Andreia Pereira, a equipa do i3S, que irá receber mais de 1,1 milhões de euros, integra dois estudantes de doutoramento, Duarte Moura e Helena Ferreira, estando ainda prevista a contratação de mais quatro jovens investigadores.
Apostar na inovação
Para Inês Gonçalves, o financiamento atribuído pela Conselho Europeu de Inovação “valida a recente aposta do grupo numa área inovadora de investigação, impulsionada pela Andreia Pereira, que visa a geração de energia para dispositivos cardíacos eletrónicos”.
Por outro lado, permite “reforçar a equipa que está a trabalhar no desenvolvimento de biomateriais e dispositivos médicos para aplicações cardiovasculares”.
Além disso, acrescenta a investigadora, “teremos assim mais um grande projeto internacional no grupo para apoiar o desenvolvimento e a transferência de uma tecnologia desde a ciência fundamental até um produto que poderá vir a beneficiar a sociedade”.