O cientista português Tiago Beites, doutorado e licenciado em Biologia pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) descobriu uma proteína com potencial no combate à tuberculose. Os resultados do trabalho deste investigador que trabalha na Faculdade de Medicina da Universidade de Cornell, em Nova Iorque, foram recentemente publicados na prestigiada revista científica Nature Communications.
O que este alumnus da FCUP e a sua equipa na Weill Cornell Medicine encontrou foi uma nova forma de eliminar a bactéria Mycobacterium tuberculosis (também conhecida como bacilo de Koch), responsável pela tuberculose.
Trata-se de uma bactéria que ataca sobretudo os pulmões e depende dos ácidos gordos e do colesterol do hospedeiro como fonte de energia para a sua sobrevivência e proliferação. Já se sabia da existência de uma enzima que consegue metabolizar esses ácidos gordos do corpo humano: a acil-coenzima A desidrogenase (acil-CoA desidrogenase).
“Mas esta enzima faz parte de uma cadeia mais complexa, que regula a sua função”, explica Tiago Beites, em declarações ao Diário de Notícias. O biólogo da FCUP descobriu que existe uma proteína que integra essa espécie de teia enzimática sem a qual a acil-CoA não é capaz de ter a sua normal atividade. Ou seja, “deixa de ser capaz de se alimentar dos ácidos gordos” e a bactéria acaba por morrer, de acordo com o verificado através de testes in vitro e em modelo animal (ratinhos).
De acordo com o que noticia o DN, esta descoberta abre, assim, uma nova via terapêutica para o combate à tuberculose. Manipulando geneticamente a bactéria para lhe retirar o gene dessa proteína ETFD, “a mesma deixou de conseguir replicar-se em modelos de infeção pulmonar de ratinhos e ao fim de 56 dias estes conseguiram erradicá-la do organismo”, explica o investigador de 37 anos. Para além disso, não só o bacilo de Koch deixou de conseguir alimentar-se dos ácidos gordos, como estes acabaram por se tornar tóxicos para a própria bactéria, uma das novidades deste estudo.
Este é o resultado de um trabalho de seis anos que Tiago Beites tem estado a desenvolver praticamente desde que rumou a Nova Iorque em 2015. A descoberta pode agora ser um passo importante, por exemplo, para o desenvolvimento de um antibiótico.
“O que descobrimos foi um novo componente da bactéria (da tuberculose) que é necessária à sua vida para conseguir multiplicar e resistir ao sistema imunitário. É como se fosse o ‘tendão de Aquiles’ da bactéria. Agora, as pessoas da indústria farmacêutica podem pegar no conhecimento que nós geramos e tentar desenvolver um antibiótico que iniba esse componente especifico”, resumiu, em entrevista ao jornal “O Minho”.