Dois projetos do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) foram recentemente aprovados no âmbito do “Concurso para Projetos de Investigação Científica e Desenvolvimento Tecnológico em todos os Domínios Científicos – 2020”, da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).
Um dos projetos intitula-se Complicações neurodegenerativas pós COVID-19, e propõe-se a Avaliar os efeitos neurológicos a longo prazo da infeção pelo vírus SARS-CoV-2 .
Coordenado pelo investigador Vítor Tedim Cruz, o projeto vai avaliar, mais concretamente, a ocorrência de sintomas neurológicos, nomeadamente, a perda de olfato e de paladar, as alterações de sono e o declínio cognitivo, assim como novos casos de doença de Parkinson e demência, na população coberta pela Unidade Local de Saúde de Matosinhos e pelo Centro Hospitalar Entre o Douro e Vouga, em Santa Maria da Feira.
A investigação vai comparar a incidência do declínio cognitivo nos sobreviventes da COVID-19 e nas pessoas sem evidência de infeção prévia pela SARS-CoV-2, ao longo de dois anos, desde janeiro de 2020.
Como explica o investigador, “o desenho longitudinal com uma monitorização de pelo menos dois anos permitirá avaliar a evolução temporal destas complicações e os potenciais efeitos neurológicos a longo prazo da infeção pelo SARS-CoV-2”.
Medir o impacto da crise na habitação
O outro projeto aprovado explora um tema diferente. Coordenado por Ana Isabel Ribeiro, o estudo vai medir os níveis de gentrificação – conceito que descreve o processo através do qual indivíduos mais privilegiados ocupam bairros antes desfavorecidos – insegurança residencial e mudança na estrutura socioeconómica dos bairros da Área Metropolitana do Porto, ao longo das últimas duas décadas.
Como explica a investigadora, “após a crise financeira de 2008, muitas cidades europeias passaram a enfrentar uma crise habitacional sem precedentes, caracterizada pelo aumento do preço das casas e pela falta de investimento público no parque habitacional, o que tem desencadeado processos de transformação urbana como a gentrificação, a insegurança residencial e a relocalização”.
O projeto designado Os efeitos na saúde da gentrificação, da relocalização e da insegurança residencial nas cidades: um estudo multi-coorte quase-experimental vai avaliar os impactos na saúde destes processos de transformação urbana, usando dados de duas coortes populacionais da Área Metropolitana do Porto – o EPIPorto e a Geração XXI – que atravessam várias fases da vida (infância, idade adulta e velhice).
Dado que os participantes destas coortes estão georreferenciados e os investigadores dispõem de dados sobre a saúde física e mental, vai ser possível comparar o mesmo indivíduo antes e depois da mudança residencial e após as transformações na estrutura socioeconómica do seu local de residência.
Sobre o concurso da FCT
No âmbito do Concurso para Projetos de Investigação Científica e Desenvolvimento Tecnológico em todos os Domínios Científicos – 2020 foram selecionados 312 projetos para financiamento.
De acordo com informação disponível no website da FCT, “este concurso tem uma dotação orçamental de 75 milhões de euros, num investimento suportado por fundos nacionais, através do orçamento da FCT”.
Este financiamento “contribui para a consolidação e o reforço do Sistema Científico e Tecnológico Nacional, enquanto prioridade da política de ciência e tecnologia nacional, de um modo transversal a todas as áreas científicas”.