Desde a sua fundação, em 2014, que a Immunethep se tem dedicado à criação de vacinas, principalmente contra infeções bacterianas multirresistentes. Este ano, e depois de se verem obrigados a parar toda a atividade devido à pandemia da COVID-19, a spin-off Universidade do Porto mobilizou-se para pensar numa solução para este problema que está a afetar o mundo inteiro.
O vasto conhecimento da Immunethep na área permitiu-lhes avançar rapidamente. E além da experiência está, claro, a urgência: “A situação económica em que o país se encontra fez-nos perceber o quão importante será, para o nosso país, termos uma solução interna que nos permita vacinar as pessoas o quanto antes”, refere Bruno Santos, CEO da empresa.
Assim sendo, a equipa arregaçou as mangas e começou a trabalhar numa solução que “irá promover uma forte e duradoura imunidade à COVID-19”, referem. “Esta vacina foi desenhada para potenciar a resposta imune ao vírus e tem uma dupla função: induzir a produção de anticorpos específicos para neutralizar este novo coronavírus, mas também aumentar a capacidade natural do ser humano de combater infeções virais”, diz Bruno Santos.
Isto porque, segundo os especialistas, a vacinação dos pacientes poderá não gerar uma resposta em tempo útil. Assim, a Immunethep está a desenvolver uma terapia mais abrangente (utilizando anticorpos monoclonais) para tratar o que chamam de “estas infeções bacterianas oportunistas”.
Aposta na prevenção mas também no tratamento
A vacina já está a ser testada em ratinhos e o objetivo será induzir uma imunidade contra o SARS COV-2. “Essa vacina é composta pelo vírus inativado, e será inalada para potenciar a imunidade pulmonar”, explica Bruno Santos.
Ao mesmo tempo, a Immunethep está a trabalhar também num outro produto, os anticorpos monoclonais, que suportará a recuperação de pessoas já infetadas. A spin-off da U.Porto é conhecida pela sua experiência na criação de imunoterapias anti-bacterianas, desenvolvidas após terem descoberto que “diferentes bactérias usam exatamente o mesmo mecanismo para impedir a atuação correta do nosso sistema imune”, referem os cientistas. Assim, essas imunoterapias consistem numa outra vacina preventiva antibacteriana e de largo espectro e pelos anticorpos monoclonais, anteriormente referidos, que podem ser administrados como tratamento para essas mesmas infeções. Bruno Santos acrescenta ainda que se verificou que “mais de 50% dos casos fatais em pacientes com COVID-19 são precisamente causados por infeções bacterianas oportunistas.”
Em resumo, a Immunethep está a apostar nas duas frentes: “Em pessoas que já estão com COVID-19 podemos administrar os anticorpos monoclonais e, assim, impedir o desenvolvimento das referidas infeções bacterianas oportunistas”, explica Bruno Santos. Ou seja: esses anticorpos não são direcionados especificamente para o vírus SARS COV-2 mas impedem um dos principais riscos em pacientes COVID-19: as infeções bacterianas.
Se tudo correr como esperado, e se for aprovada, a vacina será produzida juntamente com uma empresa do Canadá, com a qual a Immunethep já trabalhou na produção da sua vacina bacteriana. No entanto, a spin-off da U.Porto alerta para o tempo necessário para o desenvolvimento seguro de uma vacina, sendo a palavra “breve” sempre muito relativa.
“Normalmente o processo de ensaios clínicos (admitindo que tudo corre bem) dura, em média, oito anos. Achamos que as primeiras vacinas podem estar disponíveis para distribuição em larga escala dentro de um ano, mas vivemos uma situação de informação atualizada quase ao minuto. Por isso, é muito difícil fazer previsões”, alerta Bruno Santos.
Quando questionados sobre se este tipo de pandemias serão mais frequentes no futuro, o CEO da Immunethep não tem dúvidas em afirmar que sim. Segundo os cientistas, “os processos recentes de globalização aumentaram muito as vias de transmissão de novos agentes infeciosos” e sempre que um deles ganha a capacidade de causar doença em humanos, “o risco de pandemia é enorme, pois não se conhece a sua evolução”, refere Bruno Santos. Assim sendo, e independentemente de ser uma doença mais ou menos grave, a Immunethep acredita que “será de esperar que que pandemias deste género sejam cíclicas”.
Sobre a Immunethep
Criada em 2014 por Bruno Santos e por Pedro Madureira, antigos estudantes, respetivamente, da Porto Business School (o primeiro) e da Faculdade de Ciências (FCUP) e do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) da U.Porto (o segundo), a Immunethep recebeu a chancela U.Porto Spin-off em 2017.
Desde a sua fundação, a empresa tem-se dedicado a combater uma das principais causas de morte em todo o mundo: as infeções bacterianas. Para isso, desenvolve imunoterapias antibacterianas capazes de proteger uma ampla gama de segmentos populacionais que vão desde recém-nascidos até idosos.
Em 2017, a Immunethep viu o seu trabalho reconhecido pela Fundação Bill & Melinda Gates (BMGF), que forneceu um grant para que a Immunethep pudesse testar um dos seus produtos. Um ano depois, a empresa fundada na U.Porto alcançou 1.º prémio – no valor de 25 mil euros – na competição internacional Emprendedor XXI.