Os indivíduos com úlceras de Pé Diabético têm um risco elevado de morte a curto prazo. Um terço acaba mesmo por morrer no período de três anos após desenvolver esta complicação comum da diabetes. Esta é a principal conclusão de um estudo coordenado por Matilde Monteiro-Soares, investigadora do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde e da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), com a colaboração de membros do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da U.Porto (i3S),.

Recentemente publicado no European Journal of Internal Medicine, o estudo teve como objetivo avaliar a taxa de mortalidade nas pessoas com úlceras de Pé Diabético e determinar os principais fatores de risco de morte. Foram envolvidos cerca de 300 doentes seguidos no Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/ Espinho EPE, sendo a média de idades de 67,6 anos e o tempo de duração da doença em média de 18,1 anos. A esmagadora maioria tinha diabetes tipo 2.

Segundo Matilde Monteiro-Soares, cerca de 30% dos doentes com úlceras de Pé Diabético morreram ao fim de três anos. Mais de metade das mortes (52%) foram devidas a infeções, designadamente pneumonias (25%). Só depois surgiram as doenças cardiovasculares e as doenças malignas como causas das mortes (22% e 8%, respetivamente).

“Na diabetes, o risco de morte por infeções é bastante alto, com a pneumonia e a septicémia a assumirem-se como as principais ameaças”, indica a autora, já premiada anteriormente pelos seus trabalhos na área do Pé Diabético.

Os resultados do estudo indicam ainda que a idade e a incapacidade física estão associadas a um maior risco de morte, o que vem na linha de outros estudos realizados. Este risco é independente do tipo ou da gravidade das úlceras.

Professora Auxiliar da FMUP, Matilde Soares integra o Grupo de Investigação Evidens&HTA, do CINTESIS. (Foto: CINTESIS)

Uma conclusão surpreendente

Mais surpreendente foi a conclusão de que os participantes que já tinham tido úlcera de Pé Diabético tinham menor risco de morrer. Uma das hipóteses levantadas é que estes indivíduos com história prévia de complicações tenham mais cuidados médicos e sejam mais “resilientes”.

Como explica a especialista, as úlceras de Pé Diabético são das complicações da diabetes com maior impacto para os doentes e para os sistemas de saúde devido à sua elevada morbilidade, mortalidade e utilização de recursos.

Anteriormente, a equipa da investigadora  havia realizado outro estudo segundo o qual, ao fim de um ano, 7% dos indivíduos com diabetes tipo 2 desenvolveram úlcera de Pé Diabético. A maioria dos eventos ocorreu em pessoas seguidas em ambiente hospitalar, que eram também os que apresentavam maior duração da diabetes e mais complicações decorrentes da doença.