Uma nova ferramenta de diagnóstico mais rápida e mais barata, um biomarcador que indique, na altura do diagnóstico, quem tem maior risco de desenvolver a doença de uma forma mais grave e o estudo da evolução e mutações acumuladas do novo coronavírus desde que entrou em Portugal. São estes os três projetos que o Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S) vai começar a implementar na sequência da linha de financiamento «Research 4 COVID-19», promovida pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT).

Cada um destes projetos foi contemplado com um financiamento de 30 mil euros e o objetivo é que o trabalho comece rapidamente. Os três projetos, sublinha Claudio Sunkel, diretor do i3S, “enquadram-se no esforço que todo o Instituto tem vindo a desenvolver para contribuir para um maior conhecimento do vírus e da doença. E para que seja possível responder de forma eficaz a um eventual surto no futuro”.

A implementação da nova ferramenta de diagnóstico conta com a participação do Centro Hospitalar S. João e vai permitir a deteção do novo coronavírus em 45 minutos. “Quanto mais rápido for o diagnóstico do novo coronavírus, mais rápida é a resposta e o acompanhamento dos doentes, por forma a impedirmos a sua transmissão”, sustenta Luísa Pereira, investigadora principal deste projeto.

Esta ferramenta já estava a ser trabalhada no i3S para o vírus que causa a febre de dengue e vai agora ser “readaptada” à covid-19. “O método baseia-se no uso de enzimas especiais que tornam o processo muito mais rápido e permite detetar o vírus mesmo quando este está pouco concentrado”, acrescenta a investigadora. Para além disso, esta ferramenta também é “mais barata”, sendo que o preço estimado por amostra é de um euro.

Muito ou pouco grave? A resposta pode estar no plasma

Em parceria com a Unidade de Infeciologia do Centro Hospitalar do Porto/Hospital de Santo António, a investigadora Salomé Pinho vai por sua vez procurar identificar um biomarcador minimamente invasivo para a identificação precoce (no diagnóstico) dos indivíduos infetados com coronavírus (SARS-CoV2) que terão maior risco de progredir para uma doença grave/complicada.

Tendo em conta que “o glicoma (composição de açucares/carbo-hidratos) de anticorpos do plasma constitui um promissor biomarcador para prever o desenvolvimento e progressão de outras doenças inflamatórias”, Salomé Pinho vai avaliar de que forma o glicoma de anticorpos serológicos de doentes positivos para SARS-CoV2 poderá ser usado como um biomarcador, detetado no sangue, na estratificação de risco da COVID19.

Com este biomarcador, explica a investigadora, “pretendemos ser capazes de discriminar precocemente, no diagnóstico, indivíduos com alto risco de desenvolver uma doença grave/complicada com necessidade de abordagens terapêuticas intensivas (como o recurso a ventiladores) daqueles com baixo/nenhum risco. Isto contribuirá certamente para otimizar uma melhor alocação e gestão eficazes dos recursos de saúde e unidades de terapia intensiva”.

Estudar a evolução do novo coronavírus

O terceiro projeto é liderado por Verónica Fernandes e conta com a participação de uma equipa multidisciplinar de clínicos do Centro Hospitalar Universitário de São João e do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) . Neste caso, o objetivo passa por estudar a evolução do novo coronavírus, nomeadamente as cadeias de transmissão e as mutações. Para tal, a equipa vai sequenciar o genoma do vírus com base em amostras de 240 doentes infetados da região Norte.

“Como o Norte começou por ser a primeira região infetada no país, no início foi fácil seguir as cadeias de transmissão. Depois a transmissão começou a ser comunitária e isso tornou-se impossível”, explica Verónica Fernandes. O caminho agora, adianta, é “juntar a informação molecular do genoma do vírus aos dados epidemiológicos e clínicos dos infetados para percebermos de que modo é que ele foi transmitido ao longo do tempo, entre as várias pessoas, bem como os diferentes ciclos da cadeia e quantas mutações é que ele foi acumulando”.

Ao mesmo tempo, a equipa vai também comparar os dados com genomas de todo o mundo que vão ficando disponíveis. Esta junção de dados permitirá “perceber qual a estirpe do vírus que está em transmissão na região Norte do país, o que pode ser importante numa futura vacina”.

A equipa de investigadores vai também estudar a «taxa de mutação do vírus», conforme explica Verónica Fernandes: “Se a mutação for de evolução muito rápida é necessária uma vacina todos os anos, como a da gripe sazonal, se for de mutação mais lenta, a vacina poderá ser, por exemplo, de 10 em 10 anos, como é a do Tétano”.

Estes três projetos juntam-se assim ao total de 17 projetos liderados por investigadores da Universidade do Porto que acabam de ser contemplados no âmbito da iniciativa “RESEARCH 4 COVID-19”, Promovida pela FCT em colaboração com a Agência de Investigação Clínica e Inovação Biomédica (AICIB), esta linha de financiamento vai aplicar cerca de 1,8 milhões de euros no apoio a apoiar projetos de I&D capazes de melhorar a resposta dos sistemas de saúde nacionais ao impacto da COVID-19.