Até 2021 vão ser investidos 26,4 milhões de euros para aumentar a integração de fontes de energia renováveis na Europa, 20 milhões dos quais vão ser financiados pela Comissão Europeia. O objetivo da Comissão Europeia é que até 2030, pelo menos, 50% da energia existente na Europa seja proveniente de fontes renováveis, maioritariamente eólica, solar e hídrica.
Um total 34 instituições, entre elas três portuguesas – o INESC TEC, a EDP Distribuição e o Centre for New Energy Technologies (CNET) –, estão a trabalhar para cumprir esse objetivo através de um projeto de investigação pan-europeu.
O projeto chama-se EU-SysFlex (Pan-European system with an efficient coordinated use of flexibilities for the integration of a large share of RES) e, até outubro de 2021, vai trabalhar na identificação e avaliação dos desafios técnicos e no desenvolvimento de estratégias técnicas, de mercado e de regulação que permitam identificar, quantificar e tirar partido das flexibilidades existentes no sistema elétrico europeu.
Oito áreas de demonstração vão ser criadas na Europa para validar todas as ferramentas que estão a ser desenvolvidas no âmbito do EU-SysFlex – Portugal, Alemanha, Itália, Finlândia, França, Estónia, Letónia e Polónia.
Em Portugal, vai ser criado o “Virtual Power Plant”, localizado na barragem de Venda Nova III, no distrito de Vila Real, e nos parques eólicos situados na proximidade. Este mecanismo vai permitir controlar a produção da barragem hídrica de acordo com as variabilidades do recurso eólico. “Imaginemos que num determinado momento não há vento suficiente para injetar na rede elétrica, esta plataforma vai permitir perceber isso e dar ordens para que se turbine água da barragem, como se de uma central única se tratasse”, explica Bernardo Silva, investigador sénior do Centro de Sistemas de Energia do INESC TEC.
Para além do “Virtual Power Plant”, o demonstrador português está também a desenvolver uma ferramenta chamado “Flexibility Hub”, que vai funcionar como um facilitador de mercado, coordenado pelo operador da rede de distribuição, que fornece validações técnicas paras as flexibilidades mobilizadas pelo o operador da rede de transmissão. INESC TEC, EDP Distribuição, EDP CNET, EDP Produção, Siemens e Électricité de France (EDF), são as instituições que vão trabalhar no demonstrador português.
O objetivo de todas estas tecnologias? Garantir a máxima integração de fontes renováveis na Europa assegurando que a operação e abastecimento do sistema elétrico é feita de forma otimizada, tirando partido das flexibilidades existentes no sistema elétrico. É, nesse sentido, que o projeto vai focar os seus desenvolvimentos em modelos que permitam aos operadores de sistema estimar a verdadeira flexibilidade existente, permitindo com isso otimizar a operação dos sistemas elétricos e integrar mais fontes renováveis.
E o que são essas flexibilidades? As flexibilidades do sistema elétrico consistem na possibilidade de se alterar o seu funcionamento convencional, de modo a apoiar a operação.
“Com todo o investimento que tem sido feito na área da energia e nos desenvolvimentos técnicos que daí têm surgido, apareceram também novos papéis, nomeadamente para os consumidores. Há uns anos atrás os consumidores eram atores passivos, hoje em dia não é nesse sentido que se trabalha, mas sim no papel ativo. Nesse sentido, vão ser desenvolvidos modelos representativos das redes de distribuição, que vão modelizar as flexibilidades existentes, sendo posteriormente incluídos em ferramentas de análise dos operadores de rede de transmissão, permitindo uma operação otimizada do sistema elétrico e uma maior penetração de fontes renováveis”, esclarece o investigador do INESC TEC.
Assim, não só o operador da rede elétrica, mas também o consumidor pode ser flexível, em caso de necessidade, podendo por exemplo, reduzir o seu consumo para evitar congestionamentos na rede. Vai ser possível passar a haver armazenamento de energia ao nível doméstico, que poderá ser mobilizado com o objetivo de aumentar a penetração de renováveis.