Não falta dinamismo científico na área da Saúde em Portugal. O que falta é transferir o conhecimento para o mercado. É para dar resposta a este problema que um consórcio composto por nove parceiros de cinco países europeus, entre os quais se encontra a Universidade do Porto – representada pela U.Porto Inovação -, convidou o Centro de Investigação e Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS), sediado na Faculdade de Medicina da U.Porto (FMUP), para integrar uma equipa que vai avaliar por que falha a inovação em saúde bem como identificar boas práticas nesta área.
Intitulado Helium, este projeto europeu conta com um orçamento de dois milhões de euros e uma duração de mais de quatro anos. No fim desse período, deverá ter potenciado “a eficiência do financiamento público dedicado à inovação na saúde”.“Para tal, as regiões necessitam de saber quais as maiores fraquezas nos seus sistemas de inovação e como fortalecê-los, de modo a que isso possa resultar num panorama experimental sustentável de larga escala, acessível, atrativo e “conectado”, explicam os representantes da U.Porto Inovação.
É neste âmbito que entra em ação o grupo de trabalho composto por representantes de entidades representativas que possam dar o seu ponto de vista na problemática. Fazem parte deste grupo especialistas do CINTESIS, da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N), do Health Cluster Portugal, entre outras instituições que reuniram pela primeira vez no dia 11 de novembro, num encontro acolhido pelo CINTESIS e dinamizado pela U.Porto Inovação, em colaboração com a Associação Nacional para a Inovação (ANI).
“A missão deste grupo de trabalho é identificar boas práticas e obstáculos associados à inovação em saúde, com o objetivo de propor um plano de ação sobre ferramentas políticas de financiamento da inovação”, explica Daniel Polónia, da Agência Nacional de Inovação, referindo-se especificamente, no caso português, ao programa Norte2020.
Altamiro da Costa Pereira, coordenador do CINTESIS, define este projeto como “extremamente oportuno, porque necessário”. O professor universitário realça a existência de um “gap entre a quantidade de conhecimento produzido e a qualidade dos investigadores nacionais e a aplicação desse conhecimento em inovações que beneficiem a sociedade”. Uma vez que “as razões que impedem a transferência do conhecimento para o mercado não são bem conhecidas ou reconhecidas”, importa estudar a situação aprofundadamente para que depois “se possam implementar medidas que contrariem esses obstáculos”.
A empresa IS4Health, também presente nesta sessão, é um dos casos já identificados como de sucesso, cujo exemplo vale a pena seguir. Esta spin-off da Universidade do Porto, nascida e instalada no CINTESIS, “desenvolve, adapta e vende tecnologias digitais para a área da saúde, nomeadamente sistemas de auscultação digital”, esclarece Ricardo Correia, líder do grupo de investigação de Informática da Saúde do CINTESIS e professor da FMUP. Criada em 2014, “a IS4Health usou a experiência dos seus fundadores neste campo neste tipo de sistemas, desde a criação de tecnologias usadas para rastrear crianças e gravidas no nordeste brasileiro, até sistemas de monitorização de stress e fadiga de bombeiros em ação no norte de Portugal, para criar com sucesso sistemas interativos de auscultação que já foram usados em vários hospitais e regiões em Portugal e no Brasil”, acrescenta Miguel Coimbra, membro fundador da empresa e diretor do Instituto de Telecomunicações-Porto.
O Professor Elísio Costa (Faculdade de Farmácia da U.Porto), apresentou a iniciativa Porto4Ageing, da qual é promotor. É a primeira iniciativa portuguesa a ser considerada como centro de referência em envelhecimento ativo e saudável (“reference site”) pela Parceria de Inovação Europeia “Active and Healthy Ageing” e agrega mais de 80 entidades de várias partes interessadas (Decisores/Prestadores de Cuidados; Empresas/Indústria; Academia/Investigação e Sociedade Civil/Utilizadores) de forma a melhorar as condições de envelhecimento ativo no Porto através da condução de mudanças estruturais.
Os resultados do Helium vão beneficiar vários grupos sociais, nomeadamente “as autoridades públicas, ao melhorar as suas capacidades de gerir a inovação na saúde; os centros de investigação e negócios, ao melhorar as oportunidades de desenvolver a inovação; os prestadores de cuidados, ao obterem soluções mais eficientes e inovadoras; e também o público em geral, ao envolvê-lo no processo de inovação para que exponha as suas necessidades e use as novas tecnologias”, adiantam os responsáveis.