Os resultados de uma investigação feita por uma equipa internacional que contou com a participação de três cientistas do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos da Universidade do Porto (CIBIO/InBIO Laboratório Associado) estão em destaque numa publicação internacional. Aplicando uma abordagem inovadora ao estudo da diversidade genética de espécies, “quase como montar um puzzle sem ter acesso à imagem final”, este estudo mostrou que é possível desvendar os mecanismos que estão na base da diversidade genética e dos efeitos da evolução biológica, analisando organismos que não são normalmente utilizados como espécies-modelo.
Até agora, as estratégias de análise da variabilidade genética das populações têm-se focado num número muito reduzido de espécies para as quais existem genomas de referência bem conhecidos, como é o caso do Homem ou da mosca da fruta. No entanto, a investigação publicada na última edição da PLOS Genetics demonstra que é possível explorar um leque muito mais vasto de organismos para os quais essa informação se encontra fragmentada ou ainda indisponível, como é o caso das lebres, tartarugas, ostras ou térmitas.
Para tal, os autores do estudo propõem uma estratégia baseada em tecnologia de nova geração que permite extrair dados esclarecedores a partir de nova informação – esta, em larga medida, desconhecida. Em comunicado, José Melo-Ferreira afirma que este estudo mostra que “em vez de se tentar reconstruir o perfil genético e história evolutiva dos indivíduos com base em informação de referência, é possível fazê-lo eficientemente sem esses dados”. Para o investigador do CIBIO, esta mudança abre “perspetivas importantes para o estudo dos genomas de um maior número de espécies, o que permitirá uma melhor compreensão do processo evolutivo”.
Para além do avanço tecnológico trazido pela nova estratégia implementada, os investigadores destacam o contributo do estudo para a compreensão da diversidade biológica. Por exemplo, uma hipótese amplamente aceite pela comunidade científica sugere que o tamanho das populações é o aspeto mais determinante da sua capacidade de reter informação genética benéfica e de eliminar variação prejudicial. Geralmente considera-se que a variabilidade e capacidade adaptativa dos invertebrados (cujas populações são extremamente numerosas) são muito superiores às observadas em vertebrados. Contudo, segundo o artigo agora publicado, esta questão não é, de todo, linear. Tal como José Melo-Ferreira explica, “os resultados que obtivemos mostram que este raciocínio é de certa forma demasiado simplista. Na realidade, a discrepância profunda que até agora se pensava existir entre a capacidade de adaptação de vertebrados e invertebrados, é substancialmente atenuada se considerarmos espécies que habitualmente não são estudadas”. Assim, este estudo abre caminho a novas e promissoras perspetivas para o estudo dos maiores determinantes da evolução, o que tem importantes implicações para a investigação em biodiversidade e para a definição de estratégias de conservação.