Para os investigadores, a concentração de microplásticos “representa problemas não só para as larvas de peixe, mas também para toda a comunidade e para todas as zonas que dependem do estuário”. (Fotos: Turismo do Porto e Norte de Portugal)

Um estudo do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR) , que acaba de ser publicado na revista Science of the Total Environment, conclui que a quantidade de partículas de plástico existentes no estuário do rio Douro é superior ao número de larvas de peixes naquele ecossistema.

Já com algumas suspeitas debaixo de olho, o estudo que esteve no âmbito da tese de mestrado da investigadora Sabrina Magalhães iniciou-se em 2016, e teve como principal objetivo compreender a razão entre larvas de peixes e microplásticos existentes no estuário do Douro. Ao longo de um ano, a equipa de investigadores do CIIMAR, através da recolha mensal de amostras, encontrou um total de 2.152 partículas de microplásticos e identificou 32 espécies diferentes. Contas feitas, o estudo mostrou que, em média, existem 17 partículas de plástico por 100 metros cúbicos de água, comparativamente às 12 de larvas de peixes por 100 metros cúbicos.

“Analisámos a quantidade de larvas de peixes e de microplásticos ao longo de todo o estuário e o estudo apontou para um rácio médio de uma larva para 1,5 partículas de microplásticos“, refere Sandra Ramos, investigadora do CIIMAR, responsável pela coordenação do artigo publicado recentemente na revista Science of the Total Environment.

Um dos problemas associados aos microplásticos é a ingestão, porque as espécies podem confundir estas partículas com alimentos e fazem com que estes entrem na cadeia alimentar.

O Estuário do Douro é um refúgio para várias espécies marinhas, desde aves, peixes entre outros organismos, e são locais de extrema importância para maximizar a sobrevivência destes estados de desenvolvimento tão vulneráveis, funcionando como autênticos berçários para as larvas de peixe ou para os peixes juvenis.

Segundo a investigadora, sendo a “fase larvar dos peixes” bastante vulnerável às alterações ambientais e aos efeitos da ação do homem, o surgimento de microplásticos nesta zona do rio é “potencialmente perigoso” para as espécies que lá coabitam. ” De facto, a concentração de microplásticos “representa problemas não só para as larvas de peixe, mas também para toda a comunidade e para todas as zonas que dependem do estuário, neste caso, a zona costeira adjacente”, acrescentou.

Entre os problemas associados está a ingestão das partículas de plástico por parte dos seres vivos por confusão com alimento, a ocupação destes materiais na coluna de água e a competição entre os animais por espaço e luz, fatores físicos também essenciais para o bom desenvolvimento e manutenção das espécies do estuário.

O estudo demonstrou ainda que a concentração das partículas de plástico é mais abundante na zona intermédia do estuário, ou seja, entre a Ponte da Arrábida e a Ponte do Freixo, e durante a época das chuvas, quando o caudal do rio é maior. Este facto levou a equipa de investigação do CIIMAR a concluir que a fonte de contaminação tem origem a montante do estuário. As investigadoras preparam-se agora para novos estudos no sentido de responder a questões relacionadas com a origem dos plásticos que chegam ao estuário e a uma análise aprofundada sobre a possível ingestão de partículas de plástico pelas larvas de peixe.