Então “e porque não haveremos de consumir insetos?”. Foi com esta questão que Sara Martins se deparou, no final do curso de Ciências de Engenharia – Ramo Alimentar, na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP). Dali surgiu a ideia, várias vezes premiada, de criar alternativas alimentares à base de insetos, o mote da Portugal Bugs, a primeira marca de proteína de insetos do país. 

Em novembro deste ano, a jovem empreendedora de 31 anos conquistou o primeiro lugar na 4.ª edição da final portuguesa do Empowering Women in Agrifood, o programa do EIT Food. Dez mil euros para aplicar nesta nova forma de proteína que pode estar em barras de proteína, massas, biscoitos, hambúrgueres e outros produtos alimentares de consumo diário.

Proveniente de uma família de empreendedores, Sara Martins não hesitou perante a decisão de criar uma empresa. “Para começar, estou rodeada de empreendedores, tanto os meus pais como o meu irmão criaram os seus próprios negócios. Acho que mesmo sem ter pensado muito sobre o assunto, seguir esses mesmos passos já era algo que para mim fazia todo o sentido”, diz.

A ideia que culminaria na criação da Portugal Bugs começou a ser cozinhada logo após a licenciatura. Com o colega de curso Guilherme Pereira, integrou um projeto de desenvolvimento de produtos alimentares para consumo humano com proteína de inseto. Sob orientação do docente Luís Cunha, investigaram o tema ao detalhe, porque havia todo um potencial a explorar na farinha de inseto. “Descobrimos que ela é importante para combater problemáticas nutricionais, ambientais e sociais”, defende. 

Logo no início, a ideia começa a ser reconhecida, primeiro com os prémios Norte Empreendedor, em 2018, ou em 2019, com a conquista do concurso JUMP.  A empresa em si só abriu em junho de 2021, altura em que a lei permitiu o consumo de algumas espécies.

Antes disso, a cofundadora da Portugal Bugs aproveitou o tempo para frequentar uma Pós-Graduação em Gestão Industrial no Instituto Superior de Engenharia do Porto e para trilhar caminho e experiência na indústria alimentar em Departamentos de Qualidade de várias empresas nacionais. 

Natural de Barcelos, Sara Martins ambiciona ir a países como a Indonésia e o Japão, que, onde, há muitos mais anos, os insetos estão no menu. Por cá, é o desafio que abraça, no projeto da sua vida: educar o consumidor para esta nova proteína. Porque não? 

(Foto: DR)

Naturalidade: Barcelos

Idade: 31 anos

 – De que mais gosta na Universidade do Porto? 

A exigência e qualidade de ensino conhecida por todos. Admiro também o espírito de comunidade académica que se vive e sente.

 – De que menos gosta na Universidade do Porto?

A dispersão de todas as faculdades e polos, pois, a meu ver, dificultou a logística de realização de unidades curriculares noutros locais.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?

Criar mais ligações com empresas de forma a existirem parcerias para que os alunos tenham mais oportunidades de fazer estágios em ambiente empresarial.

– Como prefere passar os tempos livres?

Com a minha família e amigos, passear à beira-mar ou na natureza, ver filmes/séries, ler livros, fazer desporto, viajar…

(Foto: DR)

 – Um livro preferido?

Tenho vários livros preferidos de gêneros literários diferentes, no entanto, vou apontar o livro “Só o Amor é Real” de Brian Weiss.

– Um disco/músico preferido?

No que toca ao que é nacional, sem dúvida, David Fonseca. Fora de Portugal gosto de ouvir muita coisa, como, Chet Faker, Jorja Smith,  Alt-J, Beirut, Dave Mattews Band, Florence + The Machine…

– Um prato preferido?

Tenho muitos, mas posso dizer que adoro pratos italianos como massas e lasanha. E sushi, sem dúvida.

– Um filme preferido?

Wonder. Um filme com uma mensagem marcante que nos permite refletir.  

– Uma viagem de sonho (realizada ou por realizar)?

Existem muitos sítios para onde gostaria de viajar. Aponto três: Indonésia, Japão e EUA.

– Um objetivo de vida?

Dar sempre o melhor de mim. Na minha vida profissional ambiciono conseguir fazer a diferença com aquilo que faço. Quanto à minha vida pessoal quero sentir-me bem e feliz comigo mesma e fazer as pessoas de quem gosto sentirem-se felizes.

– Uma inspiração? (pessoa, livro, situação…)

A minha família é uma fonte de inspiração, cada um deles à sua maneira. No entanto, deixo-me inspirar por momentos que acontecem e pessoas que se atravessam na minha vida de alguma forma. 

– O projeto da sua vida…

Espero que a minha vida seja longa, o que torna difícil o exercício de olhar para ela e definir apenas um projeto de vida pois parece que a resume demasiado. Neste momento, tenho o meu projeto profissional atual, a Portugal Bugs, onde quero e espero alcançar muitas coisas durante os próximos anos da minha vida. E, no lugar mais importante, estará sempre o meu projeto de vida pessoal, a minha família.

– Como surgiu a ideia de criar a Portugal Bugs?

Bem, para começar, estou rodeada de empreendedores, tanto os meus pais como o meu irmão criaram os seus próprios negócios. Acho que mesmo sem ter pensado muito sobre o assunto, seguir esses mesmos passos já era algo que para mim fazia todo o sentido. E a ideia da Portugal Bugs surgiu logo após a conclusão do curso em Ciências de Engenharia – Engenharia Alimentar.

No final do curso, com o contacto do desenvolvimento de uma barra proteica com farinha de inseto, deparamo-nos com tanto potencial naquele ingrediente que começamos a investigar cada vez mais sobre o tema dos insetos para consumo humano. Percebemos desde logo a importância da sua inserção como uma nova fonte de proteína de forma a combater problemáticas nutricionais, ambientais e sociais.

Rapidamente iniciamos o nosso projeto, no entanto, a legislação limitou-nos em questões temporais, pois apenas começou a ser permitido o consumo de algumas espécies em junho de 2021. Nesse mesmo mês, abrimos a empresa e pusemos “mãos à obra” em tudo o que já tínhamos investigado, desenhado e desenvolvido durante os anos de espera. Agora, já estamos no mercado e focamo-nos diariamente em educar o consumidor para esta nova proteína.