“Deixaram-me ser teimosa”. É assim que Olívia Pinho, Professora Catedrática Jubilada da Faculdade Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto (FCNAUP) –a primeira a atingir este estatuto numa das mais jovens faculdades da U. Porto – começa a contar a sua história de vida. “Nasci numa família com fortes origens agrícolas. Quando terminei a 4.ª classe, o apelo do campo era mais forte. Disse que não queria estudar, mas sim mergulhar na terra. Apesar de contrariada, a minha família concordou”, conta.

Assim foi: passou dois anos em Oliveira de Azeméis, de onde é natural, a trabalhar no campo. Regressou ao ensino preparatório mais tarde – aí a ter de viver com a ansiedade dos país, que achavam que não seria capaz de retomar os estudos depois desse hiatos académico. Foi ultrapassando os desafios académicos do liceu, mas eis que o 25 de abril de 74 a envia de volta à casa de partida: trabalhar na terra.

Quando retomou ao seu caminho académico, anos mais tarde, “sugeriram-me a Nutrição e eu aceitei o incógnito, era um curso novo, era um novo desafio”, recorda. Mas as dúvidas não demoraram a dissipar-se quando ingressou no então recém-criado Curso de Nutricionismo da Universidade do Porto. “Encontrei vários professores que jamais esquecerei: o Professor Emílio Peres, Professor Norberto Teixeira Santos e o Prof. Lima Reis. Mostraram-me a relevância do alimento e do nutriente para o estado nutricional do ser vivo”.

Olívia Pinho (em baixo) com colegas do Curso de Nutricionismo. (Foto: DR)

Mas também não seria desta que Olívia Pinho abraçaria definitivamente o caminho que a levaria a fazer história na FCNAUP. Terminado o curso, em 1979, passou 20 anos como professora de ensino secundário, no Colégio Luso Francês. Só depois se aventurou no mestrado e de seguida, no doutoramento que viria a concluir aos 50 anos, em 2004.

“Foi aí que comecei a ter mais responsabilidades académicas. Fui dando continuidade à minha paixão pelo campo. Em 2004 era Professora Auxiliar, em 2005 passei a Associada, em 2007 fiz as provas de agregação e, em 2009, passei a Professora Catedrática. Tive sorte, houve uma série de conjunturas que permitiram que isso acontecesse. Mas esta sorte também tirou muitas horas à minha família”, confessa.

Entre os seus 50 e os 70 anos que acaba de celebrar – momento em que se assinalou a sua última aula –, Olívia Pinho dedicou-se a vários projetos nas áreas da qualidade e segurança alimentar e analise sensorial, mas teve sempre a preocupação da translação do conhecimento. Queria que a sua investigação pudesse ser aplicada à população. Entre os vários projetos, destaca o trabalho desenvolvido no centro de investigação REQUIMTE, e, das suas investigações, o trabalho desenvolvido na área dos queijos, da influência do calor no alimento e do risco do consumo de sal.

– Naturalidade? Martinho da Gândara, Oliveira de Azeméis

– Idade? 70 anos

– De que mais gosta na Universidade do Porto?

Da capacidade que tem em atrair bons estudantes nas diferentes áreas do conhecimento, o que estimula a diversidade científica, a habilidade para a inovação e da multiculturalidade.

– De que menos gosta na Universidade do Porto?

O que mais me desagrada na Universidade é, por vezes, algum défice de diálogo e consequente pouca cooperação entre as várias Unidades Orgânicas. Quando se juntam esforços entre Unidades Orgânicas, porque somos da mesma Universidade, os resultados são visíveis e consistentes.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto? 

Criar fóruns de discussão sobre temas de investigação e até mesmo no campo do ensino e aprendizagem, através da criação de ciclos de estudos compatíveis entre Unidades Orgânicas. Esta aproximação entre as UOs poderia reforçar as várias áreas do conhecimento, melhorando a massa critica e influenciando ainda mais os níveis de inovação para a Universidade do Porto.

– Como prefere passar os tempos livres?

Os tempos livres são dedicados à família, mas quando as circunstâncias o favorecem, gosto muito de fazer caminhadas.

Agora com mais tempo livre, estou a dedicar-me à cerâmica. Gosto muito de manusear o barro em movimentos finos e delicados. É uma forma de sentir o meu interior ativo.

– Um livro preferido?

Um dos meus livros preferidos, que por vezes releio partes é “Comer Orar e Amar”, escrito por Elizabeth Gilbert. Este livro apresenta um peso espiritual e emocional o que me inspira.

– Um disco/músico preferido?

“Porgy and Bess”, interpretada por Louis Armstrong. Na música portuguesa, escolho “Quem Me Dera”, interpretada pela Mariza.

– Um prato preferido?

Arroz de feijão vermelho com espigos e peixe frito

– Um filme preferido?

A Menina Índigo (2016), de Wagner de Assis. Uma criança Índigo com a missão de transformar o mundo. É uma criança especial, que manifesta as suas emoções através da pintura.

– Uma viagem de sonho? 

Alguns destinos são especiais, têm histórias e mistérios que mexem com os visitantes de forma única. Foi o aconteceu comigo na Patagónia – Terra do Fogo, Fim do Mundo.

Mas quando visitei o lago Titicaca no Perú – que é considerado o lago navegável mais alto do mundo, que se encontra a 3 821 metros acima do nível do mar – considero ter sido a viagem com mais expectativa e surpresas.

– Um objetivo de vida?

Procurar projetos que nos unam uns aos outros e que beneficiem todos, como por exemplo projetos com Africa, nomeadamente um S. Tomé e Príncipe em curso, para capacitar o ensino superior.

– Uma inspiração?

Papa Francisco – como ele galvanizou a juventude nas Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ)

Um sonho para o futuro da FCNAUP?

A sua projeção a nível nacional e internacional – está no bom caminho!