Três projetos de investigadores da Universidade do Porto no domínio da saúde acabam de ser selecionados para integrar o programa HiTech One, uma iniciativa da HiSeedTech que tem como objetivo auxiliar investigadores a desenvolver as suas propostas de trabalho na área da ciência e tecnologia.

Durante oito semanas, as equipas dos 11 projetos premiados vão poder desenvolver e validar a sua proposta para um produto ou serviço e desenvolver competências para comercialização das tecnologias desenvolvidas.

Uma das tecnologias premiadas chama-se Chemi-Tumor, foi desenvolvida na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), e tem como objetivo usar o sistema quimioluminescente de um composto presente em organismos marinhos como a anémona, as lulas e os camarões como base para uma terapia anti-cancro inovadora.

“A Coelenterazina faz com que esses organismos emitam luz num processo semelhante ao que estamos mais habituados a ver em pirilampos, devido a uma reacção química em que energia é produzida na forma de luz”, explica Luís Pinto da Silva, investigador no Departamento de Geociências, Ambiente e Ordenamento do Território, na FCUP e no Centro de Investigação em Química da Universidade do Porto.

E como é que esta tecnologia pode combater o cancro? “Partimos deste sistema para desenvolver novas moléculas que são ativadas por um marcador tumoral e que usam a energia produzida na sua reacção quimioluminescente para gerar, em vez de luz, espécies reactivas de oxigénio que são responsáveis por destruir tumores”, esclarece o investigador acerca deste “mecanismo seletivo para células tumorais.

Este programa vem dar financiamento ao projeto para o próximo passo do Chemi-Tumor. Depois do processo de validação  pré-clínico in vitro, falta agora a validação da tecnologia em modelos animais. “Estas moléculas  parecem ter potencial para tratar vários tumores sem afectar tecidos saudáveis, o que é algo bastante importante para reduzir efeitos secundários no tratamento”, refere Luís Pinto da Silva.

Por detrás desta tecnologia que está pendente de patente, está também a investigadora Carla Magalhães, estudante de doutoramento em Química da FCUP, Patrícia González-Berdullas, colaboradora do CIQUP, e os docentes e investigadores da FCUP, Joaquim Esteves da Silva, do DGAOT e José Enrique Rodriguez Borge, do Departamento de Química e Bioquímica.

Grafeno vs infeções e tromboses

Entre as tecnologias selecionadas pelo HiTechOne inclui-se também o GrapHEMA, uma tecnologia desenvolvida por investigadores do grupo Bioengineered Surfaces do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) da U.Porto e que promete “revolucionar o desempenho dos dispositivos para contacto com sangue”.

Através deste projeto, a equipa “GraphTEAM”, constituída pelos investigadores Andreia Pereira, Duarte Moura, Helena Ferreira, Inês Gonçalves e Patrícia Henriques, pretende resolver as duas principais complicações associadas àqueles dispositivos: a ocorrência de trombose e infeção.

Na prática, “a tecnologia consiste em tornar um material muito macio já aprovado pela FDA e aplicado na produção de lentes de contacto, num material suficientemente resistente para ser aplicado como dispositivo de contacto com sangue – como é o caso de um vaso sanguíneo sintético ou um cateter. Estas propriedades são conseguidas através da incorporação de derivados de grafeno, o material mais forte do mundo”, explicam os investigadores.

O biomaterial resultante deste processo – o GrapHEMA, é muito versátil, podendo ser produzido em diversas formas mantendo a sua flexibilidade, apresenta grande durabilidade, um baixo custo de produção, resiste a formação de coágulos sanguíneos e contaminação por agentes microbianos.

Segundo os membros da equipa, a participação no Programa HiTechOne permitirá, para além da forte formação em empreendedorismo, o desenvolvimento de uma proposta de valor do produto, constituindo “uma oportunidade imperdível para tornar a transferência do GrapHEMA para o mercado uma realidade”. 

A implementação desta tecnologia, já submetida para patente internacional em colaboração com Fernão Magalhães, professor do LEPABE/FEUP, terá impacto em diversas doenças e procedimentos médicos, como, por exemplo, nas doenças coronárias e arteriais periféricas e em doentes que necessitem de hemodiálise ou administração sistémica de fármacos.

Para além dos dois projetos referidos, o programa HiTech One vai ainda contar com a participação do Self-Stacked Systems, um projeto liderado pelos investigadores António Silva, Sofia Leite, do CINTESIS, em parceria com o Instituto de Saúde Pública da U.Porto (ISPUP) e com o ISEP. Desta colaboração espara-se que nasça “a solução mais avançada de Inteligência Artificial, capaz de aprender, melhorar e evoluir ao longo do tempo”