A Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), a ATLAR, startup sediada na Pampilhosa da Serra, e a Critical Software venceram o concurso de desenvolvimento de software de serviços e infraestruturas do software que garantirá o funcionamento do Square Kilometre Array (SKA), o maior telescópio alguma vez construído.

O SKA vai permitir que a astronomia inicie uma viagem científica muito mais profunda do que a que fez até aqui. Com a construção das duas maiores redes de radiotelescópios alguma vez vistas, a recolha de dados será muito superior à existente.

O telescópio será composto por duas redes instaladas na África do Sul e na Austrália, sendo o primeiro composto por 197 antenas orientáveis de 15 metros de diâmetro, e o segundo por 131.072 antenas periódicas de registo fixo. Para que o funcionamento e a utilização ótima destas duas redes sejam assegurados, é necessário desenvolver software e soluções informáticas que garantam a sua implementação. 

Na verdade, a ligação da FCUP ao projeto do Square Kilometre Array Observatory (SKAO) remonta a 2014, ano em que passou a estar envolvida nas “fases de desenho e pré-construção” do radiotelescópio. Desde essa altura, a faculdade “teve sempre entre um e três académicos a trabalhar a tempo inteiro para o SKA”, como explica Dalmiro Maia, do Observatório Astronómico Prof. Manuel de Barros da FCUP. 

Dalmiro Maia será um dos responsáveis, na FCUP, pelo desenvolvimento de software para os radiotelescópios. (Foto: DR)

Com este concurso, a FCUP “vai trabalhar sobretudo sobre a Software Defined Infrastructure”. Uma vez que “as cadeias de processamento dos dados e de controlo dos telescópios que fazem parte do SKA têm de ser independentes do hardware físico”, é necessário que “o processamento, armazenamento e comunicação das várias cadeias de controlo dos telescópios e processamento dos dados” sejam definidas em software.

Dalmiro Maia diz estarem a ser criadas “máquinas virtuais” cujas características “seguem sempre os mesmos padrões específicos, não interessando qual a plataforma de supercomputação que está a ser utilizada”.

A FCUP vai criar e disponibilizar essas máquinas virtuais em “plataformas de supercomputação”, monitorizando o seu desempenho, desenvolvendo ainda “ferramentas para que as várias equipas possam correr os seus códigos de forma segura e eficiente”. 

3,1 milhões de euros para o desenvolvimento de serviços e infraestruturas

No total, os contratos garantidos pela ATLAR, a Critical Software e a FCUP perfazem 3,1 milhões de euros. As duas empresas e a faculdade portuense, selecionadas no âmbito de um concurso organizado em Portugal pelo Observatório SKA (SKAO) no quadro da política de geo-retorno da instituição, vão participar no desenvolvimento de serviços e infraestruturas que sirvam de base a todo o software que garantirá o seu funcionamento. Isso inclui serviços de análise, conceção, construção, codificação, testes, verificação, validação, implementação, lançamento, manutenção, depuração e documentação de software e sistemas informáticos.

“Estes são os primeiros contratos entregues a empresas portuguesas pelo SKAO, que resultam do investimento que Portugal está a fazer numa das mais ambiciosas organizações científicas mundiais”, sublinha Luís Serina, responsável pela política industrial da Portugal Space.

“Isto permite que Portugal esteja na linha da frente daquele que é um projeto científico emergente e transformador, ao mesmo tempo que as empresas e centros de investigação nacionais desenvolvem capacidades tecnológicas numa área fundamental do conhecimento e reforçam o seu potencial de crescimento”, acrescenta.

Dalmiro Maia sublinha ainda que o Engage SKA foi “fundamental” pelo envolvimento de entidades portugueses no projeto, que cresceram no mercado internacional a partir desta contribuição.

Do lado da FCUP, existe “um enorme interesse pelo potencial de descoberta e inovação do SKA” e, por isso, esta é uma oportunidade para a academia “trabalhar em proximidade com a indústria” e familiarizar-se “com os métodos de trabalho e tecnologias usadas os grandes projetos internacionais”, acrescenta o investigador.

Recorde-se que Portugal é um dos membros fundadores do SKAO, que se constituiu em fevereiro de 2021 e é a Agência Espacial Portuguesa que atua em nome do Governo português nesta matéria, promovendo a comunidade científica e as empresas nacionais no quadro deste organismo e reforçando a presença do país nos principais palcos mundiais.