O Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto (CIIMAR-UP) integra o consórcio internacional AquaCombine, cujo objetivo é otimizar sistemas de produção de aquacultura sustentáveis e “zero waste”.

Atualmente, são já conhecidos modelos integrados de produção de peixes e hidroponia (de produção de vegetais sem utilização de solo), de forma a valorizar o potencial das plantas na renovação da qualidade da água em circulação no sistema. Mas o projeto Aquacombine vai mais longe, propondo um modelo para produção de peixes e plantas de água salgada que promete gerar zero desperdícios.

Este consórcio, formado por 17 parceiros de sete países e liderado pela AALBORG University na Dinamarca, tem como principal objetivo otimizar os processos de produção de peixes em sistemas de recirculação fechados, em paralelo com a produção de vegetais halófitas, como a Salicornia. A ideia é converter os resíduos gerados em extractos botânicos, compostos bioativos para uso em indústria farmacêutica, cosmética e alimentar, e bionergia.

Segundo o investigador Benjamín Costas, responsável pelo projeto no CIIMAR, este é mesmo “o primeiro modelo de produção de peixe e plantas de agua salgada com zero desperdícios e que irá potenciar a sinergia entre o setor agroalimentar e a bioindústria”.

Aposta na cooperação

O trabalho do CIIMAR neste consórcio foca-se sobretudo nos aspetos ligados à incorporação dos extratos de salicórnia em dietas, através de ensaios de digestibilidade e análise do seu efeito na resposta inflamatória e no restante sistema imunitário dos organismos.

Benjamín Costas exemplifica com exemplos práticos: “pretendemos contribuir para uma aquacultura mais sustentável ao incorporar proteína e lípidos a partir da biomassa de salicórnia em dietas para robalo e camarão” e ainda “testar o seu potencial immunomodulador (aumento da resposta do sistema imunológico) nestas espécies.”

Para isso, o CIIMAR está a trabalhar em estreita colaboração com outras entidades: a Riasearch e uma equipa do Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro. A Riaserach é responsável pelos ensaios de crescimento de camarões e robalos e também de salicórnia, para testar diferentes condições de cultivo e fornecer biomassa aos restantes parceiros. Já os colegas da UA são responsáveis pela análise ligada ao stress oxidativo e danos celulares ao nível do DNA.

As espectativas são, por isso, altas para o projeto AquaCombine que espera combinar dois sistemas estabelecidos no sistema agroalimentar: a aquacultura e a produção de halófitas. Pretende-se ainda estimular a produção de novos fitoquímicos através da produção de halófitas, bem como outros produtos com origem biológica (biogás, carvão ativado) associados aos resíduos gerados na produção de halófitas.

O projeto espera ainda ter um papel no processamento dos extratos botânicos integrais. Como exemplo, o AquaCombine pretende desenvolver a produção de proteína e lípidos de valor acrescentado e o isolamento de produtos de elevado valor como carotenoides e ácidos hidroxicinâmicos com potencial antioxidante e anti-inflamatório.

Tendo em conta a filosofia Europeia da “bio-based economy” o AquaCombine apresenta-se igualmente como um verdadeiro caso de estudo biotecnológico com potencial para replicar a tecnologia gerada em modelos de negócio sustentáveis e de baixo investimento, criação de postos de trabalho e ainda no desenvolvimento de recomendações políticas para aplicação de tecnologias similares.