Para proteger as espécies da extinção, o foco deve estar na proteção do habitat e não na diversidade genética. O alerta é lançado num estudo conduzido por investigadores da Universidade de Adelaide, na Austrália, que tem como primeiro autor o cientista português João Teixeira, mestre em Genética Forense pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP).

Num artigo que acaba de ser publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, os cientistas demonstram que não existe uma relação simples entre a diversidade genética e a sobrevivência das espécies, ao contrário do que se pensava.

Até agora, acreditava-se que, se uma espécie mostra pouca diversidade genética, significa que é frágil e terá maior probabilidade de se extinguir, ao passo que populações com maior diversidade genética terão maiores probabilidades de sobreviver em condições adversas. O que a equipa de João Teixeira veio demonstrar é que não é a baixa diversidade genética que leva a uma diminuição do número de indivíduos e à extinção das espécies. É precisamente o reduzido número de indivíduos no passado mais ou menos recente que leva a uma diminuição da diversidade genética. “Este é um dos grandes mitos da Genética da Conservação que nós desconstruímos neste artigo”, revela o investigador.

“Neste estudo, mostramos que esta relação simples entre a diversidade genética e a sobrevivência está muitas vezes errada”, explica ainda o cientista português. E acrescenta: “A maior parte da diversidade genética dentro de um genoma é “neutra”, o que significa que não melhora nem diminui a capacidade de um indivíduo sobreviver ou produzir descendentes. Por outro lado, a diversidade genética que afeta a sobrevivência ou a capacidade de adaptação de uma espécie às mudanças ambientais é encontrada em regiões muito específicas do genoma e não está de forma alguma relacionada com a diversidade genética da população”.

Importância das mutações genéticas numa determinada espécie

Para este estudo, conduzido por João Teixeira e por Christian Huber, da Escola de Ciências Biológicas da Universidade de Adelaide, os investigadores compilaram um amplo conjunto de resultados de experiências em laboratório e estudos de campo que sugerem a necessidade de reavaliação na medição e interpretação da diversidade genética para a conservação das espécies.

Os autores do estudo sugerem que não existe uma medida simples do risco de extinção de “tamanho único” e que é preciso estudar cada espécie individualmente. “É importante saber quais as mutações genéticas que permitem que uma determinada espécie prospere e quais mutações que levam a doenças que podem ameaçar a espécie”, realça João Teixeira.

Em vez de se apostar na conservação de populações com maior diversidade genética, deve apostar-se em estudos que visem compreender a variação genética do ponto de vista qualitativo, como essas variantes interagem no genoma e quais os seus impactos na adaptação das espécies às mudanças ambientais

Os investigadores avisam ainda que, embora a genética possa desempenhar um papel importante em certos casos, a fixação na diversidade genética muda o foco muito necessário de um problema ainda maior: a destruição do habitat.