O ano começou de forma promissora para Diogo Valente Polónia, antigo estudante do Mestrado em Engenharia e Gestão Industrial da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP). Venceu o Prémio Cidadania Ativa 2024, na vertente da Defesa do Ambiente, pela criação da “derradeira solução” para eliminar o uso de copos descartáveis em máquinas de vending e eventos.

Estávamos no início de 2023 quando nascia o Loopack, um projeto alicerçado num sistema circular, com base numa tecnologia IoT, para reutilização de copos, apresentando-se como uma alternativa ecológica aos copos de utilização única.

“Temos o sonho de eliminar o copo descartável de uma vez por todas e diminuir o desperdício associado ao consumo de café e outras bebidas, principalmente em máquinas de vending e em eventos”, avança o alumnus da FEUP.

Baseado numa ideologia de custo e esforço mínimos, a Loopack pretende entregar ao consumidor uma experiência sem gastos acrescidos e usufruir de um copo reutilizável com toda a conveniência de um copo descartável. “Para isso, basta comprar um café numa máquina de vending, de onde sai um copo Loopack, colocando-o posteriormente num dos nossos Smart Bins no local”, acrescenta Diogo Valente Polónia.

Para o jovem engenheiro, que se encontra atualmente em Bruxelas a trabalhar no Conselho da União Europeia, o Prémio Cidadania Ativa “representa a validação do ideal do crescimento sustentável”.

“As soluções ambientais surgem da inovação e tecnologia e podem ser compatíveis com o crescimento do consumo (e económico), se nos focarmos em colocar os incentivos nos locais corretos. No caso do Loopack, o objetivo foi mesmo esse, mudar o sistema para que o ónus da reutilização deixasse de estar nos consumidores”, confessa o antigo estudante.

No futuro, a equipa pretende desenvolver ainda mais a tecnologia e o seu sistema integrado com o objetivo de obter uma taxa de retorno de 99.8%, equivalente a uma média de 500 utilizações por copo. “Estamos já a trabalhar no processo e logística de execução de outros testes em mais eventos e pontos de vending, para avaliarmos os diferentes comportamentos da tecnologia”, conclui Diogo Valente Polónia.

Diogo Valente Polónia trabalha atualmente no Conselho da União Europeia, em Bruxelas. (Foto: DR)

Naturalidade? Gondomar.

Idade? 24.

– De que mais gosta na Universidade do Porto?

Das oportunidades, liberdade e abertura para explorar! A nível prático, esta capacidade de exploração que a U.Porto oferece deve-se a três grandes fatores. O mar de oportunidades praticamente sem limites que encontrei, quase de forma passiva, logo quando entrei: associações, estágios, incubadoras, centros de investigação, e muitos programas e ferramentas de aprendizagem. A liberdade para experimentar diferentes áreas. Não fui limitado aos estudos de gestão industrial, tive acesso a UCs de outros cursos e mesmo faculdades e pude, ainda, fazer, por exemplo, um intercâmbio no Chile maioritariamente focado em desenho, avaliação e otimização de políticas públicas (algo que definitivamente mudou a minha carreira). E a abertura e proximidade dos docentes. Professores que se esforçam por apoiar e dar asas aos estudantes.

Ainda hoje, mesmo já não sendo estudante, conto com a ajuda de vários docentes que disponibilizam o seu tempo e conhecimento. A Loopack, por exemplo, não existiria sem esse suporte.

– De que menos gosta na Universidade do Porto?

A distância geográfica entre os campus e unidades orgânicas. Embora seja algo difícil de executar, maior proximidade física traria maior interação entre estudantes. Seria, sobretudo, interação social o que seria positivo só por si, mas que se poderia refletir também em abertura de mentalidades, partilha de conhecimento e maior inovação por cruzamento de ideias.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?

Poderei estar enviesado… mas tenho de dizer que seria a implementação da Loopack para maior sustentabilidade e circularidade em toda a Universidade. Hoje, já não precisamos de copos descartáveis!

– Como prefere passar os tempos livres?

Nada como estar numa esplanada ao sol, a conversar com amigos e familia, com alguma bebida fresca na mão

Um livro preferido? É difícil de responder. Alguns que me foram marcando ao longo do tempo: O Senhor das Moscas (William Golding); Ride of a Lifetime (Bob Iger); Tempos Duros (Mario Vargas Llosa)

Um disco/músico preferido?

António Variações (”Estou além” parece-me imbatível)

Um prato preferido?

Cozido à Portuguesa (é a primeira coisa que quero comer sempre que regresso a Portugal)

Um filme preferido?

Tendo a gostar dos filmes de Martin Scorsese. Talvez salientasse “The Departed”.

Uma viagem de sonho (realizada ou por realizar)?

Tive a sorte de poder viajar bastante durante a minha vida académica, muito graças à Universidade, através de programas de intercâmbio e de diversas associações de estudantes. Mas a sede por explorar e absorver o que o mundo todo tem para oferecer é insaciável! Na verdade, “eu só quero ir, aonde eu não vou” (António Variações).

(Foto: DR)

– Um objetivo de vida?

Acho que os meus interesses e, por consequência, os meus objetivos mudam todos os anos. O que não tem mudado é o desejo de sentir que dei o meu melhor por qualquer um desses objetivos.

– Uma inspiração?

Os meus pais são sempre uma grande fonte de inspiração e de aprendizagem! Acho também que tive a sorte de me poder inspirar nos meus amigos (para qualquer das áreas da minha vida consigo sempre identificar pelo menos um amigo que sonha mais alto, faz mais ou melhor).

– O projeto da sua vida…

Em largos termos, esforço-me por contribuir para um mundo mais sustentável (em todos os seus eixos) através da tecnologia e inovação.

– Uma ideia para promover uma maior ligação entre a Universidade e a comunidade?

A “comunidade” tem muitas vertentes (empresarial, social, desportiva, académica, etc.), o que se torna difícil de auscultar por uma só instituição. O maior e mais numeroso ativo para auscultação que a Universidade tem são os próprios estudantes. Estudantes esses que exprimem já uma grande vontade de ligação à comunidade, que se materializa nos diferentes projetos e associações que criam ou em que participam. Por isso, parece-me que a Universidade deve focar-se no apoio a esses projetos e não no desenvolvimento de iniciativas próprias. Isto pode passar, por exemplo, pelo reconhecimento destas atividades a nível curricular, ou através de integração de um UC cujo âmbito seja mesmo a participação ou desenvolvimento dessas iniciativas.