Num artigo publicado esta quarta-feira, na revista Biodiversity Data Journal, uma equipa de cientistas liderada pelo Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (BIOPOLIS-CIBIO) da Universidade do Porto decifra, pela primeira vez, o ADN de dezenas de espécies de gafanhotos, grilos e saltões existentes em Portugal.
O estudo abrangeu um total de 119 espécies (cerca de 77%) de Portugal, incluindo os primeiros exemplares observados no país de um gafanhoto pertencente à espécie Stenobothrus lineatus. Ao todo, foram publicados os códigos de barras de ADN de 420 exemplares de gafanhotos, grilos e saltões capturados em Portugal continental entre 2005 e 2021.
Com o trabalho agora publicado, 54 espécies passam a estar representadas pela primeira vez nas bases de dados mundiais permitindo uma melhor compreensão da fauna ibérica.
“Neste conjunto de dados estão incluídas espécies emblemáticas, como por exemplo o grilo-de-sela-português (Ephippigerida rosae), uma espécie que ocorre apenas em Portugal continental e que foi avaliada como Vulnerável no primeiro Livro Vermelho dos Invertebrados de Portugal Continental” refere Sílvia Pina, entomóloga no BIOPOLIS-CIBIO.
Maior conhecimento para uma melhor preservação
Atualmente, ainda há um desconhecimento muito grande relativamente a estas espécies presentes em Portugal. Além de não existir uma checklist coerente, a ocorrência de muitas delas é apenas conhecida através de observações esporádicas. A decorrer continua o trabalho de inventariação e a descrição de algumas espécies novas para a ciência.
“O trabalho agora publicado aumenta consideravelmente o conhecimento sobre as espécies e sua distribuição em Portugal continental e permite que as mesmas possam ser detetadas por métodos moleculares, permitindo também identificar espécies ameaçadas de extinção”, esclarece Sónia Ferreira, também entomóloga do BIOPOLIS-CIBIO e responsável pela iniciativa IBI: InBIO Barcoding Initiative neste centro.
Sílvia Pinta nota por sua vez que “os saltões, grilos e gafanhotos ainda apresentam grandes desafios taxonómicos que só serão possíveis de resolver integrando várias abordagens onde os estudos moleculares têm um papel fundamental”.
Os animais estudantos foram identificados recorrendo às suas caraterísticas morfológicas e posteriormente foi retirado uma amostra de tecido para sequenciação do seu código de barras de ADN. Todos os extratos de ADN assim como os exemplares estão depositados na coleção do BIOPOLIS-CIBIO em Vila do Conde ao abrigo da iniciativa IBI: InBIO Barcoding Initiative.
A publicação surge no contexto do projeto “Biodiversity Genomics Europe (BGE)” que reúne cientistas de 33 entidades parceiras, provenientes de 20 países europeus, num esforço sem precedentes para aplicar a genómica na investigação da biodiversidade que irá mudar as políticas e a ciência da conservação na Europa.