Não faltaram as referências ao passado, as tradições protocolares, nem faltaram as esperadas evocações aos 50 anos do 25 de Abril. Mas, no dia em que a Universidade do Porto celebrou o seu 113.º aniversário, foi ao futuro da instituição (e não só) que mais se apontou durante a Sessão Solene do Dia da Universidade 2024.

Num discurso de balanço do último ano fortemente marcado pelas referências à Revolução, o Reitor da U.Porto começou por “recordar e honrar a memória daqueles que ousaram imaginar que o nosso futuro podia ser mais digno e inteiro”. Um futuro em que “a Universidade continuará firmemente empenhada em afirmar-se pela qualidade dos estudantes que forma, pela excelência da Ciência que produz, pela capacidade de transmitir os resultados da sua investigação ao tecido económico do país e pela consolidação do seu papel enquanto agente do progresso”, garantiu António de Sousa Pereira.

Estava dado o mote para uma intervenção em que foram destacados os grandes projetos que prometem marcar o horizonte da instituição, a curto e médio prazo. A começar pela “concretização do Centro de Inovação e Desenvolvimento a construir em terrenos da antiga refinaria de Leça da Palmeira, o qual constitui o primeiro passo do maior projeto da Universidade do Porto para as próximas décadas”.

Com um investimento total previsto de cerca de 30 milhões de euros, “este primeiro edifício permitirá criar um centro de excelência e de interação com as empresas no domínio da energia verde, das telecomunicações e da perceção computacional”, explicou o Reitor, acrescentando que “esperamos concluir ainda este ano o projeto de arquitetura do edifício”.

António de Sousa Pereira sublinhou ainda o trabalho em curso no Edifício Abel Salazar, um projeto “orçado em quase dez milhões de euros” e que, até ao final deste ano, deverá “devolver” à Universidade um “equipamento que pretende privilegiar a formação contínua ao longo da vida”, bem como “a investigação biomédica e a interação com a comunidade”.

Também previsto para este ano está o “início da construção do FLUP-ID, uma infraestrutura que melhorará de forma significativa as condições proporcionadas aos investigadores da nossa Faculdade de Letras”. Já no polo da Asprela, destaca-se a “a requalificação do casario da Quinta de Lamas, que criará um centro de promoção de inovação entre a universidade e a indústria, orçado em quase 3 milhões de euros”.

2024 é também ano em que a U.Porto espera concluir o trabalho de reabilitação do Estádio Universitário e “iniciar as empreitadas em mais três residências — António Cardoso, Jayme Rios de Sousa e Campo Alegre II” inseridas no “ambicioso plano” da instituição na área do alojamento estudantil.

No “plano de expansão” da Universidade cabem ainda a “já anunciada construção de um e-learning café em terrenos contíguos à Faculdade de Arquitetura, inserido na futura estação do Campo Alegre do Metro do Porto”. Àquela empresa caberá igualmente a “requalificação do espaço exterior da FAUP e o custo do projeto de arquitetura da extensão da faculdade, a desenvolver pelo arquiteto Álvaro Siza Vieira”.

A festa dos 113 anos da U.Porto em 113 imagens

Olhar em frente “com os pés mergulhados no rio do progresso”

Mas nem só de obras e empreitadas se faz o presente e o futuro da U.Porto. No domínio do ensino, o Reitor prometeu “continuar a apostar no processo de modernização curricular e de capacitação dos seus docentes, mas também na diversificação da oferta formativa e na formação à distância de qualidade”.

Do presente da Universidade faz já parte o ambicioso Programa de Formação Multidisciplinar da U.Porto, que, só este ano letivo, permitiu criar “mais 46 formações no âmbito do Impulso Adultos, nas quais se inscreveram 1370 pessoas”.

António de Sousa Pereira não deixou igualmente de elencar os avanços alcançados pela Universidade noutras áreas: na internacionalização (por via do alargamento da EUGLOH – a que a U.Porto presidirá em 2025 – e da crescente participação no programa Erasmus+); na relação com as empresas (deu como exemplo uma nova parceria com a Bosch na área da inteligência artificial); na inovação e empreendedorismo (em 2023, a U.Porto voltou a ser a universidade portuguesa com mais pedidos de patentes internacionais); na promoção da empregabilidade (através do lançamento de “oito programas de intervenção para estudantes e graduados”); na cultura (elogiou o trabalho desenvolvido pela Casa Comum e pelo Museu de História Natural e da Ciência); e nos recursos humanos (através da “melhoria das condições salariais e de trabalho do pessoal técnico” e do “rejuvenescimento do corpo docente”).

Perante uma plateia composta pelos líderes das principais instituições da cidade e da região e pelo corpo de professores doutorados da U.Porto, o Reitor  não deixou, contudo, de alertar para os obstáculos que se colocam no caminho. E deu como exemplo a “indefinição gerada pela crise política dos últimos meses, que suspendeu um conjunto de iniciativas legislativas fundamentais para o setor do Ensino Superior, como o novo Regime Jurídico das Instituições do Ensino Superior, o novo Estatuto da Carreira Docente Universitária ou a definição do programa FCT Tenure”.

“Urge que recuperemos o mais depressa possível o tempo perdido, mas também que o façamos de forma a, de uma vez por todas, conferir estabilidade aos instrumentos de gestão do Ensino Superior e da Ciência em Portugal, garantindo que as universidades dispõem, a médio e longo prazo, de mecanismos amplamente consensualizados e estáveis”, exortou o Reitor.

Dificuldades que, para António de Sousa Pereira, não desviam a U.Porto do seu caminho: “Cinquenta anos depois do 25 de Abril, o rio da história, seja como for, segue correndo diante da nossa porta e não se pode detê-lo com as mãos. Resta-nos, dar o passo que nos permita mergulhar nele e assim continuar a fazer parte da água do futuro”, rematou.

Richard Zimler: “Aprendam com a história”

Aplaudido de pé. Foi desta forma que o escritor Richard Zimler se despediu do Salão Nobre da U.Porto depois de 28 minutos de um discurso em que entrecruzou o seu percurso literário com repetidos apelos ao humanismo.

Confessando-se “perplexo e confuso” com o “mundo  cheio de ódio em que vivemos”, o escritor radicado no Porto há mais de 30 anos realçou a importância de viver em democracia. E apelou a uma sociedade mais solidária e justa para com as “pessoas que não têm voz”.

Dirigindo-se aos estudantes, o antigo professor da U.Porto [lecionou no curso de Ciências da Comunicação entre 2000 e 2005), pediu que “estudem o passado e façam tudo o que puderem a fim de fazer do mundo um lugar igualitário, pacífico e compassivo para todos”. E deixou o desafio: “Aprendam com a história e sejam as mudanças que precisamos de fazer no mundo. O vosso exemplo mostrará a todos os caminhos a seguir”.

Antes de Zimler, e logo no arranque a sessão, já o Presidente do Conselho Geral, Fernando Freire de Sousa, havia tomado a palavra para agradecer a todos os que contribuem para fazer da U.Porto uma instituição de excelência. Pelo meio, sublinhou a importância da aposta “na ciência e na inovação” de forma a garantir “sobrevivência e longevidade saudáveis” da instituição.

Pelo púlpito da cerimónia do Dia da Universidade 2023 passaram ainda Francisco Porto Fernandes e Hugo Pinto de Abreu, na qualidade de representantes dos estudantes e dos trabalhadores da U.Porto, respetivamente.

Começando por destacar a “democratização do ensino superior” como “uma das maiores conquistas de Abril”, o novo Presidente da Federação Académica do Porto (FAP) enalteceu o papel da U.Porto enquanto “chave para o desenvolvimento”. Para o futuro, pediu uma “universidade humanista (…), com mais participação estudantil (…) e que se afirme enquanto “espaço de segurança, de demoraria, e de liberdade”.

Já á o representante dos trabalhadores no Conselho Geral sublinhou o “carácter sagrado da autonomia universitária” em todas as suas formas e a urgência de dotar as instituições de ensino superior portuguesas de melhores instrumentos para competir a nível internacional.

Pedro Nuno Teixeira: “O futuro urge!”

A responsabilidade de encerrar a sessão coube ao Secretário de Estado do Ensino Superior, Pedro Nuno Teixeira. Naquela que terá sido a sua última intervenção pública enquanto Secretário de Estado, o governante referiu que “nunca tantas expectativas foram colocadas no Ensino Superior” e questionou o que pode ser feito para que este continue a ter a relevância que tem nos dias de hoje.

Sem esconder o “orgulho” pelo momento festivo, o também professor da Faculdade de Economia da U.Porto (FEP) desafiou a Universidade a “pensar o futuro” como forma responder aos “desafios complexos” que enfrenta. Um exercício que passará por “adaptar a formação dos estudantes aos novos desafios e mudanças”, sem deixar de ser fiel “à visão da instituição”, ainda que “num mundo diferente”.

A terminar, Pedro Nuno Teixeira alertou para a necessidade de as Universidades terem “autonomia estratégica” e lançou o repto à U.Porto: “que não tenha pressa em liderar as mudanças que são necessárias fazer, mas também que não perca tempo, porque o futuro urge!”.

Premiar a excelência

A Sessão Solene do Dia da Universidade 2024 foi também o momento para celebrar o méritos dos membros da comunidade que mais se destacaram no último ano em diferentes vertentes.

Dos Prémios Incentivo, entregues aos melhores estudantes de primeiro ano de licenciaturas e mestrados integrados, ao Prémio Excelência na Investigação Científica, passando pelo Prémio Prática Pedagógica Inovadora ou pelo Prémio Cidadania Ativa, a U.Porto reconheceu, mais uma vez, os melhores entre os melhores.

A cerimónia contou com a participação de 21 dos 22 estudantes distinguidos com o Prémio Incentivo 2024. (Foto: Egidio Santos/U.Porto)

Ponto alto da cerimónia foi também a proclamação dos novos Professores Eméritos, reconhecimento atribuído este ano a 14 professores/as jubilados/as e reformados/as que se destacaram pelos seus altos serviços prestados à U.Porto.

Recorde abaixo os principais momentos da Sessão Solene do Dia da Universidade 2024.