A cientista Maria João Saraiva, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), foi recentemente distinguida com o Prémio Giampaolo Merlini, atribuído pela Sociedade Internacional de Amiloidose, como reconhecimento do trabalho que tem desenvolvido na área da polineuropatia amiloidótica familiar (PAF), também conhecida como paramiloidose ou «doença dos pezinhos». Este prémio reconhece “realizações notáveis na investigação clínica e/ou translacional no campo da amiloidose (…) e centra-se em avanços inovadores no campo da amiloidose ou em contribuições extraordinárias nesta área”.

Para Maria João Saraiva receber este prémio é “uma grande honra”, já que, explica, “representa um reconhecimento internacional da importância do trabalho realizado ao longo de 40 anos e as suas consequências nas bases científicas das amiloidoses e do seu tratamento, em particular na paramiloidose”.

A polineuropatia amiloidótica familiar (PAF) foi descrita pela primeira vez na população portuguesa na área da Póvoa do Varzim pelo neurologista Corino de Andrade, mas o nome da investigadora Maria João Saraiva está vinculado à descoberta dos mecanismos bioquímicos e genéticos responsáveis pela doença, nomeadamente a formação de depósitos de moléculas de amilóide derivada de transtirretina (TTR), especialmente nos nervos periféricos.

A partir destas descobertas fundamentais, Maria João Saraiva alargou o seu campo de investigação às vias de sinalização que desempenham um papel importante em situações de lesões cerebrais, particularmente no quadro da doença de Alzheimer e da isquemia cerebral.

A investigadora irá receber o prémio na conferência anual da Sociedade, que se realiza em maio de 2024 no Minnesota, Estados Unidos, altura em que irá também apresentar o seu trabalho na denominada Giampaolo Merlini Lecture.

Sobre Maria João Saraiva

Licenciada em Biologia pela Universidade do Porto (1976), Maria João Saraiva é mestre em Bioquímica pela Universidade de Londres (1978) e doutorada na mesma área pela U.Porto (1984).

Foi professora de Bioquímica no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), tendo sido nomeada Professora Catedrática em 1991. Trabalhou igualmente, durante vários períodos, como Visiting Scientist na Universidade de Columbia, em Nova Iorque. Em 1997 começou a fazer investigação no Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC), que agora integra o i3S, e é, atualmente, líder do grupo de investigação «Molecular Neurobiology» no i3S.

Autora de mais de 250 artigos em revistas especializadas e de várias revisões sobre o tema polineuropatia amiloidótica familiar e biologia da transtiretina, Maria João Saraiva já foi distinguida com vários prémios: Em 1996, recebeu o Prémio Seiva de Serviços à Ciência atribuído pela Câmara Municipal do Porto, em 2009 o Prémio Gulbenkian Ciência, da Fundação Calouste Gulbenkian, pelo seu trabalho na área da Biomedicina, em particular na investigação dos mecanismos da PAF.

Em 2019, recebeu do Governo Português a Medalha Nacional do Ministério da Ciência de Mérito Científico, pela sua contribuição para o desenvolvimento da ciência no país.