Hugo de Almeida Vilares, professor da Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP), é um dos autores do estudo “A crise da habitação nas grandes cidades – uma análise”, o primeiro policy paper da Fundação Francisco Manuel dos Santos, que visa propor caminhos concretos para responder à dificuldade que muitos dos residentes em Portugal sentem em arrendar ou comprar casa.

Esta análise, da autoria de Paulo Rodrigues, Rita Fradique Lourenço e Hugo de Almeida Vilares, procura responder a um conjunto de questões que estão atualmente no centro da discussão em torno do setor imobiliário português, nomeadamente: Qual foi o impacto da pandemia nos preços das casas? Como está a reagir o mercado à inflação? Há, ou não, sobrevalorização dos preços das casas nas principais cidades? O que podemos aprender com a experiência internacional em política de habitação? Que políticas devem ser adotadas para facilitar o acesso à habitação?

São, portanto, analisados os impactos da pandemia, da inflação e da subida das taxas de juro nos preços das casas e no acesso à habitação, identificando objetivos críticos a alcançar para resolver o problema da acessibilidade, com base em políticas de habitação adotadas por outros países.

“A evolução dos preços da habitação tem contribuído para a aceleração das desigualdades em muitos países, incluindo Portugal, onde o aumento dos preços da habitação tem superado os aumentos salariais. Esta evolução, que leva a uma deterioração do acesso à habitação, também afeta o mercado de arrendamento, uma das principais fontes de rendimento para investidores imobiliários e um dos principais gastos mensais para os inquilinos”, explica Hugo de Almeida Vilares.

Hugo de Almeida Vilares é um dos autores do primeiro policy paper da Fundação Francisco Manuel dos Santos. (Foto: DR)

“As soluções passam necessariamente por expandir a oferta de casas”

A análise realizada permitiu demonstrar, entre outros aspetos, que a procura habitacional se internacionalizou e sofreu na última década um crescimento significativo, principalmente em Lisboa e no Porto, fazendo subir os preços, e que Portugal é um mercado com uma oferta inelástica, ou seja, que cresce pouco em reação à subida de preços.

“Os países com maiores problemas no mercado da habitação tiveram de responder com políticas destinadas a aumentar a acessibilidade, particularmente dirigidas à população com rendimentos mais baixos e até com rendimentos medianos”, explica Hugo de Almeida Vilares.

Assim, avança o docente, “as soluções de médio e longo prazo passam necessariamente por expandir a oferta de casas, tendo em vista a estabilização dos preços, sendo que medidas como o controlo de rendas impactam negativamente a expansão dessa oferta no médio e longo prazo”.

Os autores do estudo propõem uma estratégia integrada de curto, médio e longo prazo, que vai ao encontro de quatro objetivos críticos: expansão efetiva da oferta e a sua resposta ao aumento de preços (isto é, a sua elasticidade); planeamento da expansão das grandes cidades e garantia da provisão de sistemas de transportes sustentáveis e de bens e serviços públicos; providenciar qualidade habitacional aos cidadãos de forma sustentável, inclusiva, harmoniosa, acessível, e com menor volatilidade de preços e rendas; e apoio temporário às famílias em situações economicamente mais difíceis.

O estudo está disponível para consulta no site da Fundação Francisco Manuel dos Santos.