Uma equipa de investigação internacional, da qual faz parte Albano Beja Pereira, investigador do CIBIO-InBIO – Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéricos da Universidade do Porto e do Centro de Investigação em Produção Agroalimentar Sustentável (GreenUPorto), docente e diretor da Licenciatura em Engenharia Agronómica da Faculdade de Ciências da U.Porto (FCUP), acaba de publicar um estudo na prestigiada revista Science, em que descreve o processo de domesticação e expansão do burro doméstico ao longo da história.

De acordo com o artigo intitulado “The genomic history and global expansion of domestic donkeys, que merece honras de capa da última edição da revista, os burros “espalharam-se como um fogo selvagem para fora de África há cerca de 4.500 anos, atingindo a Europa e a Ásia num período de apenas alguns séculos”.

Uma descoberta que “demonstra o papel fundamental que os burros desempenharam nas sociedades humanas do passado, especialmente como animais de carga, mobilizando pessoas, cultura e bens”, explica a equipa em comunicado.

O artigo merece honras de destaque na edição de 9 de setembro da Science. (Foto: DR)

Para “rastrear” o processo de domesticação e expansão do burro por todo o mundo, a equipa – composta por  49 cientistas de 37 laboratórios de vários países – recorreu àquele que é o mais extenso e completo painel genómico da espécie alguma vez reunido, com base em 207 amostras contemporâneas e 31 amostras arqueológicas de burro doméstico – incluindo amostras representativas de quatro espécies selvagens de equídeos (zebra, burro selvagem africano e asiático).

Para além de diferenças geográficas notáveis, as “marcas” deixadas no genoma dos burros permitiram determinar o momento da separação entre as diferentes populações.

Num outro artigo publicado na Science, em 2004, Albano Beja Pereira e colegas já tinham identificado o nordeste africano como o local onde teria ocorrido a domesticação do burro, há cerca de 7 mil anos. Neste novo trabalho, os investigadores estimar permitiu que  os burros domésticos terão saído de África há pelo menos 4.500 anos, tendo-se expandido rapidamente tanto para o leste na Ásia como para o oeste da Europa num período de tempo máximo de mil anos.

Os investigadores destacam “o papel fundamental que os burros desempenharam nas sociedades humanas do passado, especialmente como animais de carga”. (Foto: Cláudia Costa)

O processo de expansão do burro doméstico não seguiu, contudo, apenas uma direção, tendo regressado a África. Segundo o estudo, os burros já eram trocados entre a Europa e a África no tempo dos romanos, através do Mar Mediterrâneo. Embora essas trocas tenham ocorrido nos dois sentidos ,e continuado após o colapso do Império Romano, elas deixaram a pegada genética mais importante nos burros modernos da África Ocidental.

Os genomas mais antigos revelaram também a presença de linhagens genéticas anteriormente desconhecidas. Uma dessas linhagens foi encontrada no Levante há cerca de 2 mil anos, mas provavelmente habitava uma região geográfica muito maior, pois os investigadores conseguiram identificar vestígios do seu legado genético nos burros modernos em toda a Europa Oriental, Ásia Central e Ásia Oriental.

O estudo agora divulgadora torna ainda clara uma diferença importante entre o burro e o seu parente próximo, o cavalo. “Ao contrário dos cavalos, a consanguinidade em burros não aumentou particularmente nos tempos modernos, o que sugere estratégias reprodutivas semelhantes agora e no passado”, rematam os investigadores.