O cientista Nuno Cardoso Santos, investigador que lidera a equipa de Sistemas Planetários do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA) e professor da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), acaba de ser distinguido com uma Advanced Research Grant, no valor de 2,5 milhões de euros, atribuída pelo European Research Council (ERC).

Com esta bolsa, a maior alguma vez atribuída pelo ERC a um investigador da U.Porto, Nuno Cardoso Santos e a sua equipa vão poder aprofundar o estudo dos exoplanetas (planetas que orbitam outras estrelas que não o sol), área em que o investigador de 48 anos é uma referência mundial. Mais concretamente, o projeto FIERCE propõe-se a desenvolver novos métodos para detetar outras “Terras” no Universo.

Atualmente conhecemos mais de 5000 planetas a orbitar outras estrelas, vários deles do tipo rochoso, o que mostra que os exoplanetas são comuns no Universo. No entanto, apesar dos progressos recentes, ainda não foi possível identificar exoplanetas realmente semelhantes à Terra, à distância certa da sua estrela para serem temperados, com água líquida à superfície e uma atmosfera de nitrogénio e oxigénio.

Para avançar na resolução deste problema, “o projeto FIERCE vai-nos dar a oportunidade de desenvolver os métodos de análise de dados, que nos irão permitir detetar e estudar outras Terras, a orbitar outros sóis, utilizando instrumentos como o espectrógrafo ANDES, a ser desenvolvido para o ELT do Observatório Europeu do Sul (ESO)”, explica Nuno Cardoso Santos.

Para o também Professor Auxiliar no Departamento de Física e Astronomia da FCUP e recente vencedor da edição de 2022 do Prémio de Excelência Científica da U.Porto,  “estes métodos serão fundamentais para que se possa estudar em detalhe os planetas rochosos hoje detetados, bem como os que serão descobertos por missões espaciais futuras, como a PLATO, da Agência Espacial Europeia (ESA)”.

O projeto FIERCE (FInding Exo-eaRths: tackling the ChallengEs of stellar activity, ou encontrar exo-Terras: abordar os desafios da atividade estelar) vai abordar o problema do ruído estelar de um novo ângulo. “Para atingirmos os objetivos vamos construir um telescópio que, ligado ao espectrógrafo ESPRESSO, instalado no Observatório do Paranal do ESO, nos vai permitir obter espectros detalhados da superfície solar”, esclarece Nuno Cardoso Santos.

O PoET (Paranal solar Espresso Telescope, ou Telescópio Solar do Espresso no Paranal) irá ligar-se ao espectrógrafo ESPRESSO para estudar o Sol, de modo que a nossa estrela possa ser usada como exemplo, para identificar e compreender melhor as fontes do ruído que afetam os dados obtidos para outras estrelas do tipo solar.

Projeto de 2,5 milhões de euros vai desenvolver novos métodos para detetar outras Terras no Universo. (Foto: ESO/M. Kornmesser)

Um motivo de orgulho para a FCUP e um reforço no estudo dos exoplanetas

Com a conquista desta ERC Advanced Grant, Nuno Cardoso Santos junta-se a Adélio Mendes (FEUP) no restrito grupo de investigadores da U.Porto distinguidos com aquela que é uma das mais prestigiadas bolsas de investigação científica da União Europeia.

“Esta bolsa é um motivo de grande orgulho para a Faculdade de Ciências da U.Porto e irá certamente promover e apoiar a investigação de qualidade que se faz na nossa instituição, na área da Física e Astronomia”, refere a Diretora da FCUP, Ana Cristina Freire.

Já o coordenador do IA, Francisco Lobo, considera que “a atribuição desta ERC reforça a procura e estudo de exoplanetas, um ramo de investigação tradicionalmente muito importante no IA”. Por outro lado, trata-se de “um merecido reconhecimento da liderança excecional do Nuno Santos, além da originalidade e relevância das contribuições científicas dele e da sua equipa”, destaca o também docente e investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

Portugal na linha da frente na “caça” aos exoplanetas

A estratégia do IA nesta área, atualmente em plena implementação com o espectrógrafo ESPRESSO e com a missão espacial CHEOPS (ESA), irá continuar durante os próximos anos. Nesse sentido, os resultados do projeto FIERCE serão essenciais para o sucesso de instrumentos e missões espaciais futuras, com forte envolvimento do IA, que têm como objetivo detetar e caracterizar outras Terras, como as missões espaciais PLATO e ARIEL, da ESA, com lançamentos previstos, respetivamente, para 2026 e 2029, e a instalação do espectrógrafo ANDES no maior telescópio da próxima geração, o ELT (ESO), previsto entrar em funcionamento em 2030.

Segundo Francisco Lobo, “os dados obtidos pelo projeto FIERCE poderão ainda ser usados para outras pesquisas em que equipas do IA estão empenhadas, incluindo o estudo do Sol e da física estelar. Espera-se assim que este projeto possa servir de incentivo aos investigadores mais jovens e que abra novas portas à participação do IA em futuros projetos do ESO e da ESA”.

Note-se que esta é já a segunda vez que o ERC distingue Nuno Cardoso Santos. Em 2009, o investigador recebeu uma Starting Grant de quase 1 milhão de euros, que lhe permitiu criar a sua equipa no Centro de Astrofísica da Universidade do Porto (CAUP), organismo que se fundiu em 2014 com o Centro de Astronomia e Astrofísica da Universidade de Lisboa (CAAUL) para dar origem ao IA. Esse financiamento permitiu ainda o envolvimento científico do IA, ao mais alto nível, na conceção, planeamento e construção do ESPRESSO.

Nesta edição das Advanced Grants, o ERC recebeu 1735 pedidos de financiamento, tendo atribuído um total de 253 bolsas (cerca de 14%) . Portugal recebe três destes prestigiados financiamentos, com o projeto FIERCE a ser um de apenas dois contemplados na área das Ciências Exatas e Engenharia.