Um estudo sobre a relação entre a pré-diabetes e o risco de desenvolvimento de doença renal, desenvolvido por investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) , é o vencedor da edição 2020 do Prémio para a Melhor Publicação da Associação Portuguesa de Epidemiologia (APE), no valor pecuniário de 1500 euros.
O artigo premiado, intitulado “Impaired Fasting Glucose and Chronic Kidney Disease, Albuminuria, or Worsening Kidney Function: A Secondary Analysis of SPRINT”, foi publicado no The Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism.
“Apesar de estar bem estabelecido que a diabetes é um dos principais fatores de risco para doença renal, o papel da pré-diabetes permanecia incerto. Este estudo teve como objetivo avaliar o impacto da pré-diabetes na função renal, tendo por base a análise secundária do ensaio clínico internacional multicêntrico “Systolic Blood Pressure Intervention Trial (SPRINT)”, explica João Sérgio Neves, investigador e professor da FMUP..
As conclusões do estudo, que incluiu 9.361 participantes, indicam que a população com pré-diabetes não apresenta um risco significativamente aumentado de doença renal.
A importância do estudo
De acordo com João Sérgio Neves, “estes resultados são importantes para a prática clínica por salientarem que, em populações com pré-diabetes, o risco de doença renal parece estar mais associado a outros fatores de risco, particularmente a hipertensão, e não necessariamente como consequência direta da pré-diabetes”.
Assim, “neste grupo populacional, o principal foco de intervenção deverá ser o adequado controlo global dos fatores de risco para doença renal e a prevenção da progressão para diabetes que comprovadamente se associa a elevado risco de doença renal”.
Este trabalho surge de uma colaboração entre investigadores de várias áreas científicas e instituições, nomeadamente João Sérgio Neves, Ana Oliveira e Davide Carvalho, da FMUP e Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ), e investigadores do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central, Hospital Prof. Doutor Fernando da Fonseca, NOVA Medical School – Faculdade de Ciências Médicas, Hospital de Dona Estefânia e Harvard Medical School.
Na sequência desta colaboração foram já publicados vários outros artigos que avaliaram, nomeadamente, a relação entre a presença de albuminúria e o risco de AVC, o padrão de prescrição de anti-inflamatórios não-esteroides em doentes com diabetes em Portugal, a relação entre redução de tensão arterial e declínio da função renal e risco cardiovascular e o impacto da pré-diabetes em doentes com doença renal estabelecida e o risco de eventos cardiovasculares adversos.
Em 2018, um outro trabalho que concluía que a pré-diabetes não se associa significativamente a um aumento do risco de incidência e progressão da doença renal, valeu à mesma equipa de investigadores da FMUP/CHUSJ a conquista de um Young Investigator Award, atribuído pela Sociedade Europeia de Endocrinologia (ESE).
“Um incentivo importante para toda a equipa”
Atribuído anualmente, o Prémio para a Melhor Publicação da APE tem como objetivo reconhecer os melhores trabalhos de investigação em epidemiologia (populacional, clínica ou translacional) realizados em Portugal e publicados ou aceites para publicação.
“Pela importância e relevância da Associação Portuguesa de Epidemiologia no panorama científico em Portugal, este prémio representa um reconhecimento e um incentivo muito importante para o trabalho de toda a equipa”, reage João Sérgio Neves.
Para além do prémio pecuniaário, no valor de 1500 euros, o Prémio inclui ainda a inscrição no próximo congresso da APE, a decorrer em outubro de 2020.