O currículo é de excelência: com mais de 15 prémios e bolsas de mérito alcançados e média final de 19 valores do curso de Medicina na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), Ana Catarina Pinho-Gomes faz jus a cada distinção. A última foi o Prémio Daniel Serrão 2012, galardão atribuído anualmente ao melhor estudante de Medicina do Norte do País.

Ana Catarina Pinho-Gomes tem 25 anos de idade, é natural de Lourosa, e encontra-se atualmente a frequentar o Mestrado em Fisiopatologia Cardiovascular na FMUP. É também investigadora em Medicina Cariovascular no Departamento de Fisiologia e Cirurgia Cardiotorácica da FMUP, e aponta Medicina Cardiovascular e Oncologia Médica e Cirúrgica como as prováveis opções na escolha da especialidade.

Mas os gostos desta futura médica não se ficam apenas pela Medicina. A música constitui uma das suas paixões, tendo frequentado a Escola de Música de Paços de Brandão e assistindo, sempre que possível, a concertos de música clássica e espetáculos de ópera. A natação, a leitura e as viagens são mais algumas das suas formas favoritas de passar o tempo livre. Ana Catarina Pinho-Gomes vê nos seus pais a inspiração, e quanto ao objetivo de vida é bastante direta: fazer uso dos seus “talentos” para tornar “o mundo (um pouquinho) melhor”.

– De que mais gosta na Universidade do Porto?

A U.Porto é, sem dúvida, a universidade de referência em Portugal, senão em todos os cursos, pelo menos na maioria. Assim o sugerem as notas de acesso ao ensino superior dos alunos, não obstante as suas inerentes limitações, e o provam as conquistas de prémios, bolsas e demais sucessos pelos seus alunos, alumni, docentes e investigadores. Gosto particularmente do interesse pela inovação e do equilíbrio sempre difícil de alcançar entre preservar a tradição do ensino “escolástico” tipicamente português com as novas exigências impostas pela acelerada evolução tecnológico-científica. Por outro lado, o forte incentivo aos projetos de inovação e empreendedorismo, bem como de voluntariado e intervenção social, demonstra a importância atribuída nesta instituição à formação de “pessoas” responsáveis e autónomas, capazes de contribuírem positivamente para tornar bem mais risonho o futuro do nosso Portugal. Em boa verdade, a U.Porto oferece aos seus alunos muito mais do que o ensino especificado nos curricula dos cursos, permitindo-lhes desenvolver competências que serão inequivocamente vantajosos no acesso ao mercado de trabalho. É sem dúvida a qualidade global da formação na Universidade que garante a liderança das estatísticas relativas à empregabilidade da grande maioria dos cursos.

– De que menos gosta na Universidade do Porto?

Há dois aspetos, essencialmente, que me deixam um tanto descontente na U.Porto. Por um lado, as arreigadas competições e disputas entre professores, alunos, investigadores somente prejudicam o bom funcionamento das instituições onde trabalham. De facto, por vezes continua a parecer que o valor de alguém se julga pelo número de títulos, condecorações, prémios e demais reconhecimentos de um mérito, infelizmente que nem sempre verdadeiro… Parece-me que essas querelas não beneficiam a imagem interna nem externa da Universidade, nem do nosso país de forma geral. Por outro lado, custa-me ver que as políticas basilares e os princípios orientadores subjacentes ao ensino e investigação nas diversas faculdades não são de todo homogéneos. Se algumas faculdades primam pela constante atualização em conformidade com as normas definidas pela União Europeia e com a própria mundividência sempre em mudança na nossa sociedade globalizada; outras há que parecem cristalizadas no tempo, agarradas a um ensino totalmente obsoleto e desajustado às exigências do mundo contemporâneo. Integrar a U.Porto deveria exigir corresponder a determinados padrões estipulados centralmente, de modo que não houvesse nódoas num pano que aspira à imaculabilidade.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?

Tal como acima mencionei, penso que a definição dos princípios fundamentais em termos de ensino e investigação deveria ser feita centralmente e a sua concretização in toto deveria ser exigida a todas as faculdades.

– Como prefere passar os tempos livres?

Não posso dizer que tenha muitos “tempos livres”, embora em boa parte isso se deva a um tão caracteristicamente meu frenesim que alimenta um incessante afã de ir sempre mais além! No entanto, preservo acerrimamente os meus momentos de lazer, que são passados de formas muito diversas. Gosto muito de ler, sobretudo literatura portuguesa, latino-americana e anglo-saxónica, de viajar, de ir a concertos de música clássica e espetáculos de ópera, de praticar natação e jogging.

Um livro preferido?

É muito difícil… Mesmo em relação a autores, é para mim difícil eleger um só, de maneira que realçaria José Saramago, José Eduardo Agualusa, Gabriel Garcia Marquez…

– Um músico / disco preferido?

Gosto muito dos pianistas Maria João Pires e Murray Perahia.

– Um prato preferido?

Um alimento… cerejas!

– Um filme preferido?

“Capitães de Abril”.

– Uma viagem de sonho (realizada ou por realizar)?

Qualquer uma na companhia da minha mãe!

– Um objetivo de vida?

Tornar o mundo (um pouquinho) melhor, pondo os meus talentos (muitos ou poucos) a render em proveito de todos.

– Uma inspiração?

Os meus pais.

– Uma ideia para promover a qualidade do ensino médico na U.Porto?

A introdução com caráter obrigatório de “estágios” de curta duração (1-3 meses) em países diferentes e em um ou mais momentos do curso, dando alguma margem de liberdade aos estudantes na escolha dos mesmos. Este conceito é já parte integrante dos programas dos cursos de Medicina em vários países (por exemplo, Reino Unido e Alemanha) e é, a meu ver, uma mais-valia com um impacto inestimável na qualidade do ensino. De facto, permite aos futuros médicos, ainda que compulsoriamente, adquirirem uma multiplicidade de competências e contactarem com realidades, por vezes, diametralmente opostas àquelas em que habitualmente se movem. É uma experiência enriquecedora nas diversas esferas da vida de um estudante e futuro médico, que permite alargar os horizontes de uma forma que é deveras difícil de compensar mais tarde.