Recorda-se que sempre quis ser médica e a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) acabou por ser uma escolha natural no percurso de Rita Ribeiro. Os anos foram passando e agora que entra na reta final do Mestrado em Medicina, a jovem estudante já pôde experienciar um dos principais motivos que a fizeram sonhar andar de bata branca e estetoscópio: “Um bom médico tem a capacidade de mudar vidas para melhor”.

Ainda lhe faltam pequenos passos para se tornar médica, é certo, mas isso não foi impedimento para que não contribuísse para tornar algumas “vidas melhores” e envolveu-se desde cedo nessa “missão”, ao começar pela área do associativismo. O objetivo? “Contribuir ativamente para os estudantes nos diferentes domínios das suas necessidades”.

Numa lógica de proximidade e de igual para igual, é precisamente através da participação cívica que a futura médica acredita que é criado “um sentimento de responsabilidade para a compreensão dos problemas do dia a dia e para a criação criativa de estratégias para os resolver”.

E terá sido com o intuito de contribuir com soluções criativas que Rita Ribeiro tomou posse, recentemente, como nova representante dos futuros médicos do país, num organismo que dá “voz” aos mais de 11 mil estudantes de medicina em Portugal.

Durante o mandato que se entenderá ao longo de 2024, a nova presidente da Associação Nacional de Estudantes de Medicina (ANEM) estabelece como uma das prioridades a “potenciação de estratégias que coloquem o estudante no centro do processo decisório e que deem passos na direção certa”.

Defensora de que “boas políticas públicas são fundamentais para a transformação de um mundo cada vez mais interligado”, a futura médica da FMUP espera continuar a trilhar o seu caminho na medicina para “fazer verdadeiramente a diferença na vida das pessoas”. Enquanto isso, é provável que se cruzem com ela entre passeios na natureza lá para os lados do Furadouro.

Naturalidade?
Santa Maria da Feira.

Idade?
23 anos.

– De que mais gosta na Universidade do Porto?

A Universidade do Porto é a minha Alma Mater e sei que muito daquilo que eu sou depende de ser estudante desta instituição. Identificar aquilo de que mais gosto como único é difícil, mas diria que passa pela capacidade de participar em processos decisórios.

Por exemplo, através do Local Student Board da EUGLOH, ou da criação de possibilidades de potenciação da polivalência de conhecimento, mediante a mobilidade entre unidades orgânicas, e que me permitem estudar Medicina e aprender Sociologia, simultaneamente.

– De que menos gosta na Universidade do Porto?

Uma das principais lacunas que identifico diz respeito à pouca disponibilidade para a adaptação dos Inquéritos Pedagógicos da U.Porto às particularidades de cada formação. Considero que esta flexibilização permitiria maiores taxas de preenchimento e, portanto, de feedback dos estudantes relativamente ao seu ensino.

E este é fundamental para que a inovação pedagógica decorra no sentido da satisfação estudantil acerca dos métodos de ensino e avaliação, e que permita uma melhor aquisição de competências. Melhores universidades garantem melhores cidadãos.

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?

Na área da promoção do bem-estar gostaria de ver estratégias mais alargadas de melhoria da acessibilidade ao desporto, tanto em termos de gratuitidade como de tempo especificamente alocado para tal. A criação de uma componente curricular de atividade física, transversal a todos os cursos, seria fantástico e contribuiria para o bem-estar da comunidade, que é uma prioridade (embora não substitua os mecanismos adequados de acompanhamento psicológico da comunidade).

– Como prefere passar os tempos livres?

Gosto muito de ouvir música e de ir ver o mar. Um dos meus passeios favoritos é na estrada da floresta entre as praias do Furadouro e Maceda.

– Um livro preferido?

«Crime e Castigo» de Fyodor Dostoevsky.

– Um disco/músico preferido?

Manel Cruz, por ser autor da minha música favorita sobre amor, “O Navio Dela”.

– Um prato preferido?

Bacalhau com natas da minha mãe, sem dúvida alguma. O segundo prato favorito são os rissóis do Capa Negra.

– Um filme preferido?

The Grand Budapest Hotel.

– Uma viagem de sonho (realizada ou por realizar)?

Fazer mochilão na América do Sul.

– Um objetivo de vida?

Em termos profissionais, o meu objetivo mais “utópico” é trabalhar na Organização Mundial de Saúde. Acredito mesmo que boas políticas públicas, baseadas em evidência e que reúnam consensos alargados, são fundamentais para a transformação de um mundo que é cada vez mais interligado.

– Uma inspiração?

A minha mãe. Ensinou-me que para sermos em plenitude temos de ser verdadeiramente bons para quem nos rodeia. Ensinou-me a ter sentido de missão. E que a coragem é a melhor das qualidades humanas.

– O projeto da sua vida…

Esta é uma pergunta muito difícil para alguém com 23 anos, mas é também a mais definidora de pensamentos e de próximos passos nesta década dos vinte, caracterizada por tanta mudança. O meu projeto de vida é fazer verdadeiramente a diferença na vida das pessoas, a escalas mais locais, nacionais ou internacionais, contribuindo continuamente para a valorização da literacia (em todos os domínios) das populações. A aprendizagem move montanhas e cria sonhos e eu estou mesmo investida nela (para mim e para a sociedade).

– Que tipo de desafios pode ter a formação médica nos próximos anos?

Creio que os principais desafios dos próximos anos, são, em primeiro lugar, a necessidade de planeamento, de reforço e de fixação efetiva dos recursos humanos e respetivas competências técnico-científicas nas universidades.

É necessária também, mas não desfasado do referido anteriormente, um verdadeiro reforço do financiamento e melhoria infraestrutural das escolas médicas. A inovação pedagógica também depende disso porque deverá haver um investimento concordante com a formação docente em domínio da pedagogia, que permita que a aprendizagem acompanhe os tempos que vivemos.

Por último, a necessidade de renovarmos os conteúdos curriculares e os adaptarmos aos desafios da sociedade, nomeadamente no que ao impacto das alterações climáticas e inovação tecnológica diz respeito.