Leonor Medon já estava mentalizada para as situações urgentes da crise climática quando, no início de abril, embarcou rumo ao Quénia. Mas foi durante a viagem que a levou à descoberta daquele país africano que a estudante da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) e “embaixadora” do projeto europeu #ClimateOfChange “alterou a visão que tinha sobre o mundo”.

Atualmente a terminar a licenciatura em Sociologia na FLUP, Leonor Medon é uma participante ativa no associativismo académico, sendo a atual presidente do Núcleo de Alunos de Sociologia do Porto (NASP). E foi essa ligação que a levou a a cruzar-se com o #ClimateOfChange, um projeto encabeçado por parceiros de diversos países europeus e no âmbito do qual foram organizados torneios de debate em escolas secundárias e universidades em toda a Europa.

“O parceiro em Portugal o, Instituto Marquês VaIle Flôr (IMVF), contactou a Licenciatura em Sociologia no sentido de criar uma equipa para este torneio, que aceitamos sem hesitação por ser um tópico que nos interessava e que reforça a nossa compreensão do mundo, e das interligações entre as alterações climáticas, a migração forçada e as desigualdades sociais criadas pelo sistema capitalista”, explica a estudante de 21 anos.

A equipa do NASP (formada por Leonor Medon, Diogo Pinheiro e Sandra Pinheiro) venceu o torneio em Portugal, classificando-se para a Final do Torneio de Debates Pan-europeu, que teve lugar em Bruxelas, em novembro do ano passado. Com base nos resultados, Leonor ficou entre os 12 jovens escolhidos para serem embaixadores pelo Clima e terem a oportunidade de ir ver em primeira mão os efeitos das alterações climáticas no Quénia.

Promovido pelas organizações WeWorld e Terra Madre,  o “tour “realizou-se de 5 a 13 de abril e, para além dos jovens finalistas do Torneio de Debates Pan-Europeu, contou também com a participação de jovens ativistas como a portuguesa Joana Guerra Tadeu.

“Foi muito impactante ter a oportunidade de dialogar com pessoas de diversas comunidades que contaram as suas histórias de vida”, revela Leonor Medon, sobre uma experiência que a fez sentir em “primeira mão” os efeitos das alterações climáticas e respetivos impactos sociais.

A futura socióloga admite que “a visita ao terreno transporta-nos para uma visão muito distinta da que as pessoas têm quando apenas leem ou veem desde casa estes acontecimentos: relacionamo-nos empaticamente com o problema, no contacto com as populações, e isso faz que o compreendamos de forma muito mais enriquecedora”: E dá o  exemplo: “é diferente analisar estatísticas sobre a seca extrema e ouvir as populações sobre como isso provocou a redução de três para apenas uma refeição por dia em algumas comunidades, incluindo entre mulheres e crianças”.

E se precisava de mais alguma evidência de que “os efeitos das alterações climáticas já se sentem no nosso planeta e que vão continuar a aumentar”, Leonor encontrou-a durante toda a estadia em África. “A época em que visitei o Quénia, disseram-me ser a “Rainy Season” (Época de Chuvas). Contudo, nos oito dias que estive não choveu uma única vez”.

A jovem embaixadora do clima defende, por isso, que “é cada vez mais urgente combater as alterações climáticas e isso implica uma mudança de cima para baixo, com sanções sobre as empresas e países poluentes e com mudanças obrigatórias e urgentes para podermos reverter a situação em que nos encontramos”.

Uma mudança que, para Joana Medon, deve também começar pelos jovens e pela academia, aos quais deixa o desafio: “Não existem respostas simples para a resolução destes problemas, (…) em todo caso, a ação dos jovens surge como um motor para a promoção tanto dos problemas como das soluções e linhas orientadoras para uma transição ecológica e climática. Assim, os jovens membros da comunidade U.Porto devem ter esta capacidade crítica e reflexiva do mundo que os rodeia, no sentido da mudança”.

Naturalidade? Porto

Idade? 21 anos

– De que mais gosta na Universidade do Porto?
Do meu curso, dos meus professores e amigos, que fizeram com que se tornasse uma experiência inesquecível. Destaco também o trabalho que fazemos no NASP, num verdadeiro espírito de equipa com o objetivo de integrar os estudantes e promover a Sociologia em diversas áreas.

– De que menos gosta na Universidade do Porto?
A minha experiência na U.Porto, que considero globalmente muito positiva e enriquecedora, foi indubitavelmente marcada pelo período pandémico que todos atravessámos. Estando a terminar o meu terceiro ano, feitas as contas, estive muito mais tempo no formato de Ensino à Distância (misto ou completamente online) do que presencialmente. Naturalmente, a experiência académica, que vai muito para além das aulas, designadamente no associativismo, foi muito complicada. Não sendo “o que menos gosto” na U.Porto, porque não se trata de uma responsabilidade direta da Universidade, seguramente foi o que menos gostei da minha passagem, até agora, esperando, por todas as razões e mais alguma, que nunca tenhamos de passar por isso novamente!

– Uma ideia para melhorar a Universidade do Porto?
Para mim, a academia tem de encetar esforços para se tornar mais acessível para todos e isso passará necessariamente por um Ensino Superior sem propina, com um acesso mais facilitado e abrangente. Penso que são passos fundamentais para uma universidade mais justa, coesa e igual!

– Como prefere passar os tempos livres?
Passear a minha cadela no Parque da Cidade, ver séries e filmes, ouvir música. Nos últimos tempos, tenho aproveitado para estar com pessoas com quem não estive tanto durante estes anos de pandemia.

– Um livro preferido?
Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago

– Um disco/músico preferido?
“A Invenção do dia claro”, dos Capitão Fausto

– Um prato preferido?
Não sou muito amante de comida…provavelmente a única coisa que me deixa a salivar é um bom pão fresco e quentinho!

– Um filme preferido?
Não posso dizer que tenha só um filme preferido! Gosto muito d ‘O Carteiro de Pablo Neruda, mas também gosto muito de filmes de animação!

– Uma viagem de sonho?
Cuba (por realizar).

– Um objetivo de vida?
Dar o meu contributo para, coletivamente, transformarmos o mundo num lugar melhor.

– Uma inspiração?
O percurso e vida de muitas mulheres inspiram-me particularmente. Desde grandes figuras da nossa história, como são Simone de Beauvoir, Frida Kahlo, Catarina Eufémia ou Sophia de Mello Breyner a todas as mulheres que quotidianamente enfrentam este mundo de trabalho onde uma mulher faz o mesmo que um homem, mas recebe menos, onde uma mulher sofre todo o tipo de violências e muitas vezes são esquecidas e menosprezadas.

– Uma ideia para promover o combate às alterações climáticas no seio da comunidade da U.Porto?
Estando perante um problema extraordinariamente complexo, não existem respostas simples para a resolução destes problemas, designadamente quando desassociadas do contributo de entidades governamentais e estatais. Nesse enquadramento, em todo caso, a ação dos jovens surge como um motor para a promoção tanto dos problemas como das soluções e linhas orientadoras para uma transição ecológica e climática. A tecnologia emerge enquanto veículo para a aproximação de jovens de todo o mundo para o território, igualmente para a exposição e consciencialização dos problemas locais que, tendo manifestações no terreno, serão sempre desafios globais onde a ação e contributo de todos é fundamental. Assim, os jovens membros da comunidade U.Porto devem ter esta capacidade crítica e reflexiva do mundo que os rodeia, no sentido da mudança.