Do mármore à palavra e da palavra à reinterpretação plástica. No próximo dia 20 de setembro, às 16h30, vai ser inaugurada na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da U.Porto (FPCEUP) uma instalação de Hélder de Carvalho.

Para este trabalho, o escultor serviu-se de um poema de João Habitualmente, retirado do livro Estátuas na Praça. O que serviu de inspiração ao título do livro? Uma escultura em mármore de Hélder de Carvalho. É aqui que o ciclo se fecha? Ainda não.

A versão lunar da condição humana

Esta é a segunda instalação do ciclo Sombras que não quero ver. Continuamos a ter uma observação da condição humana na sua versão mais lunar. Desta vez, o ponto de partida foi o poema A minha rua de cartão, de João Habitualmente, que traz à luz da folha branca a vivência de quem da rua faz casa.

São cães, gaivotas, mas também gatos e pombas que coabitam a paisagem urbana, degradada, com o ser humano. Interpretando o poema, o escultor traça cenários do que é descrito, estendendo-o. Transformando e concedendo à palavra uma versão plástica.

O processo criativo, sempre experimental, levou Hélder de Carvalho a procurar materiais degradados, aos quais confere um novo uso. “O lixo é uma constante nesta instalação”, adverte. Há todo um exercício de reinterpretação de objetos que, nesta nova configuração, ficam à mercê de quem os observar.

(Foto: DR)

Conferir dignidade às personagens

“A rua é minha porque / a rua é de quem dorme com ela / Aliso o cartão / chove no molhado / deito-me com os primeiros gatos, / levanto-me com a / primeira pomba”. “Quem vive na rua assume os seus direitos”, acrescenta Hélder de Carvalho. “Nem que seja o direito de viver na rua”, acrescenta. “Gosto do cheiro matinal do pão na minha rua / Gosto da primeira pomba que vai ao pão / Gosto das pessoas que passam pela minha rua. São distraídas / olham-me sem saberem que estão a olhar para o proprietário”, continua o poema.  E é esta carga moral e psicológica, esta dignidade que identifica na página escrita que pretende que a sua obra transmita, nesta encenação que, nos corredores da FPCEUP, recriará a experiência de viver na rua.

Hélder de Carvalho e João Habitualmente são conterrâneos. Ambos nasceram em Trás-os-Montes (Carrazeda de Anciães). Mas foram precisos muitos anos para que o escritor, numa visita ocasional ao atelier do artista, tivesse encontrado a escultura que o inspirou a escrever Estátuas na Praça.

Porque é que o ciclo não se fecha aqui? Porque para além de escritor, João Habitualmente é também docente e investigador. Onde? Precisamente. Na Faculdade e Psicologia e de Ciências da Educação da U.Porto. A partir de 20 de setembro, aos passar pelos corredores, o poeta, docente e investigador saberá que estará a caminhar acompanhado das personagens que imaginou.

A entrada no evento inaugural é gratuita, mediante inscrição prévia através do respetivo  formulário.