A investigadora Rita Covas, do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos da Universidade do Porto (CIBIO-InBIO), foi um dos quatro cientistas de centros de investigação portugueses contemplados com as prestigiadas bolsas de consolidação (Consolidator Grants) – no valor de cerca de dois milhões de euros cada – atribuídas este ano pelo Conselho Europeu de Investigação – European Research Council (ERC).
O projeto distinguido insere-se no domínio da ecologia evolutiva e, ao longo dos próximos cinco anos, vai levar a investigadora até à savana africana para estudar as relações entre as espécies e a forma como estas cooperam.
“A cooperação é intrigante de um ponto de vista evolutivo, pois cooperar é benéfico para o grupo, mas traz muitas vezes custos para o individuo cooperador. No entanto, a cooperação é comum na natureza, desde micro-organismos até às sociedades humanas. Perceber o que permite a evolução e manutenção da cooperação é portanto uma questão fundamental da biologia evolutiva”, explica Rita Covas.
Para desvendar os mistérios da cooperação entre espécies, a investigadora contará com a “ajuda” do tecelão sociável (Philetairus socius), uma espécie de ave selvagem da savana africana que vive em grupos sociais e é altamente cooperativa. É nestas aves que a equipa de Rita Covas vai “testar uma hipótese que propõe que uma preferência por parceiros mais cooperativos pode fornecer uma explicação poderosa para a evolução e estabilidade da cooperação”.
O reconhecimento de uma década de trabalho
Questionada sobre o significado da bolsa atribuída pelo ERC, a também Investigadora Associada da Universidade de Cape Town (África do Sul) considera que a mesma “é extremamente importante” para cumprir os objetivos da investigação. E parte do dinheiro já tem o destino traçado: “Vamos contratar estudantes, pós-docs e técnicos, comprar equipamento (ex, câmaras e computadores para monitorizar o comportamento cooperativo), análises genéticas, um veículo para o trabalho de campo, viagens para o campo (na África do Sul) e despesas gerais de manutenção do trabalho de campo”, enumera.
Para Rita Covas, a relevância do prémio não se esgota, contudo, no aspeto financeiro. Até porque “foi o fruto de um trabalho de equipa que tem vindo a ser desenvolvido há mais de dez anos”, pelo que “é extremamente gratificante ver o nosso trabalho e persistência darem fruto!” Por outro lado, “é também o sinal que envia para os outros investigadores, mostrando que é possível obter financiamentos destes”.
“Há que parar de acreditar que não é para nós”
Para além de Rita Covas, o ERC distinguiu este ano mais três investigadores a trabalhar em centros de investigação nacionais. São eles Luís Mafra e Nuno Silva, ambos da Universidade de Aveiro, e a neurocientista norte-americana Megan Carey, da Fundação Champalimaud.
Um número que, para a investigadora da U.Porto, é insuficiente. “Continuamos muito aquém do nosso potencial. Por exemplo, vieram quatro destas bolsas para Portugal, mas foram mais de trinta para a Holanda, um pais mais pequeno que o nosso (embora com maior população)”, nota.
E se é verdade que “temos excelentes investigadores a conduzirem projetos de investigação de grande importância e qualidade”, Rita Covas aponta um problema de… confiança. “Há que parar de acreditar que não é para nós”, sustenta a investigadora, não escondendo o desejo de “ver cada vez mais investigadores portugueses a concorrerem a financiamento ERC”.
600 milhões para 24 países… e uma alumna da U.Porto
Ao todo, o Conselho Europeu de Investigação atribuiu este ano 301 Consolidator Grants, o que representa um financiamento total de cerca de 600 milhões de euros, a distribuir por “cientistas e académicos de topo” (doutorados e com sete a 12 anos de experiência) de 37 nacionalidades em instituições de 24 países europeus.
Entre os laureados destaca-se ainda o nome de Susana Coelho, antiga estudante de Biologia da Faculdade de Ciências da U.Porto (FCUP) e atual investigadora do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS), em França. O CNRS é, de resto, a instituição que mais bolsas conquistou este ano (20), seguida pela Universidade de Oxford (Reino Unido), com nove, e pelo também francês Institut National de la Santé et de la Recherche Médicale Inserm (Inserm ), com sete.
Desde a criação destas bolsas (Consolidator Grants), em 2007 o ERC já financiou projetos de 34 cientistas portugueses ou estrangeiros a trabalhar em Portugal. Entre eles inclui-se o também investigador da U.Porto Helder Maiato, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (I3S), distinguido em 2015.