Ana Xavier e Nuno Alves | IBMC | ERC Grants 2014

Ao vencerem as ERC Starting Grants 2014, Ana Carvalho e Nuno Alves alcançaram o patamar máximo a que pode chegar um jovem investigador.

Ele chama-se Nuno Alves, ela Ana Carvalho. São investigadores do Instituto de Biologia Molecular e Celular da Universidade do Porto (IBMC), antigos estudantes do Programa Graduado em Áreas da Biologia Básica e Aplicada (GABBA), o mais antigo programa doutoral da U.Porto, e, juntos, acabam de arrecadar mais de 3 milhões de euros para a investigação portuguesa que este ano conseguiu um total de cinco Starting Grants do European Research Council (ERC). O financiamento foi conseguido através do programa mais prestigiado e competitivo a nível europeu. As bolsas de financiamento da ERC são as de valor mais elevado na Europa e são concedidas, quer a projetos individuais de investigadores sénior – as Consolidator Grants, quer a jovens investigadores a desenvolver linhas de investigação inovadoras.

Ana Carvalho propõe-se a usar um nemátodo, o Caenorhabditis elegans, para estudar a divisão das células, em particular a última fase, denominada citocinese, durante a qual se forma um anel contráctil que acaba por separar as duas células filhas. Compreender o mecanismo de divisão celular tem sido o esforço de inúmeros laboratórios por todo o mundo, há mais de meio século, mas, como explica a investigadora, “os trabalhos em citocinese têm, esmagadoramente, focado a atenção em mecanismos de sinalização que determinam onde e quando o anel contráctil é montado”. O que Ana propõe, no projeto agora financiado, é “abordar questões fundamentais sobre a estrutura e as propriedades funcionais do próprio anel contráctil”, segundo as suas palavras.

Ana Xavier Carvalho e a sua equipa

Ana Xavier Carvalho e a sua equipa

Para isso, Ana e a sua equipa irão recorrer ao poder da imagem de microscopia para desenvolver ensaios qualitativos e quantitativos em embriões de C. Elegans. O embrião desta espécie, explica, “é especialmente adequado para o estudo do anel contráctil dada a visibilidade e o posicionamento das células em divisão que facilitam medições precisas da dinâmica de constrição”. Ou seja, a transparência do organismo, a posição das células de forma já bem conhecida e as ferramentas disponíveis permitem, com facilidade, medir a largura e espessura do anel ao longo do processo, bem como acompanhar toda a dinâmica dos componentes do anel usando técnicas de microscopia de fluorescência.

Nuno Alves e a equipa que coordena têm-se dedicado ao estudo do timo, o órgão responsável pela produção e diferenciação de células T . Estas são as células essenciais para que o nosso sistema imunitário responda eficazmente contra antigénios, ou seja, elementos estranhos derivados de agentes patogénicos, como vírus e bactérias, ou até mesmo órgãos transplantados. Mas são também as células responsáveis por doenças auto-imunes, devido a um “processo errado no momento da formação de células T que resulta no reconhecimento como estranho de aquilo que, de facto, são elementos do próprio indivíduo”, explica o investigador. Nuno Alves, propõe-se a perceber que tipo de controlos genéticos e epigenéticos ocorrem dentro do timo, nomeadamente nas células epiteliais tímicas que têm uma função essencial na nutrição das células percursoras das células T e as educam para funcionarem adequadamente contra patogénios sem danificar o hospedeiro.

Nuno Alves e sua equipa

Nuno Alves e sua equipa

No IBMC desde 2010, o investigador afirma que “este projeto tem o potencial de contribuir para um dos grandes desafios da imunologia moderna – perceber como modular a função do timo- e, dessa forma, contribuir para um grande avanço em Ciências da Saúde. Perceber como se processa a diferenciação de células T poderá ajudar a explicar como o nosso organismo reage ou não a determinadas doenças infecciosas, ao cancro ou como são despoletadas as doenças auto-imunes.

O Conselho Europeu de Investigação (European Research Council) foi criado em 2007 pela União Europeia com objetivo de ser uma organização de financiamento pan-europeu para a investigação de fronteira. Constitui hoje a única fonte de financiamento onde a ciência fundamental pode ir buscar apoio para desenvolver ideias arrojadas que poderão mudar o conhecimento num futuro próximo, sem exigir retornos imediatos na indústria. Na verdade, destina-se a estimular ideias e a excelência científica na Europa, incentivando a competição entre os melhores, premiando investigadores criativos de qualquer nacionalidade e idade.

A ERC opera de acordo com uma abordagem “motivação do investigador”, de forma a emergirem novas ideias e oportunidades em qualquer domínio da investigação, sem prioridades temáticas. Desde 2007, a ERC já financiou mais de 4.000 projetos em toda a Europa. As Starting Grants, mais especificamente, visam apoiar o início de carreira de jovens investigadores independentes (com 2-10 anos de experiência em investigação desde a conclusão do doutoramento), com um histórico científico promissor e que tenham uma proposta científica ambiciosa e inovadora. O principal critério de seleção para estes e outros prémios do ERC é a excelência científica

Maiores que as ERC Starting Grants, apenas existem as ERC Consolidator Grants e as Advanced Grants. Por isso, Nuno Alves e Ana Carvalho, que lançaram os seus próprios grupos de investigação este ano, acabaram de alcançar o patamar máximo a que pode chegar um jovem investigador. Têm agora cinco anos para aplicar este dinheiro e provar que as suas ideias podem desenhar o futuro da Ciência.