David Freitas iniciou, no ano passado, o Programa Doutoral em Engenharia Informática na Faculdade de Engenharia da U.Porto (FEUP). Mas, neste momento, é outro o projeto que preenche a vida deste professor de informática de 44 anos. Chama-se “Ambulance for Hearts” e o que começou por ser uma viagem com alguma aventura e um objetivo “mais lúdico”, que passava sobretudo por pegar numa “ambulância desativada e enchê-la com brinquedos e livros para as crianças” da Guiné-Bissau, tomou proporções diferentes à medida que David foi estabelecendo contacto com amigos mais habituados a estas andanças humanitárias. “Todos tinham feito a viagem de avião e ninguém me sabia dar grandes dicas sobre a melhor forma de chegar lá por terra”.
Depois de alguma pesquisa e de mais uma ronda de contactos, um encontro casual num aeroporto acabaria por mudar o rumo do projeto. Sensibilizado pelos relatos que lhe chegaram da ONG “Na Rota dos Povos” que acolhe crianças abandonadas da cidade de Catió, no sul da Guiné-Bissau, David rapidamente percebeu que, para além de brinquedos, a ambulância tinha que levar latas de leite de substituição.
“Estamos a falar de um dos países onde morrem mais mães durante ou após o parto, onde as crianças que sobrevivem estão sujeitas a condições extremamente adversas. […] E onde uma lata de leite pode custar perto de um mês de salário”, explica.
Até final do primeiro trimestre de 2020, a “Ambulance for Hearts” precisa de se “fazer à estrada”. Depois dessa altura é muito mais complicado devido ao calor mais intenso que se vai fazer sentir”. Para isso, neste momento é preciso divulgar o projeto e angariar dinheiro. “Preciso de encontrar um espaço para conseguir realizar um concerto e com isso envolver a comunidade. Há muitas formas de ajudar!”, refere David.
“Todas as ajudas são importantes”
Apesar de o projeto estar ainda a dar os primeiros passos, o estudante – que é também licenciado em Ciência de Computadores, pela Faculdade de Ciências da U.Porto (FCUP) – tem já algumas histórias marcantes para partilhar: “Uma pessoa ligada à mecânica automóvel telefonou-me a dizer que não podia ajudar muito, mas que, assim que eu tivesse a carrinha, poderia fazer um exame gratuito e dar a todos os condutores um pequeno curso de mecânica. Para quem não podia ajudar muito, acabou por me presentear com uma das melhores ofertas que tive até à data”.
“Ter iniciado este projeto fez-me perceber que todas as ajudas são importantes e que o medo é um obstáculo que é essencial ultrapassar. O medo de agulhas não é uma boa desculpa para nada”, até porque “se estamos à espera do momento ideal, nunca se faz nada”, acredita David Freitas.
Apesar de já ter conseguido sensibilizar pessoas anónimas que não conhecia de lado nenhum, e cujo fator decisivo foi o ter dado a cara pelo projeto, o estudante considera que “as pessoas estão um pouco desconfiadas das grandes organizações” e que “é importante colocar rostos nos projetos”.
“A vida trouxe-me coisas muito boas e está na hora de retribuir um pouco do que recebi. Este é um projeto que quero que seja daqueles que queiram nele participar”.