A indústria têxtil está entre as cinco maiores poluidoras do mundo, em particular no que diz respeito ao consumo de água. A alumna da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), Nádia Eusébio, está determinada a mudar esta realidade. Candidatou-se, por isso, ao programa Eurostars e viu aprovado o EcoCleanTex, um projeto europeu que pretende criar novos biodetergentes para substituir os produtos utilizados nos diferentes processos de criação de vestuário. 

Uma “receita” que conta com ingredientes produzidos por microrganismos: os biosurfactantes. Esta tem sido a aposta de Nádia Eusébio, que, após o doutoramento em Biologia na FCUP e investigação com cianobactérias no Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR), decidiu juntar-se à empresa Next Generation Chemistry (NGC), tendo ajudado a criar a spin-off KOD Bio. Desde então tem trabalhado na procura de alternativas biológicas para substituir produtos de origem petroquímica. 

O EcoCleanTex vai arrancar a 1 de abril e, com um financiamento de 1,6 milhões de euros, propõe-se a desenvolver, em dois anos, quatro diferentes biodetergentes, num consórcio da NGC com duas empresas europeias, parceiras de projetos anteriores. 

“Por exemplo, para uma t-shirt de algodão chegar até ao consumidor, passa por diferentes processos: a preparação, o tingimento e o acabamento têxtil. Os detergentes são usados para remover sujidade, óleos e outras impurezas dos tecidos, ou até mesmo para ajudar a suavizar as fibras e aperfeiçoar a sua textura final”, contextualiza Nádia Eusébio. 

Para além da poluição da água causada pelos detergentes de origem petroquímica, a indústria têxtil utiliza grandes quantidades de água: “Particularmente após o tingimento, todos os tecidos têm de ser lavados para remover resíduos químicos, fixar a cor, eliminar impurezas e melhorar a qualidade do produto têxtil”. 

Afinal, o que fazem os (bio)surfactantes?

Nesta lavagem, atualmente são usados surfactantes, necessários para reduzir a tensão superficial da água e assim permitir a penetração dos detergentes no tecido e facilitar a limpeza. 

Em alternativa, a alumna da FCUP quer apostar nos biosurfactantes, que são produzidos em meio de cultura durante o crescimento microbiano e podem ser utilizados na formulação de biodetergentes.

Produção de biosurfactantes a partir de quatro estirpes distintas de microrganismos. Foto: DR

Assim, o propósito deste projeto é identificar novos compostos à base de microrganismos como bactérias e leveduras, isoladas a partir de ambientes marinhos e terrestres.

 “Temos alguns biosurfactantes já a serem produzidos em grande escala, mas queremos otimizar e conseguir obter todas as características dos detergentes químicos, usados na indústria têxtil, para igualar o seu desempenho e assim os podermos substituir”, salienta a alumna da FCUP. 

O objetivo de Nádia Eusébio é, porém, ir mais longe, e que as bactérias e leveduras nos possam ajudar para um dia a dia mais sustentável, com detergentes 100% biológicos.