Desde o início de junho que o átrio principal do Centro de Investigação Médica da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) deixou de ser “apenas” um ponto de encontro para a comunidade da FMUP. Em tempos de pandemia da Covid-19, aquele foi também o local escolhido para centenas de futuros médicos realizarem os 60 exames presenciais agendados pela faculdade para este segundo semestre. Mas não sem antes colocarem a máscara, desinfetarem as mãos, medirem a temperatura, entre outras medidas de higiene e segurança apertadas…

“É a época de exames mais pensada, analisada, discutida e exigente de que há memória”, refere Dulce Madeira, diretora do Mestrado Integrado em Medicina da FMUP.

Os dados falam por si. Para garantir que tudo corre dentro da “normalidade”, a FMUP destacou 14 técnicos que, nos dias de exame, fazem a “triagem” dos estudantes em cada uma sete entradas definidas. Ali, o protocolo é rigoroso e inclui a desinfeção das mãos, a medição da temperatura e a resposta a um pequeno inquérito sanitário. Foram igualmente delimitadas algumas áreas para evitar a circulação de  pessoas e garantir o devido distanciamento social durante a realização das provas.

“A decisão dos exames presencias na FMUP foi tomada com base no conhecimento de epidemiologistas e especialistas da Faculdade. Tudo isto permite-nos garantir que este segundo semestre é avaliado de forma mais próxima daquilo que foi o primeiro”, sublinha Francisco Cruz, subdiretor da FMUP.

O átrio principal do Centro de Investigação Médica da FMUP em dia de exames. (Foto: FMUP)

Ao detalhe

O desafio era enorme, até pela imprevisibilidade que caracteriza os tempos em que vivemos. Mas a verdade é que as diferentes faculdades da U.Porto souberam estar à altura de receber os seus estudantes neste período de avaliações. Na Faculdade de Ciências (FCUP), por exemplo, tudo começou  a ser preparado muito antes de 15 de junho, data em que arrancaram os exames presenciais.

“A época de exames foi atrasada duas semanas relativamente ao previsto para que pudesse ocorrer a formação e avaliação laboratorial sem sobrecarga para os estudantes. Para além disso, a época normal foi alargada em duas semanas, e a de recurso alargada uma semana e meia de modo a alocar da melhor forma possível os exames nos nossos espaços”, explica a diretora da FCUP, Ana Cristina Freire.

O certo é que nada foi deixado ao acaso para que 80% dos estudantes da faculdade – perto de 6500 só nas duas primeiras semanas da época normal – pudessem realizar os exames presencialmente. Para além de ter adequado as instalações às normas de segurança e higiene definidas pela U.Porto, a FCUP limitou a duração dos exames a duas horas e distribuiu a sua realização em vários turnos diários. Foram igualmente definidos turnos desfasados no início “para poder evitar, por um lado, uma aglomeração de estudantes no campus, por outro, duplicar enunciados, garantindo desta forma a segurança e a equidade na avaliação”.

Antes de cada exame, os estudantes têm ainda a possibilidade de conhecer previamente as salas em que decorrem as provas, e às quais se acede através de um percurso devidamente sinalizado. Já as salas propriamente ditas foram reorganizadas para garantir o distanciamento entre lugares. Nem que, para isso, se tenha de recorrer aos espaços de restauração que se encontram encerrados.

Para a diretora da FCUP, o esforço logístico valeu a pena. “Sabemos que alguns estudantes e professores, que estavam inicialmente receosos, mostram agora tranquilidade porque perceberam todo o trabalho prévio feito para garantir a sua segurança na retoma das atividades presenciais”, nota Ana Cristina Freire.

Os pavilhões da Faculdade de Desporto também foram adaptados a salas de exames, para garantir o distanciamento social. (Foto: FADEUP)

Exames com menos peso

Jogar em antecipação foi também a estratégia que imperou no complexo partilhado pelo Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) e pela Faculdade de Farmácia (FFUP). “Logo em março, aquando do encerramento das instalações, começámos a delinear uma estratégia que permitisse a realização dos exames finais, garantindo o cumprimento dos critérios de rigor e excelência que nos caracterizam”, nota Domingos Ferreira, diretor da FFUP.

No ICBAS, os resultados estão à vista desde 8 de junho, data em que decorreu o primeiro dos 50 exames presenciais previstos para a época normal. “Procurámos organizar um modelo de segurança e tranquilidade, no qual os estudantes podem realizar as suas avaliações sem preocupações que poderiam comprometer o seu desempenho”; explica Henrique Cyrne Carvalho, diretor do Instituto.

Para isso, “foram recalculadas as capacidades máximas de todos os espaços, de forma a garantir o cumprimento do distanciamento físico entre cada estudante”. Foram ainda implementadas medidas como o acesso controlado às instalações, a identificação de circuitos para evitar a aglomeração de pessoas e a disponibilização de álcool-gel, para desinfeção das mãos, em todos os espaços comuns.

Mas as mudanças não se ficaram pelos espaços. Em Farmácia, por exemplo, “o ensino a distância promoveu um processo de avaliação continua através de trabalhos, fazendo com que o exame final tenha um peso menor em relação à avaliação global dos nossos estudantes”, esclarece Domingos Ferreira.

Ainda assim, “e porque os exames finais são um elemento de avaliação importante”, a faculdade optou por estruturar o calendário de exames recorrendo a um regime misto, online e presencial. E se os exames das unidades curriculares optativas se realizam  exclusivamente online, já “as unidades obrigatórias contemplam três modalidades possíveis, de acordo com o entendimento de cada docente, isto é poderão ser realizados online a distância, ou presencialmente através da plataforma Moodle, ou em papel”.

Contas feitas, são cerca de 2000 os estudantes que, até final de julho, deverão passar pela FFUP para realizar as suas provas. E, à semelhança do que acontece nas restantes faculdades da U.Porto, aqueles que não têm possibilidades de o fazer não foram esquecidos, como explica o diretor de Farmácia: “Também tivemos em conta os estudantes que, sendo de outras regiões, não poderão deslocar-se fisicamente à faculdade para realizar os seus exames. A esses estudantes é disponibilizada a oportunidade de realizar um exame a distância na época de junho/julho, ou caso não seja possível, na época especial de setembro”.

O acesso às instalações do complexo do ICBAS/FFUP é (ainda mais) controlado. (Foto: ICBAS)

Em sintonia com os estudantes

De regresso ao polo da Asprela, é também um sentimento de tranquilidade aquele que impera por estes dias na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação (FPCEUP). “Neste momento, já se realizaram exames com a presença de 110 a 130 estudantes. E na generalidade, tudo tem corrido bem, de forma organizada e sem incidentes de segurança”, resume Luísa Faria, diretora da FPCEUP.

A receita para o sucesso repete-se e multiplica-se pelos 26 exames agendados para “entre 20% e 70% das unidades curriculares” da Licenciatura em Ciências da Educação e do Mestrado Integrado em Psicologia (MIP). “Para além de todas sa medidas de higiene e segurança recomendadas, os procedimentos específicos para os exames incluíram o reagendamento das provas para o período da manhã, em horários que permitissem evitar as «horas de ponta» nos transportes públicos”. Determinou-se igualmente a ocupação de apenas um terço dos lugares das salas de exame, bem como a limpeza e o arejamento de todas as salas, antes e durante a realização dos exames.

E para que tudo corra dentro do plano, todos são chamados a contribuir. A começar pelos próprios estudantes, que a faculdade tem procurado “mobilizar e responsabilizar de modo a cumprirem as medidas sanitárias e de segurança, evitando aglomerações, e planeando a sua entrada na faculdade”, explica Luísa Faria.

Os resultados saltam à vista. Segundo a diretora da FPCEUP, “a reação tem sido globalmente positiva e de aceitação das instruções e recomendações”. Ao ponto de a própria associação de estudantes ter realizado um vídeo (ver abaixo) para ajudar os colegas a lidar com “uma situação que foi imprevista e causadora de estado de ansiedade”, como refere Renato Veiga, presidente da direção da AEFPCEUP.

Inês Salgado, estudante do 4.º ano do MIP, também dá nota positiva ao trabalho feito: “Apesar de, em primeira instância, os/as estudantes manifestarem algumas preocupações, estou ciente de que todos os esforços estão a ser feitos para que os momentos de avaliação presencial decorram da melhor forma possível”.

Regresso à FPCEUP

Com o teu regresso às instalações da FPCEUP, a tua AE decidiu gravar um vídeo a demonstrar os cuidados que serão necessários adotar por parte de todo/as ao dirigirem-se à faculdade.A segurança de todo/as começa com a de cada um/a. Contamos contigo! 😊

Publicado por AE FPCEUP em Domingo, 31 de maio de 2020

Regresso à “normalidade”

Percorrendo a curta distância entre a FPCEUP e a Faculdade de Engenharia (FEUP), estranha-se a ausência da habitual azáfama às portas da maior faculdade da U.Porto. Mas o mundo não parou… “Os exames presenciais têm estado a correr bastante bem, com a calma que estudantes e docentes necessitam para a obtenção de resultados com sucesso”, nota Augusto Sousa, vice-presidente do Conselho Pedagógico da FEUP.

Uma vez mais, a aparente acalmia “esconde” uma operação planeada ao detalhe, que exigiu desde logo “a diminuição do número de exames presenciais, especialmente, nos segundos ciclos de estudos e nos últimos anos dos ciclos de estudos integrados. Globalmente, os exames presenciais programados correspondem a 72% dos exames realizados em igual período do ano letivo anterior”

Para além dos procedimentos no âmbito da higiene sanitária, “foi também necessário multiplicar o número de exames diários, assim como alargar o conjunto de salas utilizáveis”. Por outro lado, “cada estudante conhece, antecipadamente, qual é a sala que lhe é destinada (..), assim como foram publicados os comportamentos recomendados no final dos exames”.

Feito o trabalho de casa por parte da faculdade, Augusto Sousa passa por isso uma mensagem de otimismo aos estudantes para o que resta da época de exames: “Que se concentrem no estudo das matérias a cuja avaliação estão a ser sujeitos. A FEUP tudo tem feito para zelar pela sua segurança dentro das instalações, assim todos cumpram com as normas e procedimentos devidamente divulgados”.

Em tempos de pandemia, a U.Porto dá assim uma demonstração de força e união para enfrentar um período crítico no percurso dos seus estudantes. Ou não fosse este “mais um passo no regresso à normalidade”, como defende Dulce Madeira, a partir da FMUP. E enquanto ela não volta em pleno, é com a “fórmula” de Marie Curie que Ana Cristina Freire pontua a mensagem que, por estes dias, “pinta” a página do SIGARRA da FCUP: “Nada na vida deve ser temido, somente compreendido. Agora, é hora de compreender mais para temer menos”.