Provas de Doutoramento em Psicologia - Daniel José Rocha Silva

Qui02Mai12:00Qui13:30Provas de Doutoramento em Psicologia - Daniel José Rocha Silva12:00 - 13:30(GMT+01:00) FPCEUP - Auditório 1Tipo de eventoProvas académicasLocalFaculdade de Psicologia e Ciências da Educação

Detalhes

Apreciação da tese intitulada “Entre mim e a máquina: o papel da experiência profissional em contextos em mudança pela automação e os seus contributos para pensar o futuro do trabalho”.
Prova de doutoramento no ramo de Psicologia, requeridas pelo Mestre Daniel José Rocha Silva.


Equipa de orientação:
Doutora Liliana Maria da Silva Cunha, Professora Auxiliar da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto.

Júri:
Presidente: Doutora Maria da Conceição de Oliveira Carvalho Nogueira, Professora Catedrática da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto.

Vogais:
Doutora Denise Alvarez, Professora Titular Aposentada da Universidade Federal Fluminense, Brasil.
Doutor Camilo José Lopes Valverde, Professor Auxiliar da Universidade Católica Portuguesa.
Doutora Sara Maria Pinho Ferreira, Professora Associada da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.
Doutora Carla Sofia Marques da Silva, Professora Associada da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto.
Doutora Marta Zulmira Carvalho dos Santos, Professora Associada da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto.
Doutora Liliana Maria da Silva Cunha, Professora Auxiliar da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto – orientadora.

A sessão é pública e de acesso livre a todas as pessoas interessadas.


RESUMO

O debate sobre o futuro do trabalho é tecido com uma atualidade e intensidade crescentes sob o prenúncio de uma “nova era da automação”. Tendencialmente dominado por um prisma que se concentra nas novas capacidades da máquina, este debate articula formulações como “rutura” ou “corte” com o passado do trabalho, na inauguração de modelos “de futuro”. A nossa investigação propõe pluralizar estes enunciados tecnocentrados a partir de um outro ângulo de leitura: o da atividade de trabalho, i.e., o ponto de vista de quem vive as transformações em curso, da sua atividade e dos saberes construídos com a experiência. Esta postura encontra os seus fundamentos históricos e epistemológicos na matriz científica partilhada pela psicologia do trabalho e ergonomia da atividade, e cuja ação investe em conferir visibilidade às singularidades das situações de trabalho e às suas exigências. É por esta ação que é possível conservar o potencial de intervenção, a partir do que revela a experiência profissional, concretamente, para pensar, debater e conceber as evoluções futuras do trabalho.
Através da condução de dois estudos, a investigação cruza um entendimento teórico e empiricamente fundamentado a partir da análise da atividade de trabalho, sem deixar de atender a um contacto próximo com atores da conceção técnica. O primeiro estudo toma por referência o ponto de vista de concetores e de motoristas de autocarro na interpelação da atividade de trabalho futura em situações de condução automatizada. O segundo estudo foi desenvolvido num contexto onde existe já um histórico de trabalho com máquinas automatizadas: a indústria corticeira. Na sua articulação, a intenção central é a de explorar o papel da experiência e os modos como esta revela critérios passíveis de instanciar a (re)conceção das situações de trabalho.
O primeiro estudo evidencia o modo como os veículos automatizados estão no centro de um paradigma de “mobilidade do futuro”, mas cuja edificação convoca a consideração de questões que ultrapassam uma dimensão tecnológica. Os concetores destacam que, por agora, a atividade humana é um recurso insubstituível perante a variabilidade do meio rodoviário. Ainda que convergindo neste ponto, o quadro de referência operatório dos motoristas revela outros fatores, relativos às condições e à organização do trabalho, que não devem ser dissociados da transformação técnica. Por sua vez, o segundo estudo mostra como os modos automatizados da produção “vivem” do património transpessoal de cada meio profissional. A experiência, nas suas recomposições à medida que as condições técnicas mudam, incorpora os limites e as potencialidades da máquina, conferindo viabilidade ao seu funcionamento previsto. Mas isto não deixa, contudo, de tributar custos para a preservação de si e dos outros.
Estes resultados instigam uma reflexão sobre os recursos e os desafios que a automação interpõe à sustentabilidade do trabalho, considerando o desenvolvimento favorável e durável das atividades profissionais, em saúde e com oportunidades de valorização e reconhecimento dos saberes. Cremos que a ação do psicólogo do trabalho é crucial nestes projetos de desenvolvimento, operando também como ator de conceção do trabalho (atual e futuro), mas não sem que, ao mesmo tempo, isto imponha “novos” desafios éticos, epistemológicos e políticos à sua ação.

 


ABSTRAT

The future of work debate is held with an ever-increasing topicality and intensity, given the prospect of a “new automation age” in the workplace. From a dominant viewpoint emphasizing the new capabilities of the machine, this debate tends to be fuelled by formulations such as “rupture” or “cut” with the past, estimating the emergence of models “of the future”. Our research intends to pluralise such technocentric predictions by adopting the viewpoint of work activity, i.e., the view of those who are living through the changes taking place, their activity and the know-how developed through work experience. This stance finds its historical and epistemological roots in the scientific tradition that work psychology and activity-centred ergonomics share, whose action is devoted to giving visibility to the singularities of work situations and their demands. It is through this action that it is possible to preserve the potential for intervention, based on what professional experience reveals, specifically in order to reflect, debate and design future developments in work.
Through two case studies, our research crosses a theoretical and empirically reasoned understanding based on the analysis of work activity, while maintaining close contact with those implied in the technical design. The first study brought together the point of view of a group of designers and bus drivers in a view of questioning future work activity in the context of automated driving situations. The second study was carried out in a context where the history of working with automated machines is more extensive: the cork industry. The central purpose is to explore the role of experience and how it reveals criteria that can be used to (re)design future work situations.
The first study shows how automated vehicles are at the core of a new “mobility of the future” paradigm, but whose development calls for consideration of issues that go beyond a purely technological dimension. The designers point out that, for now, human activity is an irreplaceable resource when dealing with the variability of the road environment. Despite converging on this point, the drivers’ operative framework of reference reveals other factors linked to their conditions and organisation of work, which ought not to be dissociated from the technical transformation. In turn, the second study sheds light on how automated modes of production are dependent on a unique transpersonal legacy of each professional context. As technical conditions of work change through automation, work experience incorporates the machines’ limitations and potentialities, making their predefined operation viable and efficient. Still, this does come at a cost in terms of preserving oneself and others.
These findings trigger a reflection on the role of automation in work as a possible resource and a challenge for the sustainability of professional activities, considering a favourable development in which workers could remain healthy, fully integrated and with opportunities for the recognition and valorisation of their know-how. Here, we believe the work psychologist’s action is pivotal in these development projects, also playing a role in the design of present and future work, but without this ceasing to pose “new” ethical, epistemological, and political challenges on their action.

 


RESUMÉE

Le débat sur l’avenir du travail est de plus en plus intense sous le signe d’une « nouvelle ère d’automatisation ». Généralement dominé par une approche centrée sur les nouvelles capacités de la machine, ce débat s’articule autour de formulations telles que « rompre » ou « couper » avec le passé du travail, suggérant des scénarios « d’avenir ». Notre recherche propose de reprendre ces propos technocentrés sous un autre angle de lecture : celui de l’activité de travail, â savoir en partant du point de vue de ceux et celles qui vivent les transformations en cours, de leur activité et des savoirs construits grâce à l’expérience. Cette position trouve ses fondements historiques et épistémologiques dans la matrice scientifique commune à la psychologie du travail et à l’ergonomie de l’activité, dont l’action est axée sur la visibilité des particularités des situations de travail et de leurs exigences. C’est la voie qui permet de préserver le potentiel d’intervention, à partir de ce que révèle l’expérience professionnelle, notamment pour penser, débattre et concevoir les évolutions futures du travail.
Dans les deux études réalisées, la recherche croise les compréhensions théorique et empirique basées sur l’analyse de l’activité de travail, tout en maintenant un dialogue étroit avec les acteurs de la conception technique. La première étude prend comme référence le point de vue des concepteurs et des conducteurs de bus lorsqu’ils envisagent une future activité professionnelle dans des situations de conduite automatisée. La deuxième étude a été développée dans un contexte où il existe déjà un historique de travail avec des équipements automatisés : l’industrie du liège. Dans leur articulation, l’intention centrale est de documenter le rôle de l’expérience et la façon dont elle révèle des critères capables d’outiller la (re)conception des situations de travail futures.
La première étude révèle à quel point les véhicules automatisés sont au centre d’un paradigme de « mobilité du futur », mais dont la construction exige la prise en compte de questions dépassant la dimension technologique. Les concepteurs soulignent que, pour l’instant, l’activité humaine constitue une ressource irremplaçable compte tenu de la variabilité de l’environnement routier. Quoique convergeant sur ce point, le cadre de référence opérationnel des conducteurs révèle d’autres facteurs, liés aux conditions et à l’organisation du travail, qui ne peuvent être dissociés de la transformation technique. D’autre part, la deuxième étude montre comment les modes de production automatisés « vivent » du patrimoine transpersonnel de chaque milieu professionnel. L’expérience, dans ses recompositions au fil de l’évolution des conditions techniques, intègre les limites et le potentiel de la machine, rendant possible son fonctionnement prévu. Cependant, cela n’empêche pas qu’il y ait des coûts liés à la préservation de soi et des autres.
Ces résultats incitent à réfléchir sur les ressources et les défis que l’automatisation pose pour la durabilité du travail, compte tenu du développement favorable des activités professionnelles, dans des conditions de santé et avec des opportunités de valorisation et de reconnaissance des savoirs. Nous pensons que l’intervention du psychologue du travail est cruciale dans ces projets de développement, fonctionnant également comme acteur dans la conception du travail actuel et futur, même si cela impose, en même temps, de « nouveaux » défis éthiques, épistémologiques et politiques à son action.

 

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