No guia das espécies animais há um novo protagonista com o visual e o nome de vocalista de heavy metal. A serpente venenosa Atheris hetfieldi foi identificada pela primeira vez na Guiné Equatorial por uma equipa de investigadores liderada pela Universidade do Porto que, pelo seu aspeto peculiar, a batizou em homenagem ao vocalista dos Metallica, James Hetfield.

Luís Ceríaco, Curador-Chefe do Museu de História Natural e da Ciência da U.Porto (MHNC-UP), Mariana Marques, colaboradora externa do MHNC-UP e estudante de doutoramento do CIBIO-InBIO, e Aaron Bauer, professor da norte-americana Villanova University, são os investigadores responsáveis pela descrição e batismo desta nova espécie de víbora arborícola.

As serpentes incluídas no género Atheris, também conhecidas como víboras arborícolas, são venenosas e distribuem-se ao longo das regiões tropicais do continente africano, encontrando-se normalmente associadas a áreas florestais densas. Vivem nos ramos das árvores, aos quais se agarram com recurso à ponta da cauda, que se encontra especializada.

Todas as espécies incluídas neste género partilham uma morfologia muito particular: uma cabeça triangular, com enormes olhos posicionados lateralmente e escamas espinhosas, o que faz com se assemelhem à imagem que temos de um dragão.

Um visual que inspirou os três investigadores a batizar esta nova espécie de serpente com o nome do vocalista dos Metallica, uma das mais famosas bandas de heavy metal do mundo e cuja música os tem vindo a acompanhar nas suas expedições e trabalho de campo na Guiné Equatorial.

James Hetfield dá nome a serpente descoberta por investigadores U.Porto

James Hetfield, vocalista da banda Metallica, foi a inspiração para o nome da nova espécie de serpente venenosa. (Foto: Flickr Alberto Cabello)

A Atheris hetfieldi tem um tamanho máximo de 52 cm e uma coloração esverdeada, tendo, quanto se sabe, uma distribuição limitada à ilha de Bioko, uma ilha vulcânica situada no Golfo da Guiné e completamente coberta por uma densa floresta tropical e marcada pela presença do vulcão San Carlos.

Pouco se sabe sobre a ecologia, história natural e estado de conservação desta nova espécie de serpente, o que, segundo os autores não é surpreendente. Como explica Luís Ceríaco, “a ilha de Bioko encontra-se pouco estudada em termos de biodiversidade, embora se saiba que alberga milhares de espécies de animais e plantas, de entre as quais centenas estão ainda por descrever”.

“Estamos a perder biodiversidade a um ritmo alucinante”

Ao descrever esta espécie, e ao escolher este nome em particular, os autores pretendem também chamar a atenção para a importância extrema de que se reveste o estudo e caraterização da biodiversidade.

Tal como Luís Ceríaco relembra, “estamos a perder biodiversidade a um ritmo alucinante e assustador, e muitas espécies podem extinguir-se mesmo antes de sabermos que existiram”. A preservação destas espécies através da implementação de medidas de conservação adequadas depende do conhecimento que temos das mesmas e um dos primeiros passos nesse sentido é a sua descrição, começando pela atribuição de um nome.

De acordo com o Curador-Chefe do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto, “as estimativas mais recentes sugerem que há um muito maior número de espécies a aguardar por uma descrição formal, do que aquelas que são já conhecidas e que se encontram descritas”.

A descrição da Atheris hetfieldi acaba de ficar guardada para a posteridade com a sua publicação na revista científica Zootaxa.

Recorde-se que Luis Ceríaco e Mariana Marques já haviam estado envolvidos na recente descoberta de três novas espécies de serpentes Boaedon conhecidas como Cobras das Casas Africanas (ou Serpentes Castanhas) – em Angola.