Mais de 52% dos estudantes universitários que enviaram nudes ou outros conteúdos de cariz sexual, pela internet ou telemóvel, não tinha perceção dos riscos associados e 5% destes teve as suas fotografias reencaminhadas para terceiros, sem o seu consentimento. Estas são as principais conclusões de um estudo – divulgado pela Agência Lusa – sobre “Abuso sexual baseado em imagens”, desenvolvido por Patrícia Mendonça Ribeiro, no âmbito da sua tese de mestrado em Ciências da Educação pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP)

O estudo, desenvolvido numa base exploratória, contou com uma amostra de 525 estudantes universitários de todo o país – 86% dos quais do sexo feminino, com uma média de idades de 25 anos – aos quais foi aplicado um questionário anónimo.

Segundo o estudo agora revelado, cerca de 60% dos estudantes afirmaram ter recebido nudes e 41,90% disseram ter enviado esse tipo de imagens de cariz sexual. Os dados mostram também que em 70,32% dos casos em que são enviadas imagens de cariz sexual, o destinatário é o(a) namorado(a).

Por outro lado, 4,5% dos estudantes assumem que enviaram imagens de cariz sexual a “conhecidos apenas virtualmente” e 11,87% a “pessoas que gostavam ou tinham esperança que viesse a existir uma relação”.

Do total de inquiridos, quase 80% indicam que a principal razão para realizar ‘sexting’ (envio de textos e imagens sexualmente sugestivos) é a existência de uma relação com outra pessoa, que dizem ser baseada no “respeito (14,24%), estabilidade (15,81%) e confiança (21,78%). O estudo concluiu ainda que 85% das nudes são enviadas a pessoas do sexo masculino.

Perto de 9% já foi “alvo de ameaças”

Patrícia Mendonça Ribeiro concluiu também que 8,78% dos estudantes do Ensino Superior assume que já foi “alvo de ameaças”, sendo que estas são maioritariamente feitas por indivíduos do sexo masculino.

Quando questionados sobre a reação perante uma situação de violência sexual “online”, mais de 60% indicou que faria queixa. Dos 40% que não manifestou essa vontade, justificaram a decisão com base no “receio de maior exposição, culpabilização e revitimização institucional (27,8%), vergonha (19,4%) e descrença no sistema de ajuda (18,1%)”.

Do total de inquiridos, mais de 90% já ouviu falar em abuso sexual baseado em imagens, mas apenas cerca de 54% sabe do seu reconhecimento enquanto crime em Portugal.

Na sua investigação, Patrícia Mendonça Ribeiro destaca a necessidade de educar para o uso seguro da internet. Em declarações à Agência Lusa, a antiga estudante da U.Porto lembra que é importante “educar para uma sexualidade baseada no respeito, diálogo e consentimento” e “capacitar os jovens para o pedido de ajuda e para a denúncia e não julgamento da vítima/sobrevivente”.