O que é um computador? Para que serve o rato? O que é a internet? Como criar um e-mail? Acha que as perguntas são óbvias? Talvez para a maioria. Mas não para o público alvo do o ICTskills4All, um website – de acesso livre – que acaba de ser lançado pelo Centro de Competências para o Envelhecimento Ativo e Saudável da Universidade do Porto (Porto4Ageing) com o objetivo promover as capacidades e competências digitais de idosos e dos mais desfavorecidos.

Integrado no no âmbito do projeto com o mesmo nome, o ICTskills4All foi desenvolvido ao longo de dois anos, graças ao envolvimento direto de mais de 150 idosos de cinco países europeus (Portugal, Polónia, Lituânia, Reino Unido e Bélgica). Tudo isto numa abordagem colaborativa que incluiu a promoção de cursos presenciais, bem como a realização de vários testes de usabilidade que permitiram adequar os materiais às necessidades dos utilizadores.

“Fizemos testes com vários grupos para garantir que a nossa plataforma é de fácil navegação. Coisas como carregar no ícone de uma lupa para fazer uma pesquisa que, para utilizadores mais experientes parece óbvio, mas para quem está a aprender não é”, explica Liliana Rodrigues, gestora do projeto.

Para além de temas ligados ao manuseamento dos computadores, e de outros suportes digitais, o site aborda ainda assuntos como a segurança online. “Para aferir quais as verdadeiras necessidades de aprendizagem, ministramos cursos presenciais em que concluímos, por exemplo, que a segurança online é um dos temas que suscita mais dúvidas e receio e para o qual é preciso uma abordagem empática”, nota a investigadora.

O lançamento do novo site ganha uma relevância acrescida no contexto de uma pandemia que veio demonstrar ainda mais a importância das competências digitais nos idosos, quando, por exemplo, permite ter consultas médicas online regulares e o acesso a receitas digitais. “Não queremos formar génios da informática, queremos dar-lhes ferramentas para comunicar com o mundo e vice-versa”, reforça Liliana Rodrigues.

Uma ferramenta contra o isolamento

Mas as vantagens do ICTskills4All não ficam por aqui. Segundo Kerolyn Ramos, um dos membros do projeto que deu as aulas presenciais, uma das principais barreiras da aprendizagem era o receio que os alunos tinham de não serem capazes. “Ao longo das sessões que fizemos, uma das nossas grandes funções era encorajar os alunos. Mesmo no fim, quando questionados sobre o que mudariam na sessão, uma das respostas que teve mais ocorrência foi «o meu modo de aprendizagem». É muito importante ter isto em conta quando se produzem materiais para estes grupos, de modo a que não sejam um fator de frustração, mas um facilitador”.

O desenvolvimento do website, que continuará a ser atualizado e traduzido para quatro línguas, permitiu ainda constatar a importância de impulsionar idosos e desfavorecidos a adquirirem e melhorarem suas competências digitais: “Com os grupos com os quais trabalhamos, conseguimos desmistificar o smartphone e
mostrar-lhes a sua versatilidade. Agora temos um grupo no whatsapp, onde os alunos falam quase todos os dias. Tivemos também o caso de uma aluna que estava desempregada e, depois de conseguir fazer o seu currículo, arranjou emprego”.

Para Kerolyn, os resultados vão ainda mais longe: “para além de ajudar a combater o isolamento e lhes dar ferramentas, há também o aumento da autoestima por se perceberem capazes de aprender”.

O ICTskills4all, cujos resultados foram divulgados no passado dia 18 de fevereiro, é um projeto internacional financiado pelo programa Erasmus+ da União Europeia, coordenado pelo Centro de Competências para o Envelhecimento Ativo e Saudável da Universidade do Porto, com parceiros na Bélgica, Letónia, Polónia e Reino Unido