Se fosse vivo, Fernando Távora celebraria em 2013 90 anos de vida. (Foto: DR)

Com ele se diz ter nascido uma nova forma de ensinar e pensar a Arquitetura, que viria a inspirar talentos como Álvaro Siza ou Eduardo Souto Moura. A ele é atribuído o papel de protagonista principal na definição de um olhar moderno sobre o papel da Arquitetura na sociedade, que vigorou em Portugal desde meados da década de 50 do século XX até à atualidade. Tanto que, um dia, coube-lhe a ele dizer de si próprio: “Eu sou a Arquitetura Portuguesa”. No ano em que se assinalam os 90 anos do nascimento de Fernando Távora, é esse percurso que a Universidade do Porto pretende desvendar ao escolher o histórico arquiteto como Figura Eminente da U.Porto 2013.

No seguimento dos eventos evocativos de personalidades eméritas da instituição realizados ao longo da última década, a U.Porto – através da Reitoria, da Faculdade de Arquitetura (FAUP) e da Fundação Instituto Arquitecto José Marques da Silva (FIMS) – vai assim homenagear, até final do ano, um dos maiores vultos da Arquitetura Contemporânea Portuguesa, fundador e mestre da “escola do Porto”. Tudo isto através de um programa alargado de iniciativas abertas a toda a comunidade, em que se procurará celebrar o legado “da pessoa, do cidadão, do arquiteto e do professor” que se conjugam em Távora.

Nome maior na afirmação do Porto enquanto escola de referência no ensino da Arquitetura em Portugal, Fernando Távora (1923 – 2005)notabilizou-se como estudante da Escola de Belas-Artes do Porto – escola fundadora das atuais faculdades de Arquitetura e Belas Artes da U.Porto –, pela qual se diplomou em 1952, com 19 valores. Começava também aí um percurso impar como docente universitário, intimamente ligado à Escola Superior de Belas Artes do Porto (ESBAP), onde começou a lecionar; e à  FAUP, que ajudou a criar (foi Presidente da sua Comissão Instaladora). Numa fase posterior, esteve também envolvido na criação e instalação do Departamento de Arquitectura da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra e do curso de Arquitectura da Universidade do Minho.

Portuense de gema, arquiteto do mundo, que soube, como poucos, fazer a síntese entre a arquitetura tradicional nacional e a arquitetura moderna internacional, Fernando Távora destacou-se pela visão inovadora que procurou afirmar da arquitetura, refletida num forte sentido de responsabilidade social e na importância atribuída ao programa e à funcionalidade da obra. Foi, de resto, essa escola, que viria a “contagiar” Siza Vieira, Souto Moura, entre outros dos seus discípulos, que imprimiu numa obra arquitetónica da qual o Mercado Municipal de Santa Maria da Feira (1953-59), a Casa de Férias no Pinhal de Ofir, em Fão (1957-1958), a reabilitação do Centro Histórico de Guimarães (1985-1992), a ampliação das instalações da Assembleia da República, em Lisboa (1994-1999) ou o restauro do Palácio do Freixo, no Porto (1996-2003), são exemplos paradigmáticos.

Esta será então apenas parte da história que a U.Porto vai revisitar e refletir numa homenagem que arranca já na próxima quinta-feira, 23 de maio, no Salão Nobre da Reitoria (Praça Gomes Teixeira). Com início marcado para as 21h30, a sessão de abertura inclui a leitura de textos de Fernando Távora por Jorge Silva Melo, a projeção de um filme e a apresentação  da publicação “Fernando Távora – ‘minha casa’, fascículo 1, “Prólogo”.

Já na sexta-feira-feira, dia 24, a partir das 14h30, a figura, o pensamento e a ação de Fernando Távora servirão de inspiração para o Encontro de Investigadores que vai reunir vários especialistas na Sala do Fundo Antigo, edifício da Reitoria da U.Porto.

Depois destes momentos inaugurais, o programa de celebrações prossegue até dezembro com um ciclo de eventos centrados sobretudo na FAUP e na Fundação Marques da Silva e que terão como denominador comum o arquivo documental de Fernando Távora, que a família do arquiteto cedeu à FIMS (em regime de depósito/comodato) em 2008 . Entre encontros, exposições e o lançamento de livros, destaca-se a instalação-exposição sobre o projeto-de-arquitetura de Fernando Távora que vai estar patente, de novembro a dezembro, nos espaços do Museu Nacional Soares dos Reis (MNSR). Antes, a 4 de junho, é inaugurada no edifício da FIMS (Praça do Marquês de Pombal, nº 30) a exposição ” Fernando Távora ‘Uma porta pode ser um romance'”. A decorrer ao longo do ano vão estar ainda dois ciclos de conferências em que se cruzarão as histórias de vida e os livros que inspiraram Távora.

O programa de eventos associados ao ciclo ““Figura Eminente da Universidade do Porto, 2013 – Fernando Távora”  pode ser consultado aqui e estará em permanente atualização no site do evento, em http://figuraeminente.up.pt/.