Investigadores aconselham criação de uma Unidade Pediátrica de Queimados

Investigadores aconselham criação de uma Unidade Pediátrica de Queimados

Entre 2000 e 2013, 20% das vítimas de queimaduras em Portugal foram crianças com idade inferior a cinco anos, revela uma equipa do Centro de Investigação em Tecnologias e Sistemas de Saúde (CINTESIS), sedeado na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), que avaliou o impacto clínico e económico das queimaduras em Portugal.

O estudo foi desenvolvido com base nos registos de admissões e altas hospitalares. Durante o período em análise, foram registadas mais de 26 mil hospitalizações por queimadura (como diagnóstico principal ou secundário), numa média de 1.889 registos de queimadura por ano. A taxa de hospitalização registada foi de 18,9 hospitalizações por 100 mil habitantes por ano, sendo a incidência deste tipo de acidente maior entre os homens. Note-se que os estudos epidemiológicos de abrangência nacional são escassos em toda a Europa, com especial carência nos países do Sul.

Segundo este estudo, em Portugal, a taxa de queimados tem vindo a descer nas últimas décadas, mas ainda assim os números nacionais estão acima de outros países europeus, exigindo a tomada de medidas preventivas e curativas por parte dos decisores políticos. “Na década de 90, a taxa de hospitalização de queimaduras em Portugal era de 21,4 por 100.000 habitantes por ano. Esse número, em 2013, baixou para 15,4 por 100.000 habitantes, por ano”. “Esta diminuição é importante, sendo que houve uma aparente estabilização desde 2009”, explica João Vasco Santos, estudante de doutoramento da FMUP e investigador do CINTESIS, acrescentando que foi sobretudo entre os mais jovens que os progressos foram mais evidentes.

A taxa de hospitalização por queimaduras entre as crianças com menos de cinco anos é de 75,5 internamentos por 100 mil habitantes por ano no período em estudo, o que “é cinco vezes maior do que para o resto da população”. “Apesar do elevado impacto das queimaduras entre as crianças portuguesas, o país ainda não dispõe de uma Unidade Pediátrica de Queimados”, salienta o mesmo investigador.

Neste contexto, a equipa de investigação avaliou as necessidades do Sistema Nacional de Saúde, tendo em conta o retrato da situação realizado a partir do estudo de todas as crianças com menos de 16 anos (1.155 no total) hospitalizadas com queimaduras entre 2009 e 2013.

Os resultados mostram que, idealmente, Portugal deveria dispor de 13 camas para crianças vítimas de queimaduras. No entanto, como um grande número de pacientes queimados acaba por não ser transferido para as Unidades especializadas bastaria, no cenário atual, a disponibilização de cinco a sete camas para se garantir que as crianças receberiam cuidados mais apropriados, prestados por equipas diferenciadas e em espaços específicos, devidamente preparados.

Os investigadores avaliaram ainda a distribuição de pacientes pediátricos queimados, tendo concluído que é na zona Norte que se concentra a maioria dos casos. “Se dividirmos Portugal em três áreas, usando como linhas de cortes os locais onde existem Hospitais com Unidade de Queimados (Porto, Coimbra e Lisboa) e Unidades de Cuidados Intensivos Pediátricas, verificamos que no Porto e a Norte se concentraram quase metade (554) dos casos identificados (1.155, no total). Se dividirmos o país em dois, usando como referência Coimbra, concluímos que 677 das crianças afetadas estavam a Norte e as restantes 470 a Sul”, adianta Alberto Freitas, professor da FMUP e especialista em análise de dados do CINTESIS. Por esse motivo, os investigadores apontam o Porto como o local ideal para a criação de uma Unidade Pediátrica de Queimados em Portugal.

Mais de metade dos casos de queimadura em todos os grupos etários (53%) foi provocada por líquidos ou objetos quentes. Seguiu-se o fogo/chamas (40%), queimaduras elétricas (7%) e queimaduras químicas (0,1%). Apesar de dois terços dos pacientes terem tido menos de 10% do corpo queimado,7% apresentavam queimaduras que afetavam mais de 30% de todo o seu corpo. A área da cabeça, face e pescoço é a mais afetada (37% dos casos), seguindo-se os pés e tornozelos (34%) e o tronco (33%).

A equipa de investigação avaliou também os custos económicos relativos a estes pacientes, tendo concluído que, só em 2013, foram gastos mais de 12 milhões de euros, numa média de 8.032 euros por paciente.