Tem obra traduzida, antologiada e publicada em quinze países e é hoje um dos mais reconhecidos poetas contemporâneos no contexto ibero-americano. Hugo Mujica vai marcar presença na Casa Comum da Universidade do Porto (edifício histórico da Reitoria), às 21h30 do dia 2 de maio, para uma conversa com os escritores Valter Hugo Mãe e José Rui Teixeira, com entrada livre para todo o público.

Nascido em Buenos Aires, em 1942, Hugo Mujica estudou Belas-Artes, Filosofia, Antropologia Filosófica e Teologia. Esta multiplicidade de saberes perpassa uma obra que abarca filosofia, antropologia, narrativa, mística, poesia e indagação estética e que tem colocado o autor como uma dos perenes “candidatos” ao Prémio Nobel da Literatura.

Aproveitando uma deslocação do autor argentino a Madrid, o poeta, docente e investigador português José Rui Teixeira, doutorado em Literaturas e Culturas Românicas na Faculdade de Letras da U.Porto (FLUP), não quis deixar escapar esta oportunidade de trazer Hugo Mujica a Portugal.

“É, talvez, a última vez que Mujica vem à Europa e esta será uma oportunidade única de o vermos e ouvirmos antes de voltar a Buenos Aires”, diz.

Do percurso “extraordinário” de Mugo Mujica salienta-se, por exemplo, o facto de ter vivido como artista plástico, em Nova Iorque, na década de 1960, tendo depois ingressado numa congregação religiosa católica que deriva da Ordem de Cister, onde foi ordenado presbítero e cumpriu o voto de silêncio por sete anos. “É um escritor para quem o ato de criar é entendido como um sucessivo renascimento. É um homem com uma grande atividade e um discurso provocador”, reforça José Rui Teixeira.

“É um estudioso da poesia, com um discurso muito próximo da Filosofia”, acrescenta Valter Hugo Mãe. E “não faz favores”, adverte o escritor. “Diz o que tem a dizer sem fazer concessões. É sempre surpreendente ouvi-lo falar”. Seria como podermos ter “uma conversa franca com Eugénio de Andrade, ou António Ramos Rosa. É uma sorte!”, o que torna imperdível esta “raríssima presença de um dos maiores poetas da América Latina no Porto”.

Criar é o momento em que começamos a ser

“Sempre que escrevo, que é a minha forma de criar, descubro, ou talvez inauguro, algo de mim, de mim ou de todos (…)  como se a criação também me ensinasse isso: que criar é mais original do que saber, mais abismal do que compreender, mais definitivo do que agir.” disse Hujo Mujica no Colóquio Internacional Poesia e Transcendência, que se realizou no Centro Regional do Porto da Universidade Católica Portuguesa, em julho de 2015.

“O que procuro dizer, o que procuro pensar poeticamente ou poetizar pensativamente, é que o ato criador, nele e com ele, revivemos o acontecimento mais original e revelador que cada um de nós viveu: o nascer, o momento sem sombra ou memória em que sem ser, nos recebemos, o momento criador que ao recebermos, começamos a ser”, acrescenta

O escritor argentino considera que “cada ato criador nos coloca no sítio onde não há lugar: no nada de onde tudo chega, na escuta do que vem à procura de um nome que o nomeie no seu ser. É, sem dúvida, por esta razão que, uma e outra vez, na escrita destas páginas, eu estava a homologar a criação com o nascimento, o continuar a criar com a continuação do nascer…”.

Hujo Mujica considera que, “Se um deus criou o homem à sua imagem e semelhança ou o homem imaginou esse Deus à sua semelhança, o certo é que quando o ser humano começou a contar a si mesmo o início do mundo em que se encontrava vivo, ele deu como um atributo primordial a esse deus o ser criador, ele disse, intuiu, que criar é o ato mais inicial que um humano ou um deus pode realizar, ou o ato em que um e o outro são o mesmo evento, a mesma fecundidade”. Daí que na “relação cara a cara ou nudez a nudez, com o ser da existência, a criatividade é a relação mais decisiva, tão decisiva, que não podemos descartá-la, tão decisiva que é gratuita. É um dom”.

A capa de “Tudo o que arde morre iluminado” é um pormenor de um quadro de Maria Helena Vieira da Silva, Esplanade (1967).

Tudo o que arde morre iluminando

A antologia é uma “recolha breve, muito feliz e séria” do trabalho poético de Hugo Mujica, diz-nos Valter Hugo Mãe. O que transforma esta obra numa oportunidade “maravilhosa” de entrar no universo “de um dos maiores poetas da América Latina”.

A iniciativa é da Reitoria da Universidade do Porto e da Cátedra Poesia e Transcendência (Universidade Católica). A conversa entre José Rui Teixeira, Valter Hugo Mãe e o poeta argentino Hugo Mujica tem inicio marcado para as 21h30.

Durante a noite será feita a apresentação da antologia da sua poesia: Tudo o que arde morre iluminando, publicada com a chancela Officium Lectionis, em edição bilingue, com tradução para português de Jorge Melícias.