Portugal possui mais de 60 minas de urânio desativadas, sendo que as de maior dimensão foram já alvo de processos de descontaminação. No entanto, nestas áreas mineiras, para além da avaliação do risco da exposição da população a radiação ionizante, emitida pelos radionuclídeos da cadeia de decaimento do urânio, como é o caso do radão, é necessário também avaliar a exposição a metais, alguns com elevada toxicidade ou até mesmo com potencial cancerígeno. Para ajudar a avaliar estes riscos, a Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), através do centro de investigação GreenUPorto, vai integrar o projeto europeu RADONorm – Managing Risks from Radon and NORM, financiado pela Euroatom e coordenado pelo BfS, Gabinete Oficial de Proteção Radiológica da Alemanha.

“As formações geológicas dominadas por granitos, em muitas regiões do país, contribuem também para que a exposição ao radão seja uma realidade que não pode ser negligenciada”, alerta a docente da FCUP e diretora do GreenUPorto, Ruth Pereira.

A pensar nesta realidade, a equipa do RADONorm pretende contribuir para a redução das “incertezas associadas à exposição à radiação ionizante emitida pelo radão e por materiais radioativos de ocorrência natural (do Inglês: naturally occurring radioctive material or NORM) e deste modo melhor gerir os riscos para a saúde humana e para o ambiente”.

Trabalhos arrancam em setembro

O projeto, que arranca em setembro deste ano, preconiza desenvolvimentos científicos e tecnológicos para melhorar a caracterização das exposições humanas e da biota. “Pretende-se por exemplo aperfeiçoar as técnicas de dosimetria, sobretudo para exposições a baixas doses e melhorar o processo de avaliação e de mitigação de riscos”, detalha Ruth Pereira.

“É importante perceber se a exposição a baixas doses constitui ou não um risco”, exemplifica a investigadora, que conta com mais de dez anos de trabalho na avaliação de risco ambiental de minas de urânio desativadas em Portugal, do qual já resultaram dezenas de trabalhos de investigação publicados em revistas de elevado fator de impacto.

O RADONorm irá, assim, apoiar a Comissão Europeia na aplicação da Diretiva 2013/59/Euroatom através de definição de padrões de segurança para exposição a radiação ionizante.

Inventariar locais de exposição a radiação

Para além da FCUP, participam neste projeto – que conta com um financiamento de 18 milhões de euros – mais duas instituições portuguesas: a Universidade de Aveiro e a Associação do Instituto Superior Técnico para a Investigação e Desenvolvimento. Em conjunto, as três instituições terão como missão inventariar os locais de exposição a radiação ionizante emanada por radão e outros radionuclídeos naturais.

No total, o RADONorm conta com a participação de 56 parceiros de 19 estados-membros da União Europeia e do Reino Unido, entre grupos de investigação conceituados e cientificamente reconhecidos, de diferentes áreas disciplinares, provenientes de universidades, centros de investigação e de instituições de proteção radiológica.