Todos iguais e todos diferentes. Fotografia, cinema e três mesas redondas vão ajudar-nos a refletir sobre as diferenças entre gémeos idênticos. Baralhado? As respostas servem-se de 14 a 18 de junho, no Pátio do Polo Central do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto (MHNC-UP), palco escolhido para receber a Semana dos Gémeos: One Event, Two Experiences.

Os gêmeos idênticos são, na realidade, idênticos? A resposta é não. O tema é provocatório, assume Alexandra Matias, facto que a levou a escrever um livro “abrangente e descontraído” sobre o tema. Pode até ser um “livro de cabeceira”, que enumera as “diferenças entre gémeos monozigóticos (MZ) e como lidar com eles”, diz-nos a obstetra e professora da Faculdade de Medicina da U.Porto (FMUP).

De pais e filhos a médicos, de psicólogos a educadores, Developmental and Fetal Origins of Differences in Monozygotic Twins  (escrito em coautoria com Isaac Blickstein, 2020) dirige-se a “um público mais amplo” e aborda as diferenças entre gémeos monozigóticos, assim como as “principais causas de discordância entre gémeos monozigóticos”.

Estaremos perante “uma combinação de influências genéticas, epigenéticas e ambientais” que ocorreram “durante os períodos pré-natal, perinatal e pós-natal”. É esta combinação “complexa e dinâmica de múltiplos fatores” que se conjuga “para moldar o genótipo (constituição genética) e redefinir o fenótipo (de aparência exterior) dos dois indivíduos”, acrescenta Alexandra Matias.

Por motivos profissionais ou outros, é cada vez mais tardia a decisão pela maternidade, o que promove um recurso cada vez mais frequente à procriação medicamente assistida e o consequente aumento do número de gémeos. A “problemática dos gémeos está na ordem do dia”, nota a docente, “nomeadamente os gémeos monozigóticos cuja prevalência está seis vezes aumentada mesmo se só existir transferência de um zigoto (célula-ovo, formada após a união do espermatozoide, ou gameta masculino, com o ovócito, ou gameta feminino)”.

Fotografar a diferença na dualidade quase igual

Partindo então do livro de Alexandra Matias, esta Semana dos Gémeos vai abrir no dia 14 de junho, com a inauguração, às 18h00, nas Galerias da Casa Comum, da exposição 16 fotografias: a voz da alma – diferenças entre gémeos idênticos de Tiago Martins.

Contrariamente ao que seria de esperar, descobertas recentes mostram que as diferenças fenotípicas (características exteriores), assim como genéticas, entre gémeos “idênticos” são a regra e não a exceção. O que torna a expressão “gêmeos idênticos” cada vez mais inadequada.

Nesta exposição, que abrange um arco temporal da vida dos gémeos que vai do nascimento até uma idade mais avançada, Tiago Martins procurou captar, precisamente, as diferenças (quase inesperadas) entre gémeos monozigóticos (vulgo idênticos). São fotografias que procuram ser a extensão artística e a tradução visível da diferença na dualidade quase igual.

Exposição fotográfica aborda a vida dos gémeos “idênticos” desde o nascimento até uma idade mais avançada. (Foto: Tiago Martins)

Muitos ainda são poucos

No mesmo dia 14, fique para assistir, às 18h30, a uma mesa redonda intitulada A multidisciplinaridade na orientação dos gémeos: muitos ainda são poucos, com a participação de Alexandra Matias, Henrique Soares (pediatra), Ana Granjeia (geneticista), Narcisa Bandarra (nutricionista), Maria João Padrão (psicóloga), e Mafalda Gagliardini Graça (juíza).

Sabendo que os gémeos monozigóticos (MZ) podem não ser totalmente idênticos, de que forma se pode reformular a abordagem clínica, acompanhamento, orientação, tratamento, educação e compreensão das possíveis diferenças que possam surgir ao longo da sua vida? O tema é complexo, justifica o naipe multidisciplinar de convidados e, ainda assim, “muitos ainda são poucos”, garante Alexandra Matias.

A 15 de junho, a conversa começa um pouco mais tarde, ou seja, às 21h00. Desta vez, o Pátio do MHNC-UP vai “assistir” à mesa redonda: Os Gémeos nas Artes e No Pensamento, dedicada à discussão de pontos de vista da História da Arte e da Filosofia, sobre a gemelaridade não só como questão biológica e genética, mas como tópico ou referencial artístico, literário e filosófico.

Do cinema à pintura, da mitologia ao pensamento e à cultura, de que forma têm sido apresentados, representados e até omitidos os gémeos? Para ajudar a pensar estas questões estará Nuno Resende, docente da Faculdade de Letras da U.Porto, e José Higuera, investigador do Instituto de Filosofia/Gabinete de Filosofia Medieval da U.Porto) e coordenador do projeto From Data to Wisdom Philosophizing Data Visualizations in the Middle Ages and Early Modernity (13th-17th Century).

Gémeos na educação e psicologia – singularidades e desafios será o tema em debate na mesa redonda de 16 de junho, às 18h30. Áreas como a psicologia e a educação têm já uma longa tradição de estudos de investigação com gémeos, o que permitiu um avanço no conhecimento sobre as características psicológicas, o comportamento humano, o bem-estar e a saúde e também das influências da genética e do ambiente. É dessa tradição que parte esta mesa redonda, lançando o olhar para a vida contemporânea de crianças e jovens e para as singularidades dessas vivências entre iguais/diferentes no contexto da família e da escola.

Participam nesta mesa redonda Isabel Menezes, docente da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da U.Porto (FPCEUP), Iva Tendais, mestre em Saúde Pública (U.Porto) e doutorada em Psicologia Aplicada (U.Minho), Margarida Rangel Henriques, psicóloga, psicoterapeuta e docente da FPCEUP, e Paula Aguiar

A dualidade no cinema

No dia 18 de junho, vamos ao cinema? Às 21h30, no Pátio do MHNC-UP, passa La Double Vie de Veronique de Krzysztof Kieslowsk.

Weronika vive na Polónia e Véronique vive em Paris. Não se conhecem e, entanto, são idênticas: ambas são esquerdinas, gostam de andar descalças, têm o mesmo brilho no olhar, uma voz sublime, um sentido musical absoluto e, acima de tudo, partilham o mesmo problema cardíaco dificilmente detetável. Desconhecem que uma irá beneficiar das experiências e sabedoria da outra. Como se cada vez que a primeira se magoasse com um qualquer objeto, a segunda evitasse tocar no mesmo. É uma história de amor, simples e comovente, de uma vida que continua, deixando um ser para se perpetuar no corpo e alma de outro. Serão gémeas? Nada como vir até cá, e tirar as próprias conclusões.

O filme, com a duração de 98 minutos, será comentado por Dario Oliveira, diretor do Porto/Post/Doc, Festival internacional de Cinema.

Todos os eventos desta Semana dos Gémeos têm entrada livre e gratuita, ainda que sujeita a marcação prévia no portal Eventbrite. Para reservar bilhetes, procure o evento aqui.

O acesso faz-se pela entrada do Museu de História Natural e da Ciência da U.Porto, à Cordoaria.