Contradanças e Quadrilhas Durienses: Um projeto de recolha e divulgação do NEFUP – Núcleo de Etnografia e Folclore da Universidade do Porto é o resultado de um trabalho de recolha de testemunhos e repertórios, desenvolvido in loco, nos concelhos de Baião, Cinfães, Marco de Canaveses e Resende (com extensões a Arouca), no sentido não só de promover, mas, essencialmente, de salvaguardar um património coletivo, imaterial, em risco de sobrevivência.

A história do mais recente lançamento da U.Porto Press começa numa fria e chuvosa noite de sábado. Entramos na antiga escola primária de Noninha, em Arouca, no distrito de Aveiro. Numa das salas, já lá estão grupos de homens e mulheres de várias idades. Há fardos de palha, colocados junto às paredes, a servir de assento improvisado para as mulheres. Os homens, em grupos pequenos, conversavam entre si, aglomerados num outro canto da sala. Ao fundo, ergue-se uma estrutura de madeira (talvez umas três mesas) e que funciona de palco para a orquestra: os Finfas de Nespereira.

Fez-se silêncio, quando os primeiros acordes de música se começaram a ouvir. Lentamente, os homens foram-se dirigindo para a zona das mulheres escolhidas para serem o seu par. Através de um piscar do olho, um sinal com a mão, ou uma leve inclinação com o corpo lá as foram chamando e elas, por sua vez, lá se foram aproximando, mas sem sorrisos ou qualquer vislumbre de conversa. As mais velhas, ficaram sentadas a vigiar o baile. Um dos elementos fundamentais desta cerimónia é o “marcador” que, com palavras, gestos e olhares faz com que os “dançadores” cumpram todas marcações coreográficas fundamentais ao fluir dos passos em palco.

Para não parar a dança

Esta contradança e todo o cerimonial introdutório que, habitualmente, a acompanha, foi observada pelos autores do livro que, assim, puderam conferir presencialmente não só a intrincada filigrana de reações e comportamentos a que a dança obriga, mas também, e em igual proporção, a sua enorme fragilidade.

A dependência de “marcadores” e, num ambiente rural cada vez mais desertificado, de dançadores que partilhem o mesmo código de marcações, são características identitárias que colocam em risco a sobrevivência desta manifestação cultural. Há todo um campo lexical e até caracter repentista de mandos (que varia de marcador para marcador) que o dançadores são obrigados a dominar se quiserem “entrar na dança”. Dito de outra forma, a complexidade e riqueza etnográfica que tornam esta tradição única, são fatores que tornaram ainda mais urgente este esforço de resgate ao seu desaparecimento.

Contradanças e Quadrilhas Durienses faz também uma análise das figuras coreográficas observadas no terreno, sistematizando, registo a registo, os diferentes passos, figuras e mandos, por ordem crescente de complexidade. Há ainda um capítulo com transcrições para partituras das melodias recolhidas durante todo projeto. Isto significa que, para além da recolha e divulgação da diversidade e riqueza destas danças, esta publicação poderá ser também um instrumento de trabalho para quem quiser tocar, dançar, ou até reinventar. Sendo que, a reciclagem também é uma forma de defender este património cultural imaterial que, embora identificado na região duriense, é de uma relevância que não tem fronteiras.

Os autores do livro são Luís Monteiro, presidente do NEFUP e mestre em Ciências do Desporto – Desporto com Crianças e Jovens pela Faculdade de Desporto e Educação Física da U.Porto (FADEUP);  Helena Queirós, vice-presidente do NEFUP, licenciada em Línguas e Literaturas Modernas e mestre em Estudos Anglo-Americanos pela Faculdade de Letras da U.Porto (FLUP); e Daniela Leite Castro, sócia do NEFUP e licenciada em Composição pela ESMAE.

Contradanças e Quadrilhas Durienses pode ser adquirido no portal da U.Porto Press. O livro vai ser lançado no dia 10 de julho, às 18h00, no Pátio do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto. A sessão será acompanhada de alguns momentos musicais a cargo do NEFUP.

Sobre o NEFUP

O Núcleo de Etnografia e Folclore da Universidade do Porto é uma associação de extensão cultural da Universidade do Porto, fundado em 1982 com o objetivo de recolher, estudar e divulgar a etnografia e o folclore portugueses.

Os resultados desse trabalho de pesquisa são apresentados sob a forma de espetáculos encenados, em que a dança, os cantares e as tradições se combinam na evocação de aspetos temáticos marcantes da cultura popular portuguesa.